AS MANIFESTAÇÕES CONTRA O GOVERNO BOLSONARO

16 de maio de 2019 às 17:25

Rodrigo Augusto Prando
A quarta-feira, 15/05/19, foi palco da maior manifesta&ccedil;&atilde;o contra o Governo Bolsonaro, especialmente em rela&ccedil;&atilde;o ao contingenciamento (termo do governo) ou corte (termo dos opositores) de recursos para a &aacute;rea da educa&ccedil;&atilde;o. A manifesta&ccedil;&atilde;o, creio, n&atilde;o pode ser tomada por uma fotografia da realidade e sim como um filme que assistimos desde o in&iacute;cio da atual gest&atilde;o.<br /> <br /> Singularmente, a tomada das ruas nos remete &agrave; recente mem&oacute;ria das manifesta&ccedil;&otilde;es em 2013 e dos protestos contra o PT e a favor do impeachment da Presidente Dilma. Assim, sempre que tais eventos ocorrem, acende uma luz de alerta nos governantes, em particular, e na classe pol&iacute;tica em geral. Pol&iacute;ticos n&atilde;o querem e temem manifesta&ccedil;&otilde;es massivas que tomam as ruas do pa&iacute;s. Em entrevista r&aacute;pida, o Vice-Presidente, Hamilton Mour&atilde;o, foi de uma clareza &iacute;mpar ao explicar a diferen&ccedil;a de corte e contingenciamento, bem como afirmou que a presen&ccedil;a do ministro da Educa&ccedil;&atilde;o, Abraham Weintraub, na C&acirc;mara dos Deputados, seria excelente oportunidade para que ele possa &quot;explicar direitinho&quot; o cen&aacute;rio. E, por fim, Mour&atilde;o arrematou criticando a comunica&ccedil;&atilde;o err&aacute;tica do pr&oacute;prio governo. Em s&iacute;ntese, em poucos minutos o vice foi capaz de fazer aquilo que nem o presidente e nem o ministro conseguiram at&eacute; agora.<br /> <br /> Bolsonaro, dos EUA, afirmou que os manifestantes s&atilde;o &quot;idiotas &uacute;teis&quot; e &quot;massa de manobra&quot;. Obviamente, houve no protesto presen&ccedil;a de partidos de oposi&ccedil;&atilde;o, de sindicatos e movimentos de esquerda. Isso &eacute; ineg&aacute;vel. Todavia, afirmar, peremptoriamente, que s&atilde;o idiotas e massa de manobra &eacute; desconhecer a pr&oacute;pria din&acirc;mica de uma sociedade em rede e hiperconectada. Collor n&atilde;o entendeu os primeiros protestos contra seu governo; Dilma tamb&eacute;m n&atilde;o, chamando, emergencialmente, Lula e seu marqueteiro para entender o quadro ent&atilde;o em voga. A forma como o atual ministro conduz sua pasta &eacute; assentada numa vis&atilde;o estreita e equivocada sobre a educa&ccedil;&atilde;o brasileira, cujo objetivo &eacute; eleger inimigos a serem eliminados: Paulo Freire, Filosofia, Sociologia e as Humanidades. Atacar a universidade p&uacute;blica tem consequ&ecirc;ncias internas e externas: a rea&ccedil;&atilde;o vem da comunidade acad&ecirc;mica e da sociedade.<br /> <br /> No plano mais geral, a manifesta&ccedil;&atilde;o &eacute; parte de um filme e a&iacute; reside o maior problema de Bolsonaro. Conjuga-se, neste momento, 1) uma massiva manifesta&ccedil;&atilde;o com 2) uma popularidade que despencou de janeiro at&eacute; mar&ccedil;o e 3) com a incapacidade do governo de fazer pol&iacute;tica e formar uma base que d&ecirc; sustenta&ccedil;&atilde;o &agrave;s a&ccedil;&otilde;es governamentais. Bolsonaro insistiu no discurso de campanha mesmo j&aacute; empossado. Dividiu a todos em &quot;nova&quot; e &quot;velha&quot; pol&iacute;tica, interditando o di&aacute;logo, a negocia&ccedil;&atilde;o com partidos, lideran&ccedil;as e demais atores pol&iacute;ticos. A pr&oacute;pria convoca&ccedil;&atilde;o de Weintraub para se explicar na C&acirc;mara &eacute; s&oacute; uma das v&aacute;rias derrotas sofridas pelo Planalto. Dilma, &agrave; sua &eacute;poca, irritou o eleitorado, a sociedade, n&atilde;o ouviu e n&atilde;o entendeu as vozes das ruas, irritou a classe pol&iacute;tica e cometeu crime de responsabilidade. Bolsonaro, at&eacute; onde sabemos, n&atilde;o tem problemas com a Justi&ccedil;a. No mais, Bolsonaro j&aacute; &quot;dilmou&quot;. A depender da resposta governamental, as manifesta&ccedil;&otilde;es podem tomar outras dimens&otilde;es e, com isso, deteriorar ainda mais um governo precocemente desgastado.<br /> <br /> Governar elegendo inimigos (imprensa, universidade, esquerdas, marxismo cultural, etc.) tem seu pre&ccedil;o: anima os bolsonaristas, mas leva &agrave;s ruas milh&otilde;es de vozes plurais, n&atilde;o apenas partidos ou movimentos. Bolsonaro flerta com algo que pode fugir do controle e colocar sua governabilidade em xeque. <br /> <br /> <b><i>Rodrigo Augusto Prando</i></b> &eacute; Cientista Pol&iacute;tico e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. &Eacute; Bacharel e Licenciado em Ci&ecirc;ncias Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.<br />