Qual o futuro da mídia impressa?

25 de maio de 2019 às 10:05

Cezar Taurion
<div style="text-align: center;"><img src="/uploads/image/img_qual-o-futuro-da-midia-impressa.jpg" alt="" width="450" height="265" align="middle" /></div> <br /> <i><b>Os leitores do papel acabar&atilde;o se tornando leitores digitais? Ser&aacute; que eles v&atilde;o gastar tanto tempo consumindo jornalismo em seus smartphones quanto gastavam lendo o papel? Ser&aacute; que a aten&ccedil;&atilde;o deles continua focado no jornal ou vagueia pela Internet?</b></i><br /> <br /> A transforma&ccedil;&atilde;o dos neg&oacute;cios pela revolu&ccedil;&atilde;o digital afeta todo e qualquer setor. Vamos olhar as revistas e jornais impressos, que est&atilde;o sofrendo sangria em assinantes e anunciantes. Perdem leitores e consequentemente, perdem interesse dos anunciantes. Embora apostem nas vers&otilde;es digitais para se manterem funcionando, a receita do digital n&atilde;o vem recompondo a perda das receitas originais. Mais cedo ou mais tarde os &ldquo;<b><i>custos de impress&atilde;o</i></b>&rdquo; (parques gr&aacute;ficos s&atilde;o caros) ser&atilde;o bem maiores que a &ldquo;<b><i>receita de impress&atilde;o</i></b>&rdquo; e ser&aacute; a hora de parar as impressoras de vez. A &uacute;nica quest&atilde;o &eacute; quando, se em 2, 5 ou 10 anos?<br /> <br /> O que vai acontecer quando os jornais impressos desaparecerem? Os leitores do papel acabar&atilde;o se tornando leitores digitais? Ser&aacute; que eles v&atilde;o gastar tanto tempo consumindo jornalismo em seus smartphones quanto gastavam lendo o papel? Ser&aacute; que a aten&ccedil;&atilde;o deles continua focado no jornal ou vagueia pela Internet? Na minha opini&atilde;o sinto que a tend&ecirc;ncia &eacute; serem distra&iacute;dos, pulando de um link para outro, al&eacute;rgicos &agrave; profundidade.<br /> <br /> Por outro lado, vemos que o tempo gasto pelas pessoas conectadas &agrave; Internet &eacute; muito maior que o tempo que era gasto lendo jornais. Este tempo est&aacute; sendo gasto nas redes sociais (que hoje &eacute; a maior fonte de not&iacute;cias) e em apps de uso geral.<br /> <br /> Somando tudo vemos que a maioria das pessoas que deixam o impresso n&atilde;o v&atilde;o para assinatura digital, pois tem acesso a informa&ccedil;&otilde;es gratuitas na Internet, usam redes sociais e est&atilde;o pouco afeitos &agrave; profundidade, preferindo pular de not&iacute;cia superficial em not&iacute;cia superficial. Portanto, para que pagar por assinatura?<br /> <br /> Como os jornais n&atilde;o conseguem acompanhar a velocidade da Internet e das redes sociais, seu apelo a jornalismo gen&eacute;rico mais aprofundado n&atilde;o desperta interesse. Ao optarem por serem rasos, tamb&eacute;m perdem, pois a Internet tem milh&otilde;es de jornalistas, os pr&oacute;prios usu&aacute;rios, que geram muito mais informa&ccedil;&otilde;es que as reda&ccedil;&otilde;es. Nenhuma reda&ccedil;&atilde;o teria tanta gente quanto as redes sociais. Lembrem-se que as redes sociais n&atilde;o produzem not&iacute;cias, apenas disseminam not&iacute;ciais produzidas pelos pr&oacute;prios usu&aacute;rios.<br /> <br /> Existe a op&ccedil;&atilde;o de se concentrar em nichos. Por exemplo o brit&acirc;nico Financial Times atende a um p&uacute;blico de nicho com conte&uacute;do diferenciado. A li&ccedil;&atilde;o &eacute; que, se voc&ecirc; atender bem seus leitores com algo original que eles n&atilde;o conseguir&atilde;o em outro lugar, eles pagar&atilde;o por isso. A receita de conte&uacute;do de qualidade da FT &eacute; direcionada para um grupo de leitores fi&eacute;is que se interessam pelos temas publicados, e est&aacute; atraindo anunciantes premium, que querem se comunicar com este p&uacute;blico espec&iacute;fico. Mas, para isso, &eacute; preciso manter uma equipe de caros jornalistas especializados e contar com staff de pesquisa e apoio.<br /> <br /> O mercado mudou e as empresas que publicam jornais n&atilde;o entenderam. No impresso, os jornais tinham poucos ou nenhum concorrente. Na Internet a concorr&ecirc;ncia &eacute; infinita. Muitos jornais n&atilde;o evolu&iacute;ram seu digital. A maioria &eacute; um simples pdf da vers&atilde;o impressa. N&atilde;o s&atilde;o atrativos. Os jornais tamb&eacute;m n&atilde;o entenderam como &eacute; o consumo de informa&ccedil;&otilde;es em um mundo muito mais r&aacute;pido e urgente. Os jornais continuam sobrecarregados com informa&ccedil;&otilde;es como faziam no passado. Jornais di&aacute;rios t&ecirc;m em m&eacute;dia de 30 a 40 p&aacute;ginas, v&aacute;rias centenas de artigos e umas 150 mil palavras. Ler toda essa informa&ccedil;&atilde;o &eacute; invi&aacute;vel, considerando a quantidade de dados e informa&ccedil;&otilde;es que uma pessoa comum j&aacute; est&aacute; exposta a cada dia. Quando um consumidor paga por um jornal, ele paga por informa&ccedil;&otilde;es e/ou entretenimento. Quando uma grande porcentagem dessas informa&ccedil;&otilde;es &eacute; irrelevante e requer que os leitores analisem uma quantidade desnecess&aacute;ria de dados para encontrar os artigos e t&oacute;picos que lhes interessam, isso gera um enorme desperd&iacute;cio de tempo para o leitor, o desestimulando a continuar a ler o jornal.<br /> <br /> Os jornais foram apanhados na armadilha tecnol&oacute;gica, ao n&atilde;o reconhecerem em tempo h&aacute;bil a import&acirc;ncia disruptiva das m&iacute;dias sociais, que est&atilde;o levando embora seus leitores e receitas, mudando o comportamento do consumidor e, sugando toda a publicidade que antes era destinada a jornais e TVs.<br /> <br /> O gr&aacute;fico abaixo, produzido pelo Banco Mundial mostra a divis&atilde;o gritante entre como os leitores de diferentes faixas et&aacute;rias obt&ecirc;m suas not&iacute;cias. &Eacute; &oacute;bvio que as gera&ccedil;&otilde;es mais jovens recebem suas informa&ccedil;&otilde;es de diversos meios, principalmente da web e m&iacute;dias sociais, enquanto os grupos de pessoas mais velhas tendem a se ater a m&iacute;dias tradicionais, como a televis&atilde;o e jornais. Claramente a m&iacute;dia tradicional n&atilde;o est&aacute; satisfazendo a demanda da sociedade mais jovem.<br /> <br /> <div style="text-align: center;"><img src="/uploads/image/img_qual-o-futuro-da-midia-impressa_grafico.jpg" alt="" width="450" height="290" align="middle" /></div> <br /> O gr&aacute;fico sugere que, nos pr&oacute;ximos anos, as pessoas receber&atilde;o suas informa&ccedil;&otilde;es n&atilde;o de poucas fontes, como um ou dois jornais e uns poucos canais de TV, mas de uma variedade de fontes. Anteriormente, os leitores se mantinham leais a uma ou poucas empresas de m&iacute;dia, aquelas que estavam mais aderentes de suas opini&otilde;es pol&iacute;ticas, interesses e localidades. Agora, os usu&aacute;rios t&ecirc;m muito mais liberdade para sintonizar seletivamente os artigos de not&iacute;cias que desejarem ler, de qualquer fonte. Toda vez que entramos no Facebook ou completamos uma busca no Google, somos os editores de nossos pr&oacute;prios jornais porque podemos escolher de onde vem nossa informa&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Qual ser&aacute; o futuro dos jornais? Muitos afirmam que o jornal se tornar&aacute; uma rel&iacute;quia do passado, enquanto outros acreditam que o setor precisa se reposicionar e se reinventar para permanecer relevante nos tempos de hoje.<br /> <br /> Ter uma vis&atilde;o digital &eacute; fundamental. Muitas vezes o que vemos nas vers&otilde;es web dos jornais &eacute; uma simples digitaliza&ccedil;&atilde;o dos jornais impressos. N&atilde;o foram pensados para a era digital, mas simplesmente digitalizados.<br /> <br /> O mundo gera cerca de 2,5 quintilh&otilde;es de bytes por dia. Com tantos dados dispon&iacute;veis &agrave; nossa disposi&ccedil;&atilde;o, o que fazemos com isso? H&aacute; v&aacute;rias d&eacute;cadas, os acessos aos dados eram controlados por um oligop&oacute;lio, as empresas de m&iacute;dia, que detinham a maior parte das informa&ccedil;&otilde;es e filtravam o que queriam repassar para a sociedade. Agora, qualquer pessoa tem poder para publicar informa&ccedil;&otilde;es. Somos produtores e consumidores de informa&ccedil;&otilde;es. No entanto, como sabemos que alguma dessas informa&ccedil;&otilde;es &eacute; confi&aacute;vel ou vale a pena ser lida?<br /> <br /> &Eacute; a&iacute; que entra a proposta de curadoria. A curadoria de um bom conte&uacute;do &eacute; importante porque os leitores buscam garantir que qualquer conte&uacute;do que eles consumam seja preciso, confi&aacute;vel e de alta qualidade. O que os jornais est&atilde;o fazendo, tentando lutar uma guerra frontal contra a Internet e as redes sociais, &eacute; uma guerra perdida. As empresas de m&iacute;dia para sobreviverem, precisam se destacar em termos de capital humano, tecnologia e estrat&eacute;gia de longo prazo para poder competir com alguma chance de sucesso no mercado competitivo e sobrecarregado de informa&ccedil;&otilde;es de hoje. Precisam reinventar o jornal. N&atilde;o precisam eles mesmos gerarem as informa&ccedil;&otilde;es e not&iacute;cias. Elas surgem de todos os lugares, instantaneamente. Com algoritmos de IA podem vasculhar a Internet, blogs e m&iacute;dias sociais, procurando conte&uacute;dos, aglutinando-os e os publicando de forma individualizada. Os algoritmos podem, por si mesmos, publicarem not&iacute;cias, quase que ao mesmo tempo que foram produzidas em algum lugar e capturadas pelos outros algoritmos que vasculham a Internet. Um exemplo interessante de agregador de not&iacute;cias controlado por IA &eacute; a chinesa Toutiao, considerada pela Fast Company uma das empresas mais inovadoras de 2018.<br /> <br /> Cada leitor tem prefer&ecirc;ncias &uacute;nicas. O papel primordial da vers&atilde;o digital &eacute; interagir com os leitores, entender seus gostos e atrav&eacute;s de algoritmos de recomenda&ccedil;&atilde;o publicar as not&iacute;cias que ser&aacute; de seu interesse. Os algoritmos podem identificar e separar fake news com mais precis&atilde;o que humanos. Os jornalistas passam ent&atilde;o a assumir papel de curadoria. N&atilde;o escrevem not&iacute;cias simples, mas analisam e escrevem artigos anal&iacute;ticos.<br /> <br /> O jornalismo continua, a d&uacute;vida &eacute; se os jornais continuar&atilde;o. Como est&atilde;o, n&atilde;o ir&atilde;o sobreviver. O que isso significa para os atuais modelos de jornais impressos? Significa aceitar seu decl&iacute;nio dram&aacute;tico no alcance, influ&ecirc;ncia e impacto. Perderam a relev&acirc;ncia. Os &uacute;nicos que ainda dizem que continuam relevantes s&atilde;o os pr&oacute;prios jornais. Noticiam em causa pr&oacute;pria&hellip;<br /> <br /> Por <i><b>Cezar Taurion</b></i> &ndash; Partner de Digital Transformation da Kick Corporate Ventures, Presidente do i2a2 (Instituto de Intelig&ecirc;ncia Artificial Aplicada). Mentor e investidor anjo.<br /> Fonte: <a href="https://jornalggn.com.br/midia/qual-o-futuro-da-midia-impressa-por-cezar-taurion/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>https://jornalggn.com.br/</u></i></span></a>