A representatividade feminina na literatura

08 de março de 2019 às 17:10

Eduardo Villela
A literatura &eacute; um espa&ccedil;o majoritariamente masculino e, obviamente, isso n&atilde;o acontece por que os homens tenham mais capacidade, repert&oacute;rio e melhores hist&oacute;rias para escrever do que as mulheres. Por muito tempo, o impacto de press&otilde;es socioculturais decretava que as mulheres se dedicassem exclusivamente ao lar. Portanto, uma mulher que ousasse ter uma atividade intelectual estava cometendo uma s&eacute;ria transgress&atilde;o. At&eacute; o come&ccedil;o do s&eacute;culo XX, por exemplo, as que se atrevessem a publicar livros usando seus pr&oacute;prios nomes eram severamente criticadas, pois estavam extrapolando o papel a elas designado.<br /> <br /> Esta desvantagem social desde os tempos mais remotos fez com que a produ&ccedil;&atilde;o liter&aacute;ria feminina fosse numericamente inferior &agrave; dos homens at&eacute; os dias atuais. Equivocadamente, isso parece ter gerado um ambiente que associou um tipo de 'padr&atilde;o de qualidade' relacionado &agrave; produ&ccedil;&atilde;o textual masculina.<br /> <br /> Em uma triste compara&ccedil;&atilde;o, podemos falar de Emily Bront&euml;, que lan&ccedil;ou o cl&aacute;ssico O Morro dos Ventos Uivantes em 1847, e de J.K. Rowling, que lan&ccedil;ou o primeiro livro da s&eacute;rie Harry Potter em 1997. Com 150 anos que separam a publica&ccedil;&atilde;o dos dois livros, as duas escritoras inglesas usaram pseud&ocirc;nimos masculinos para suas obras. Bront&euml; assinava como Ellis Bell, pois na &eacute;poca mulheres n&atilde;o podiam ser escritoras e Joanne Rowling?(o K &eacute; uma homenagem a sua av&oacute;, Kathleen?), um s&eacute;culo e meio depois, foi aconselhada por seus editores a adotar a abrevia&ccedil;&atilde;o &quot;J. K.&quot; por acreditarem que o p&uacute;blico n&atilde;o leria o livro se soubesse que havia sido escrito por uma mulher.<br /> <br /> &Eacute; f&aacute;cil constatar esta realidade tamb&eacute;m atrav&eacute;s da an&aacute;lise de algumas das principais premia&ccedil;&otilde;es e eventos liter&aacute;rios do mundo: o pr&ecirc;mio Nobel de Literatura, por exemplo, existe desde 1901, mas s&oacute; foi concedido a 14 mulheres em sua hist&oacute;ria; a Flip, Festa Liter&aacute;ria de Paraty, j&aacute; teve 16 edi&ccedil;&otilde;es e entre os escritores convidados, o n&uacute;mero de homens &eacute; muito maior ao de mulheres; a Academia Brasileira de Letras tem 40 membros, mas apenas cinco mulheres.<br /> <br /> No entanto, assim como em todas as outras esferas sociais, na literatura as mulheres tamb&eacute;m ocupam seu espa&ccedil;o cada vez mais. Escritoras como Mary Shelley, Virginia Woolf, Agatha Christie, Simone de Beauvoir e Florbela Espanca abriram passagem para que, no mundo, outras tamb&eacute;m pudessem disseminar seus anseios e viv&ecirc;ncias atrav&eacute;s dos livros. No Brasil, o caminho foi trilhado por nomes como Raquel de Queiroz, Cec&iacute;lia Meireles, Carolina de Jesus, Ruth Guimar&atilde;es, Clarice Lispector, Z&eacute;lia Gattai, Cora Coralina, Lygia Fagundes Telles, Ana Maria Machado entre outros tantos.<br /> <br /> &Eacute; inquestion&aacute;vel: a presen&ccedil;a de mulheres na literatura &eacute; t&atilde;o fundamental quanto em outras tantas &aacute;reas em que o feminino ganhou representatividade ao longo dos tempos. Hoje em dia existe um grande n&uacute;mero de escritoras que conquistaram sucesso arrebatador com livros das mais diferentes tem&aacute;ticas e para variados p&uacute;blicos. Bons exemplos s&atilde;o Alice Munro, vencedora do Nobel de Literatura em 2013, a pr&oacute;pria J. K. Rowling, que mesmo ap&oacute;s ter sua real identidade descoberta, encantou crian&ccedil;as, adolescentes e jovens com seu mundo de seres m&aacute;gicos, Stephenie Meyer, autora de Crep&uacute;sculo, que fez adolescentes e jovens suspirarem por vampiros e E. L. James, escritora de Cinquenta Tons de Cinza, que tirou o f&ocirc;lego do p&uacute;blico adulto com seus protagonistas intensamente apaixonados.<br /> <br /> Falando ainda de uma remessa de nov&iacute;ssimas escritoras, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, do premiado romance Americanah, e as brasileiras Paula Pimenta (Minha Vida Fora de S&eacute;rie), Thalita Rebou&ccedil;as (Tudo Por Um Pop Star) e Babi Dewet (S&aacute;bado &agrave; Noite) - com quem tive o prazer de trabalhar &ndash; tamb&eacute;m s&atilde;o parte de uma lista de autoras que representam a importante e imprescind&iacute;vel participa&ccedil;&atilde;o da mulher na literatura.<br /> <br /> &Eacute; claro que ainda estamos longe do ideal, mas &eacute; not&oacute;rio que novas escritoras a cada dia conquistam mais espa&ccedil;o no mercado editorial. E nesse cen&aacute;rio, felizmente, ganhamos todos. Afinal, o que seria de n&oacute;s, leitores, sem as obras que tratam das mais diversas e complexas quest&otilde;es da vida sem o olhar sens&iacute;vel, detalhista e perspicaz da mulher?<br /> <br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_eduardo-villela_book-advisor .jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Eduardo Villela</i></b> &eacute; book advisor e, por meio de assessoria especializada, ajuda pessoas, fam&iacute;lias e empresas na escrita e publica&ccedil;&atilde;o de suas obras. Mais informa&ccedil;&otilde;es em www.eduvillela.com