Internet: o inimigo está dentro de casa

07 de agosto de 2019 às 10:28

Leonardo Torres
H&aacute; muito sabemos que os pais n&atilde;o podem deixar seus filhos o dia inteiro navegando na internet. H&aacute; muito tempo tamb&eacute;m n&atilde;o sabemos o que &eacute; mandar os filhos voltarem para casa depois de um longo dia brincando nas ruas. &ldquo;As ruas est&atilde;o perigosas&rdquo;, &ldquo;nela h&aacute; viol&ecirc;ncia&rdquo;, &ldquo;h&aacute; um incentivo &agrave;s drogas nas ruas&rdquo;, &ldquo;h&aacute; maldade&rdquo;, etc., alguns dizem. Em partes, sem d&uacute;vida, n&atilde;o discordo destes argumentos. Os espa&ccedil;os sociais, como as pra&ccedil;as, est&atilde;o destru&iacute;dos; e isso &eacute; um claro projeto de governo, que n&atilde;o quer que nos juntemos para sociabilizar. <br /> <br /> &Eacute; melhor deixar nossos filhos dentro de casa, s&atilde;os e salvos. O problema &eacute; que tanto os adultos quanto as crian&ccedil;as n&atilde;o perceberam que dentro de casa existe um v&iacute;cio t&atilde;o poderoso quanto qualquer outro tipo de droga dentro das quatro paredes do lar. N&oacute;s n&atilde;o ingerimos esta droga com a boca, mas com os olhos. Ela n&atilde;o causa problemas somente f&iacute;sicos, mas mentais. E nela, h&aacute; mais viol&ecirc;ncia e maldade do que na rua da sua casa. E para tudo isso, basta um clique.<br /> <br /> Passamos mais de 8 horas di&aacute;rias em frente aos aparelhos eletr&ocirc;nicos. As pesquisas cient&iacute;ficas mais recentes j&aacute; tem aproximado o consumo de eletr&ocirc;nicos e de internet ao consumo de drogas. Os anestesiologistas apontam que 30 minutos de uso de um tablet equivale a uma dose de Midazolan, um anest&eacute;sico. N&atilde;o &agrave; toa, a estudiosa Malena Contrera tem chamado aten&ccedil;&atilde;o para o fato que n&oacute;s nos denominamos de &ldquo;usu&aacute;rios&rdquo; nas redes.<br /> <br /> Recentemente, os likes do Instagram foram ocultados. Houve uma revolta por parte de alguns usu&aacute;rios, demonstrando a tend&ecirc;ncia viciosa e obsessiva de se conquistar as curtidas. Estudos da psicologia comportamental j&aacute; haviam avisado que esta din&acirc;mica de postar fotos e ser curtido &eacute; uma uma din&acirc;mica de recompensa e de condicionamento que age na vontade de pertencimento grupal do ser humano: o ratinho aperta o bot&atilde;o e ganha a comidinha. <br /> <br /> Com as pra&ccedil;as destru&iacute;das, com a viol&ecirc;ncia fora de casa, n&oacute;s entramos de tal maneira internet a dentro que &eacute; comum escutar que uma fam&iacute;lia, dentro de casa, conversa mais por whatsapp do que se reunindo na sala de estar. A internet e os aparelhos eletr&ocirc;nicos prometeram nos unir, mas acabaram nos separando ainda mais.<br /> <br /> E n&atilde;o para por a&iacute;. Como diria &Eacute;tienne de La Bo&eacute;tie, existe a&iacute; uma &ldquo;servid&atilde;o volunt&aacute;ria&rdquo;. Enquanto um usu&aacute;rio passa 8 horas do dia buscando e dando likes, as empresas por tr&aacute;s das redes sociais est&atilde;o captando todos os dados emitidos pelo usu&aacute;rio. Sabe aquela foto &iacute;ntima mandada? O texto que voc&ecirc; escreveu mas n&atilde;o postou? As fotos que est&atilde;o como sugest&atilde;o de postagem? Ou aquela pesquisa no Google que acaba aparecendo no Facebook? J&aacute; aconteceu de voc&ecirc; falar sobre algo e este algo aparecer como propaganda nas redes sociais? Tudo isso acontece porque, de alguma maneira, os nossos aparelhos eletr&ocirc;nicos nos vigiam 24 horas por dia. E n&oacute;s estamos oferecendo voluntariamente toda nossa privacidade em troca de viciosos likes. <br /> &nbsp;<br /> <i><b><img src="/uploads/image/artigos_leonardo-torres_palestrante-professor-e-doutorando-comunicacao.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Leonardo Torres</b></i>, pesquisador, professor, doutorando em Comunica&ccedil;&atilde;o e Cultura e P&oacute;s-graduando em Psicologia Junguiana