O negócio do agrotóxico e o agronegócio

06 de agosto de 2019 às 10:01

Chico Junior
Como se sabe, o atual governo brasileiro aprovou, nos primeiros sete meses deste ano, o registro de 262 agrot&oacute;xicos para serem usados na agricultura brasileira, incluindo a&iacute;, &eacute; claro, a produ&ccedil;&atilde;o de alimentos. Entre os produtos liberados est&aacute; o sulfoxaflor, relacionado &agrave; redu&ccedil;&atilde;o de enxames de abelhas. Tamb&eacute;m como se sabe, as abelhas s&atilde;o fundamentais para a produ&ccedil;&atilde;o agr&iacute;cola, pois s&atilde;o as grandes polinizadoras das plantas. Abelha extinta significa praticamente o fim da maior para parte dos nossos alimentos.<br /> <br /> N&atilde;o d&aacute; para falar de alimenta&ccedil;&atilde;o e/ou de seguran&ccedil;a alimentar sem falar de agrot&oacute;xico. Afinal, um dos fundamentos do neg&oacute;cio do agroneg&oacute;cio &eacute; o neg&oacute;cio do agrot&oacute;xico.<br /> <br /> Para se ter uma ideia, as mesmas multinacionais que lideram a produ&ccedil;&atilde;o de sementes comerciais no mundo s&atilde;o tamb&eacute;m as principais produtoras de agrot&oacute;xicos. <br /> Em 2018 a Bayer alem&atilde;, produtora de agrot&oacute;xicos, comprou a norte-americana Monsanto, produtora de sementes, inclusive transg&ecirc;nicas. &ldquo;Com a fus&atilde;o, a Bayer se transformou na maior corpora&ccedil;&atilde;o agr&iacute;cola do mundo, possuindo um ter&ccedil;o do mercado global de sementes comerciais e um quarto do mercado de agrot&oacute;xicos&rdquo;, informa o &ldquo;Atlas do agroneg&oacute;cio&rdquo;, lan&ccedil;ado no ano passado no Brasil pela Funda&ccedil;&atilde;o Heinrich Boll e pela Funda&ccedil;&atilde;o Rosa Luxemburgo, em parceria com a Amigos da Terra Europa. <br /> <br /> Em 2017, a americanas DuPont e Dow Chemical se fundiram na DowDuPont. E a chinesa ChemChina comprou a su&iacute;&ccedil;a Syngenta. Sempre neg&oacute;cios envolvendo bilh&otilde;es de d&oacute;lares. &ldquo;Assim, os tr&ecirc;s conglomerados rec&eacute;m-formados devem dominar 60% do mercado de sementes comerciais e de agrot&oacute;xicos; Eles administrar&atilde;o a produ&ccedil;&atilde;o e comercializa&ccedil;&atilde;o de quase todas as plantas geneticamente modificadas neste mercado&rdquo;, ainda de acordo com o Atlas.<br /> <br /> Voltando ao Brasil e &agrave; libera&ccedil;&atilde;o recorde de agrot&oacute;xicos, considere-se que, informa reportagem da revista &Eacute;poca desta semana, &ldquo;outros 2.200 est&atilde;o na fila de aprova&ccedil;&atilde;o do Minist&eacute;rio da Agricultura&rdquo;. &ldquo;Caso o ritmo siga igual, em dezembro o pa&iacute;s ter&aacute; aprovado mais de 500 novos registros&rdquo;, ainda de acordo com a revista.<br /> <br /> Embora ambientalistas e ativistas da seguran&ccedil;a alimentar denunciem com frequ&ecirc;ncia os problemas relacionados ao uso indiscriminado de agrot&oacute;xicos no Brasil, muitos deles banidos em outras partes do mundo, principalmente na Europa, &eacute; muito dif&iacute;cil mudar esse quadro. Imposs&iacute;vel n&atilde;o &eacute;, mas &eacute; um processo muito demorado e que precisa da conscientiza&ccedil;&atilde;o de toda a sociedade. Mas, &eacute; aquela hist&oacute;ria, resistir &eacute; preciso.<br /> <br /> A pol&iacute;tica agr&iacute;cola do governo Bolsonaro atende, principalmente, os interesses da Frente Parlamentar Agropecu&aacute;ria (FPA), a famosa bancada ruralista, que, com os seus cerca de 250 parlamentares, &eacute; a maior bancada do Congresso e tem at&eacute; sete pr&oacute;pria. E foi a FPA que indicou a atual ministra da Agricultura, a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), considerada pelos ambientalistas como a &ldquo;musa do veneno&rdquo;.<br /> <br /> Felizmente, a Europa tem pressionado o governo brasileiro a restringir o uso de agrot&oacute;xicos, alguns vetados naquele continente h&aacute; mais de 15 anos. Um exemplo, mencionado na reportagem da &Eacute;poca, se refere ao suco de laranja Se os produtores continuarem a usar o inseticida dimetoato nos laranjais ter&atilde;o, simplesmente, que deixar o mercado europeu. Considerando que 70% de todas as exporta&ccedil;&otilde;es do setor de c&iacute;tricos t&ecirc;m como destino a Europa...<br /> <br /> A mat&eacute;ria de capa da &Eacute;poca &eacute; extensa, dez p&aacute;ginas, e &eacute; um alerta para o uso de agrot&oacute;xicos no Brasil. E conclui com o seguinte: &ldquo;O governo tem por estrat&eacute;gia priorizar as demandas do agroneg&oacute;cio em detrimento da preserva&ccedil;&atilde;o ambiental, j&aacute; cogitou publicamente acabar com a Anvisa e n&atilde;o tem planos de melhorar a fiscaliza&ccedil;&atilde;o do uso de agrot&oacute;xicos pelos produtores rurais. Jair Bolsonaro e seu time de egressos da bancada ruralista podem ter boas inten&ccedil;&otilde;es em tentar dinamizar o setor agr&iacute;cola, mas &eacute; fundamental que que se estabele&ccedil;am os limites para a autonomia desses agentes no Brasil (...)<br /> <br /> <i><b><img src="/uploads/image/artigos_chico-junior_jornalista-escritor-comunicador.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Chico Junior</b></i>. Jornalista, escritor e comunicador<br /> Fonte: <a href="https://www.brasil247.com/blog/o-negocio-do-agrotoxico-e-o-agronegocio" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>https://www.brasil247.com/</i></u></span></a>