100 dias de Governo Bolsonaro

15 de abril de 2019 às 17:30

Rodrigo Augusto Prando
O Governo de Jair Bolsonaro apresenta o pior &iacute;ndice de aprova&ccedil;&atilde;o de um presidente rec&eacute;m-eleito, desde Collor. Com isso, nesses primeiros 100 dias de a&ccedil;&atilde;o a chamada &ldquo;lua de mel&rdquo; com a opini&atilde;o p&uacute;blica foi inexistente e, por incr&iacute;vel que pode parecer, praticamente todos os problemas e crises enfrentadas foram geradas dentro do pr&oacute;prio governo, seja por declara&ccedil;&otilde;es desastradas de Bolsonaro, de seus filhos, de seus ministros ou de membros de seu partido, o PSL.<br /> <br /> A maioria dos analistas, portanto, avaliam como negativos esses 100 primeiros dias, seja no plano nacional ou internacional. Os bolsonaristas, que s&atilde;o diferentes dos eleitores de Bolsonaro, correm para afirmar que &eacute; pouco tempo, que o estrago do lulopetismo foi bem grande e estendeu por cerca de 16 anos. H&aacute;, apenas, parte de verdade na afirma&ccedil;&atilde;o. Os 100 dias de um governo &eacute; uma amostra, como, para o m&eacute;dico, uma amostra de sangue.<br /> <br /> N&atilde;o se retira todo o sangue de um paciente para detectar uma doen&ccedil;a, como n&atilde;o se espera metade de um mandato para se avaliar as a&ccedil;&otilde;es governamentais. Em termos positivos, h&aacute; dois ministros que d&atilde;o sustenta&ccedil;&atilde;o racional ao governo: Paulo Guedes, na Fazenda e S&eacute;rgio Moro na Justi&ccedil;a; o primeiro se esfor&ccedil;a para dar conte&uacute;do e forma &agrave; Reforma da Previd&ecirc;ncia e o segundo apresentou um pacote anticrime, que j&aacute; sofreu descaracteriza&ccedil;&atilde;o e est&aacute; em compasso de espera, tendo perdido for&ccedil;a pol&iacute;tica. Outro ponto a ser destacado &eacute; a racionalidade e certa estabilidade oriunda no n&uacute;cleo militar do governo e, ainda nesta seara, a boa atua&ccedil;&atilde;o do vice-presidente, Hamilton Mour&atilde;o. J&aacute; o presidente Jair Bolsonaro s&oacute; na &uacute;ltima semana fez um gesto de aproxima&ccedil;&atilde;o com os l&iacute;deres dos partidos pol&iacute;tico, porque at&eacute; h&aacute; pouco todos eram chamados de membros da &ldquo;velha pol&iacute;tica&rdquo;. Deu-se, assim, nestes primeiros meses a manuten&ccedil;&atilde;o de um discurso de campanha e, por isso, Bolsonaro n&atilde;o compreendeu a liturgia do cargo e nem a import&acirc;ncia do papel de lideran&ccedil;a que o presidente da rep&uacute;blica exerce.<br /> <br /> O fato de Bolsonaro gostar e se dar bem nas redes sociais fez com ele continuasse a se concentrar naquele p&uacute;blico que j&aacute; lhe &eacute; fiel, j&aacute; convertido, deixando de lado os demais brasileiros. As confus&otilde;es entre interesses familiares e do Estado foram, in&uacute;meras vezes, sentidos, at&eacute; o ponto de um ministro de Estado ser demitido por antipatia de um dos filhos do presidente. Muitos dos seus ministros &ndash; sem a lideran&ccedil;a do presidente &ndash; foram de uma incompet&ecirc;ncia singular, falando bobagens, paralisando seus minist&eacute;rios e, tamb&eacute;m, apresentando curr&iacute;culos inver&iacute;dicos em suas biografias. O pior, em tudo, foi conjugar a ret&oacute;rica de campanha com a falta de articula&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, que n&atilde;o foi feita nem pelo presidente e nem por seus ministros ou por l&iacute;deres de seu partido. Ali&aacute;s, o PSL mostrou-se um amontado de personalidades, mas sem organicidade e uma lideran&ccedil;a capaz de dar sentido e rumo &agrave;s dimens&otilde;es da pol&iacute;tica seja no parlamento seja junto &agrave; sociedade. No plano internacional, as declara&ccedil;&otilde;es de inten&ccedil;&otilde;es foram, muitas vezes, no sentido oposto da tradi&ccedil;&atilde;o de nossa diplomacia e as visitas presidenciais (Davos, EUA, Chile e Israel) trouxeram mais problemas que solu&ccedil;&otilde;es at&eacute; agora.<br /> <br /> Houve, enfim, um governo sem l&iacute;der, um presidente e ministros mais ligados &agrave;s posi&ccedil;&otilde;es ideol&oacute;gicas do que capazes de governar com estrat&eacute;gia. Esses 100 primeiros dias foram ruins. Pode, se quiserem, melhorar, mas depender&aacute; de esfor&ccedil;o individual e coletivo. Talvez, a s&iacute;ntese do governo tenha sido o ministro da Educa&ccedil;&atilde;o, Ricardo V&eacute;lez Rodriguez: despreparado, confuso, ideol&oacute;gico e inoperante. Bolsonaro dever&aacute; assumir as r&eacute;deas de seu governo ou, ent&atilde;o, outros poder&atilde;o fazer isso.<br /> <br /> <b><i>Rodrigo Augusto Prando</i></b> &eacute; Cientista Pol&iacute;tico e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. &Eacute; Bacharel e Licenciado em Ci&ecirc;ncias Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.