A Civilização do Ouro
25 de maio de 2019 às 09:44
Petrônio Souza
Para Eugênio Ferraz<br />
<br />
O Ciclo do Ouro em Minas Gerais não foi um período, mas uma civilização: Essa civilização deu a Minas o primeiro governador aclamado pelo povo em ato revolucionário, o português originário Manuel Nunes Viana. Ao Brasil o mais belo momento das artes nacionais: o Barroco Mineiro, em toda sua opulência, exuberância, beleza e formas. Ao país, o Patrono das Artes no Brasil: Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Às Letras nacionais, o Arcadismo eterno, renascido no cume de suas montanhas de ferro. À Pintura, o elo libertário nas naves das igrejas com as cores celestiais do mestre Manuel da Costa Ataíde. À Nação, o mais elevado movimento cívico, ideológico, político e cultural: A Inconfidência Mineira. À Pátria, o herói nacional Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. À Humanidade, três monumentos mundiais, os centros históricos de Diamantina e Ouro Preto e os profetas que miram o céu clamando por respostas, de Aleijadinho, no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo. <br />
<br />
A Civilização do Ouro tinha moeda própria, contabilizada em onças/gramas de ouro. Tudo era taxado em onças de ouro, do alimento ao preço de escravos. Uma língua nova, nascida da fusão do português de Portugal, com o Tupi-Guarani nativo e o africano, abarcando os vários dialetos em suas várias origens. Nas Artes, uma linguagem única; o Barroco Mineiro, tão brasileiro que se dividiu em três. O encontro de várias religiões e diferentes cultos trouxe formas impensadas de manifestações religiosas, indo do monoteísmo absolutista ao politeísmo das noites enluaradas, sem entrelaçando e somando sem maiores conflitos. Uma música tão inusitada, que da matriz pré-clássica europeia incorporou-se os cânticos e ritmos negros aos instrumentos e sons indígenas, compondo uma nova toada na pauta ensolarada da clave de lua.<br />
<br />
A Civilização do Ouro forjou-se no encontro de oportunidades e possibilidades, muito além de conceitos, ideologia ou matriz inicialmente estabelecida. Aqui as coisas nasceram não da opulência faustica paradisíaca, mas na fria realidade de sobrevivência, de sua primaz permanência. <br />
<br />
As riquezas de todas as ordens se fundiram harmoniosamente ao ouro, gerando uma terceira paisagem. A culinária buscou na vegetação nativa o que lhe faltava para matar a fome dos nobres e dos rudes. O bambu ancestral transmutou-se em iguaria sem igual. As frutas tropicais em doces de cristalinos adornos. Minas além da cozinha é a sala servindo doces, os mais diversos e fartos nesse país de sonhos e frutas temporais.<br />
<br />
A Civilização do Ouro foi tão intensa e densa que sua pujança artística perdura até os dias de hoje, diluída em várias manifestações e diferentes criações. A hegemonia da Civilização do Ouro mais que no plano econômico se deu sobretudo no plano cultural, elevando e levando as Minas Gerais como um local natural das artes. A cultura mineira nasceu no garimpar dessa bateia de ouro, alicerçada em uma civilização que fez história na mais prematura aurora. <br />
<br />
Por <i><b>Petrônio Souza</b></i> é jornalista e escritor