Qual o caminho da política comercial brasileira?
08 de abril de 2019 às 09:48
Cintia Rubim
O recente aumento das taxas de importação sobre o leite em pó integral e desnatado oriundo da União Europeia foi comemorado pelo setor produtor. No dia 06 de fevereiro, com o fim da tarifa antidumping anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que protegia o setor desde 2001, esse setor ficou exposto à concorrência externa desleal de países que tradicionalmente subsidiam fortemente a produção de leite em seus países, como Nova Zelândia e grande parte da Europa. A tarifa antidumping previa uma taxação de 14,8% sobre o leite em pó advindo da União Europeia e de 3,9% do proveniente da Nova Zelândia, taxas essas que eram cobradas como forma de equilibrar o mercado interno. As medidas antidumping são pedidas por empresas ou entidades contra exportadores de países quando há evidências de que eles estão vendendo seus produtos para o Brasil a preços mais baixos do que os cobrados em seus mercados internos. A defesa da atual equipe da pasta de Economia era a de que nem sempre se podia comprovar a prática abusiva dos países exportadores.<br />
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A medida da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia gerou desconforto e insatisfação para o setor produtor de leite, que contempla cerca de 1,17 milhão de estabelecimentos, sendo grande parte composta por pequenos agricultores familiares. A notícia contrariou a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e foi criticada por ruralistas. Produtores do leite passaram a pressionar a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, cobrando um novo tributo ao produto importado.<br />
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Na tentativa de desfazer esse mal-estar do governo com o setor e considerando que parte deste inclusive apoiou a eleição do presidente Jair Bolsonaro, o ministério da Agricultura anunciou, dia 12 de fevereiro, um aumento na tarifa de importação que contemplaria os 14,8% extintos mais os 28% da alíquota de importação do leite que se aplica hoje, referente à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul. O presidente Bolsonaro mostrou-se satisfeito com tal desfecho, publicando em sua página no Twitter: “Comunico aos produtores de leite que o governo, tendo à frente a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, manteve o nível de competitividade do produto com outros países. Todos ganharam, em especial os consumidores do Brasil”.<br />
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Parece ter havido uma discordância dentro do Governo entre as pastas da Economia e da Agricultura, uma tendo se mostrado favorável à liberalização comercial e a outra se colocando a favor do setor produtor brasileiro. Ora, sabemos que abrir determinados setores à exposição da concorrência internacional pode ser desastroso para aqueles que concorrem com práticas de proteção que tornam o preço no mercado internacional impossível de ser alcançado, por ser abaixo do custo de produção.<br />
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A orientação do Ministério da Economia, claramente, é no sentido da abertura comercial, uma vez que, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), estão em revisão 37 medidas antidumping e outras 39 vencem ao longo de 2019 e terão que ser analisadas novamente, além da intenção já apresentada da realização de novos acordos bilaterais internacionais. <br />
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Entretanto, há de se pensar que os efeitos esperados quanto ao aumento da produtividade e do choque tecnológico positivo capaz de promover o crescimento econômico certamente não serão os mesmos para todos os setores - e as pastas do governo devem estar alinhadas quanto ao equilíbrio entre abertura comercial e defesa dos setores sensíveis, de modo a passar credibilidade e segurança aos segmentos produtivos, com regras claras e definidas, capazes de sustentar o crescimento econômico, porém, sem prejuízos a setores nacionais.<br />
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Por <i><b>Cintia Rubim</b></i> é doutora em Desenvolvimento Econômico e coordenadora do curso de Economia da Universidade Positivo.