MP da Liberdade Econômica: libertará mesmo?

19 de agosto de 2019 às 13:19

Christian Bundt
A Medida Provis&oacute;ria da Liberdade Econ&ocirc;mica (MP 881/2019) ganhou a m&iacute;dia e os f&oacute;runs empresariais de discuss&atilde;o nos &uacute;ltimos dias. Mas ser&aacute; que a transforma&ccedil;&atilde;o da MP em Lei ir&aacute; de fato estimular a cria&ccedil;&atilde;o de quase 4 milh&otilde;es de postos de trabalho, conforme prev&ecirc; o governo? Primeiramente, cabe ressuscitar o esp&iacute;rito da Lei Complementar 123/2006, uma das mais importantes da hist&oacute;ria para os empreendedores brasileiros. V&aacute;rios dos temas tratados na nova MP estavam naquela lei de 2006. Alguns dispositivos do novo texto parecem ser novas vers&otilde;es, j&aacute; que aqueles n&atilde;o funcionaram como se esperava. <br /> <br /> A pretendida lei tem a finalidade de proporcionar maior liberdade para os cidad&atilde;os exercerem atividades econ&ocirc;micas, reduzindo os entraves impostos pelos governos e prestigiando a &ldquo;autonomia da vontade&rdquo; na celebra&ccedil;&atilde;o de neg&oacute;cios. Os temas da MP 881/2019 pretendem: dar diretrizes interpretativas para o poder p&uacute;blico perante os particulares; eliminar e/ou simplificar procedimentos administrativos e judiciais no &acirc;mbito da administra&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica; e fornecer diretrizes interpretativas e desburocratizadoras nas rela&ccedil;&otilde;es entre os particulares. Os principais pontos em cada um dos temas s&atilde;o: trabalhistas; abertura de empresas/novos mercados; contratuais e tribut&aacute;rios; fundos de investimento; registros e documentos; societ&aacute;rios; e abusos regulat&oacute;rios.<br /> <br /> O governo aposta alto nos efeitos da proposta legisla&ccedil;&atilde;o. Mas &eacute; preciso refletir sobre o que efetivamente ir&aacute; mudar e a probabilidade de ocorr&ecirc;ncia do que se pretende. N&atilde;o esque&ccedil;amos de que a rec&eacute;m reforma trabalhista agora senta suas bases, com a consolida&ccedil;&atilde;o de algumas jurisprud&ecirc;ncias. H&aacute; tempo razo&aacute;vel entre a cria&ccedil;&atilde;o dessas medidas e a apropria&ccedil;&atilde;o das mudan&ccedil;as pela maquinaria do poder p&uacute;blico e da iniciativa privada. Mas em geral, nas quest&otilde;es burocr&aacute;ticas, pelo que se observou desde a implementa&ccedil;&atilde;o da Lei 123/2006, haver&aacute; sim melhora no ambiente de neg&oacute;cios em prazo de um a dois anos.<br /> <br /> J&aacute; sobre os efeitos da nova legisla&ccedil;&atilde;o sobre o emprego, n&atilde;o h&aacute; ind&iacute;cios que levem a crer que surtir&aacute; efeitos (novos 4 milh&otilde;es?), tomando como exemplo a pr&oacute;pria reforma trabalhista. O que gera empregos &eacute; economia crescente, consumo interno e externo, n&atilde;o a legisla&ccedil;&atilde;o em si. Para a recupera&ccedil;&atilde;o do emprego ocorrer, antes de tudo precisa-se de confian&ccedil;a e de estabilidade na condu&ccedil;&atilde;o das pol&iacute;ticas de incentivo. Como todos sabem, estabilidade &eacute; algo complexo para a personalidade do Presidente Bolsonaro.<br /> <br /> Decorrente disso, vir&aacute; (ou n&atilde;o) o investimento privado. Ent&atilde;o, a MP da Liberdade Econ&ocirc;mica ajuda a melhorar o cen&aacute;rio, mas, de longe, n&atilde;o &eacute; suficiente, assim como n&atilde;o foi nenhuma das medidas tomadas no &uacute;ltimo ano (entre o governo de Temer e de Bolsonaro). A promessa agora &eacute; uma nova forma de financiamento da casa pr&oacute;pria para estimular o setor. Novamente teremos um tiro na &aacute;gua. Poucos se arriscam a comprar uma casa sem emprego e, principalmente, sem renda segura. &nbsp;<br /> <br /> N&atilde;o h&aacute; f&oacute;rmula m&aacute;gica, mas os contornos da receita todos conhecemos: o governo precisa &ldquo;emagrecer&rdquo;, ou seja, cortar despesas ruins para que os recursos sejam direcionados para investimentos em infraestrutura. Com um governo que custa pouco, mas que investe em setores estrat&eacute;gicos, os capitalistas privados locais e do exterior tendem a ver o Brasil com outros olhos. Assim poderemos ter mais emprego, renda e consumo por algum tempo maior.<br /> <br /> <i><b><img src="/uploads/image/artigos_cristian-bundt_administrador-professor-uepg.jpg" alt="" hspace="3" align="left" /><br /> <br /> Christian Bundt</b></i> &eacute; administrador, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e membro do Comit&ecirc; Macroecon&ocirc;mico do ISAE Escola de Neg&oacute;cios.