Quando o controle do câncer será uma real prioridade?

12 de junho de 2019 às 17:38

Maira Caleffi
Somente em 2018, o c&acirc;ncer foi respons&aacute;vel por 9,6 milh&otilde;es de mortes em todo o mundo. Segundo a Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de (OMS), uma a cada seis mortes tem rela&ccedil;&atilde;o com a doen&ccedil;a, o que torna o c&acirc;ncer a segunda principal causa de &oacute;bito no planeta.<br /> &nbsp;<br /> Os n&uacute;meros causam extrema preocupa&ccedil;&atilde;o. Em diversos pa&iacute;ses a taxa de mortalidade vem aumentando, mesmo que estejamos presenciando o surgimento de tratamentos e t&eacute;cnicas que visam diminuir o impacto do c&acirc;ncer e garantir mais tempo e qualidade de vida aos pacientes.<br /> &nbsp;<br /> Frente a esse panorama, no &acirc;mbito internacional, a discuss&atilde;o a respeito da Cobertura Universal de Sa&uacute;de tem ganhado for&ccedil;a na &uacute;ltima d&eacute;cada. Este modelo pressup&otilde;e um sistema que oferece todos os tipos de servi&ccedil;o de sa&uacute;de, desde os mais b&aacute;sicos aos mais complexos, para toda a popula&ccedil;&atilde;o, gratuitamente e sem discrimina&ccedil;&atilde;o. No Brasil, temos bastante familiaridade com isso: o Sistema &Uacute;nico de Sa&uacute;de (SUS) &eacute; um exemplo desse tipo de sistema, visto como refer&ecirc;ncia internacional em sa&uacute;de. Por meio dele, ningu&eacute;m precisa se colocar em risco financeiro para obter um servi&ccedil;o de qualidade &ndash; ou, pelo menos em tese, n&atilde;o precisaria.<br /> &nbsp;<br /> A Cobertura Universal de Sa&uacute;de foi considerada prioridade para o desenvolvimento sustent&aacute;vel pela Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas (ONU) e tem sido pauta das principais discuss&otilde;es entre &oacute;rg&atilde;os e representantes de sa&uacute;de de diversos pa&iacute;ses. Foi, inclusive, debatida no painel &ldquo;Al&eacute;m das manchetes: o que ser&aacute; necess&aacute;rio para enfrentar o crescente impacto do c&acirc;ncer&rdquo;, realizado em Genebra, durante a 72&ordf; Assembleia Mundial da Sa&uacute;de, promovida pela OMS, do qual aceitei honrosamente participar e representar a voz dos pacientes.<br /> &nbsp;<br /> O crescente interesse de governos ao redor do mundo por oferecer a sa&uacute;de, um direito b&aacute;sico e fundamental, gratuitamente a todos demonstra, certamente, um cen&aacute;rio positivo. Por&eacute;m, por que mesmo em pa&iacute;ses que j&aacute; adotam esse sistema, o c&acirc;ncer continua tendo uma alta taxa de mortalidade? &Eacute; necess&aacute;rio olhar para os modelos que j&aacute; existem e aprender com suas trajet&oacute;rias.<br /> &nbsp;<br /> &Eacute; not&oacute;rio que a doen&ccedil;a ainda n&atilde;o &eacute; tratada como prioridade no Brasil, por exemplo &ndash; os pacientes atendidos pelo SUS acabam enfrentando desafios em rela&ccedil;&atilde;o ao c&acirc;ncer muito em fun&ccedil;&atilde;o da falta de um bom planejamento, gest&atilde;o e recursos bem administrados. A Cobertura Universal de Sa&uacute;de &eacute; uma estrat&eacute;gia em tese eficaz para trazer respostas ao controle do c&acirc;ncer. No entanto, as dificuldades que precisam ser enfrentadas para mudar as taxas de mortalidade crescentes para a doen&ccedil;a est&atilde;o relacionadas &agrave; falta de acesso da popula&ccedil;&atilde;o ao que essa cobertura deveria oferecer. De maneira geral, a falta de programas estruturados de preven&ccedil;&atilde;o e rastreio para a maioria dos c&acirc;nceres, as longas esperas para confirma&ccedil;&atilde;o do diagn&oacute;stico oncol&oacute;gico e para o in&iacute;cio do tratamento, op&ccedil;&otilde;es restritas de tratamento oferecidas aos pacientes e a falta de acesso a abordagens multidisciplinares, equipes de profissionais de diversas especialidades que atuam na melhora dos progn&oacute;sticos e qualidade de vida dos pacientes, s&atilde;o fatores importantes para entender os motivos pelos quais ainda n&atilde;o conseguimos virar esse jogo, mesmo j&aacute; usufruindo h&aacute; 30 anos da cobertura universal em nosso pa&iacute;s.<br /> &nbsp;<br /> H&aacute; vidas lutando contra o c&acirc;ncer neste momento. Quase 10 milh&otilde;es delas foram perdidas mundialmente, s&oacute; no &uacute;ltimo ano, por conta da doen&ccedil;a. Ser&aacute; que isto n&atilde;o &eacute; grave o suficiente para repensar a assist&ecirc;ncia &agrave; doen&ccedil;a e coloc&aacute;-la no topo da lista de prioridades, contribuindo at&eacute; mesmo com a cria&ccedil;&atilde;o de um modelo eficiente adaptado a cada realidade para reduzir seu impacto no mundo?<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_maira-caleffi_presidenta-voluntaria-femama.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="80" align="left" /><br /> <br /> Maira Caleffi</i></b> &eacute; presidente volunt&aacute;ria da FEMAMA (Federa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Institui&ccedil;&otilde;es Filantr&oacute;picas de Apoio &agrave; Sa&uacute;de da Mama) e Chefe do Servi&ccedil;o de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento