A Água é um negócio ou um direito?

20 de março de 2019 às 08:45

Marcus Nakagawa
Temos muitas raz&otilde;es para lembrar da import&acirc;ncia do Dia Mundial da &Aacute;gua, institu&iacute;do pela ONU em 22 de mar&ccedil;o de 1992. Algumas delas, como a quantidade de &aacute;gua pot&aacute;vel no planeta ou a porcentagem de &aacute;gua do corpo do ser humano, s&atilde;o dados que acabamos aprendendo na escola, por&eacute;m, muitas vezes esquecemos ou n&atilde;o ligamos. Mas quando falta &aacute;gua ou quando &eacute; demasiado o montante, vide as enchentes desta &eacute;poca no sudeste do pa&iacute;s, vira tema de jornais, notici&aacute;rios e redes sociais. E o mais interessante &eacute; que, rapidamente, todos viram especialistas sobre o tema e defendem ou atacam.<br /> <br /> Um dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustent&aacute;vel (ODS) da ONU, estabelecido em 2015, como um &ldquo;sonho&rdquo; comum dos seres humanos deste planeta, &eacute; o ODS n&uacute;mero 6, que &eacute; sobre &ldquo;&Aacute;gua Pot&aacute;vel e Saneamento&rdquo;. Neste ODS 6 (<a href="https://nacoesunidas.org/pos2015/ods6" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>https://nacoesunidas.org/pos2015/ods6</u></i></span></a>) o objetivo &eacute; assegurar a disponibilidade e a gest&atilde;o sustent&aacute;vel da &aacute;gua e saneamento para todos. E quebra em mais metas, como at&eacute; 2030 alcan&ccedil;ar o acesso universal e equitativo a &aacute;gua pot&aacute;vel e segura para todos.&nbsp; E tem uma meta muito instigante, que &eacute; apoiar e fortalecer a participa&ccedil;&atilde;o das comunidades locais para melhorar a gest&atilde;o da &aacute;gua e saneamento. S&atilde;o seis metas neste objetivo e dois subt&oacute;picos.<br /> <br /> Por&eacute;m, com toda esta clareza, muitos especialistas na &aacute;rea h&iacute;drica batalhando para mostrar a import&acirc;ncia deste bem essencial aos seres humanos, congressos, discuss&otilde;es, por que ainda, segundo a p&aacute;gina da ONU (<a href="https://nacoesunidas.org/acao/agua/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>https://nacoesunidas.org/acao/agua/</u></i></span></a>), milh&otilde;es de toneladas de esgoto tratado inadequadamente e res&iacute;duos agr&iacute;colas e industriais s&atilde;o despejados nas &aacute;guas de todo o mundo?<br /> <br /> Grandes empresas acabam n&atilde;o gerenciando os seus riscos ambientais e poluindo rios e mares com os seus produtos ou subprodutos do seu processo produtivo como vemos no Brasil e no mundo. Dois ter&ccedil;os da popula&ccedil;&atilde;o mundial em 2017 vivem em &aacute;reas que passam pela escassez de &aacute;gua pelo menos um m&ecirc;s por ano.&nbsp; Relat&oacute;rios sobre estes dados s&atilde;o feitos anualmente como o Relat&oacute;rio Mundial das Na&ccedil;&otilde;es Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos H&iacute;dricos (World Water Development Report &ndash; WWDR) (<a href="http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/wwdr/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/wwdr/</u></i></span></a>). Ent&atilde;o, o problema n&atilde;o &eacute; a falta de pesquisas, dados ou alertas de especialistas e estudiosos.<br /> <br /> Temos inclusive uma lei no Brasil, segundo a p&aacute;gina do Minist&eacute;rio do Meio Ambiente (MMA) (<a href="http://www.mma.gov.br/agua.html" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>http://www.mma.gov.br/agua.html</i></u></span></a>), desde janeiro de 1997, conhecida como Lei das &Aacute;guas que instituiu a Pol&iacute;tica Nacional de Recursos H&iacute;dricos (PNRH). Ela coloca que a &aacute;gua &eacute; considerada um bem de dom&iacute;nio p&uacute;blico e um recurso natural limitado, dotado de valor econ&ocirc;mico. Esta gest&atilde;o da &aacute;gua deve proporcionar os seus v&aacute;rios usos de forma descentralizada e participativa. E tem que contar com a participa&ccedil;&atilde;o do Poder P&uacute;blico, dos usu&aacute;rios e da comunidade. E se tiver uma situa&ccedil;&atilde;o de escassez o uso priorit&aacute;rio &eacute; para o consumo humano e para a dessedenta&ccedil;&atilde;o de animais.&nbsp; E o segundo artigo da Lei &eacute; mais bacana: &ldquo;Assegurar a disponibilidade de &aacute;gua de qualidade &agrave;s gera&ccedil;&otilde;es presentes e futuras, promover uma utiliza&ccedil;&atilde;o racional e integrada dos recursos h&iacute;dricos e a preven&ccedil;&atilde;o e defesa contra eventos hidrol&oacute;gicos (chuvas, secas e enchentes), sejam eles naturais, sejam decorrentes do mau uso dos recursos naturais&rdquo;.<br /> <br /> Pois &eacute;, estamos assegurados, mas para que isso aconte&ccedil;a temos que estar cientes e cobrar dos governantes, ou seja, educar as pessoas para este conhecimento. Um conhecimento essencial para a nossa sobreviv&ecirc;ncia, lembrando mais uma vez que a &aacute;gua &eacute; uma das bases da nossa vida.<br /> <br /> As empresas sabem disso muito bem, principalmente, para que seus neg&oacute;cios continuem, tenham perenidade e se sustentem. As empresas de bebidas alc&oacute;olicas e n&atilde;o alc&oacute;olicas, por exemplo, dependem da &aacute;gua como o seu insumo principal. A agricultura e a pecu&aacute;ria dependem deste recurso para trabalhar e produzir. A minera&ccedil;&atilde;o, as montadoras, os megacomputadores dos bancos e muitas outras empresas dependem da energia que vem da &aacute;gua das hidrel&eacute;tricas, nossa maior matriz. Ou seja, a &aacute;gua &eacute; essencial na nossa cadeia produtiva e no PIB do pa&iacute;s. Tenho um grande amigo professor que sempre dizia que, na verdade, n&atilde;o exportamos gr&atilde;os, cana, carne, min&eacute;rio de ferro ou qualquer outro insumo para os outros pa&iacute;ses. Na verdade, exportamos &aacute;gua em forma de carne, gr&atilde;os, min&eacute;rio de ferro, etc. Os nossos principais neg&oacute;cios dependem diretamente ou indiretamente da &aacute;gua.<br /> <br /> A &aacute;gua &eacute; um dos pilares da economia brasileira e s&oacute; continuaremos tendo esta abund&acirc;ncia se cuidarmos das nossas fontes, n&atilde;o poluirmos e tudo o que geralmente se aprende na escola (de novo). Mas precisamos sair do conceito e das leis escritas e passarmos para a a&ccedil;&atilde;o, cobran&ccedil;a e fiscaliza&ccedil;&atilde;o. E isso &eacute; trabalho do governo, da sociedade e das empresas. Se n&atilde;o fizermos isso urgente n&atilde;o conseguiremos &ldquo;<i><b>assegurar a disponibilidade de &aacute;gua de qualidade &agrave;s gera&ccedil;&otilde;es presentes e futuras</b></i>&rdquo;.<br /> <br /> Comemore, estude, engaje mais pessoas e ajude a garantir o nosso futuro!<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_marcus-nakagawa_professor-da-espm.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> Marcus Nakagawa</i></b> &eacute; professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e diretor da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Autor dos livros: 101 Dias com A&ccedil;&otilde;es Mais Sustent&aacute;veis para Mudar o Mundo e Marketing para Ambientes Disruptivos. <a href="http://www.marcusnakagawa.com/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>www.marcusnakagawa.com</u></i></span></a>, <a href="http://www.blogmarcusnakagawa.com/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>www.blogmarcusnakagawa.com</u></i></span></a><br />