Acordo Mercosul e União Europeia: possíveis reflexos no Agronegócio e como o setor pode se preparar

19 de agosto de 2019 às 15:45

Robinson Cannaval Jr
O mercado mundial recebeu uma grande not&iacute;cia no final de junho. Depois de 20 anos de negocia&ccedil;&otilde;es, foi firmado durante a 14&ordf; C&uacute;pula do G20, em Bruxelas, o acordo entre o Mercosul e a Uni&atilde;o Europeia. Ele passa a ser o segundo maior acordo do mundo em rela&ccedil;&atilde;o ao PIB somado de seus participantes, ficando atr&aacute;s apenas do acordo entre a Uni&atilde;o Europeia e o Jap&atilde;o. Juntas, as duas regi&otilde;es respondem por um PIB de cerca de US$ 20 trilh&otilde;es, aproximadamente 25% da economia mundial.<br /> <br /> Hoje, das dez maiores economias do mundo, o Brasil &eacute; o que tem menor participa&ccedil;&atilde;o no com&eacute;rcio internacional, com menos da metade do volume transacionado por pa&iacute;ses com PIBs compar&aacute;veis, como It&aacute;lia e Canad&aacute;.<br /> <br /> O acordo entre Mercosul e Uni&atilde;o Europeia poder&aacute; representar o acesso mais competitivo para os produtos brasileiros a um mercado consumidor de 500 milh&otilde;es de pessoas, que responde por mais de 21% da economia mundial. E os produtos da cadeia do agroneg&oacute;cio t&ecirc;m posi&ccedil;&atilde;o de destaque nessa negocia&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Pelo acordo, est&aacute; prevista a redu&ccedil;&atilde;o ou elimina&ccedil;&atilde;o de tarifas sobre mais de 90% dos produtos comercializados entre os blocos, com entrada em vigor, de modo escalonado, ao longo dos pr&oacute;ximos 15 anos. Antes dele, apenas 24% das exporta&ccedil;&otilde;es brasileiras entravam livres de tarifa na Uni&atilde;o Europeia.<br /> <br /> Para entrar em vigor, o pacto deve ser ratificado pelos parlamentos de cada um dos estados-membros dos blocos, o que pode ser um desafio a ser vencido. Entre as condicionantes do acordo, est&atilde;o a perman&ecirc;ncia no tratado de Paris e a redu&ccedil;&atilde;o do desmatamento na regi&atilde;o do Mercosul. Outras quest&otilde;es ambientais podem ser inclu&iacute;das, como o uso de determinados defensivos agr&iacute;colas.<br /> <br /> Mas no que esse acordo impactaria no agroneg&oacute;cio brasileiro?<br /> <br /> Caso os desafios sejam vencidos e o acordo seja ratificado pelo parlamento brasileiro, os produtos da cadeia do agroneg&oacute;cio, que hoje j&aacute; representam mais de um ter&ccedil;o das exporta&ccedil;&otilde;es para a Uni&atilde;o Europeia, ser&atilde;o beneficiados. As importa&ccedil;&otilde;es de m&aacute;quinas e qu&iacute;micos tamb&eacute;m podem trazer impactos positivos para o setor.<br /> <br /> A Uni&atilde;o Europeia &eacute; o maior importador agr&iacute;cola mundial. Para se ter uma ideia, em 2018, o bloco europeu importou no setor US$ 182 bilh&otilde;es e o Brasil est&aacute; entre os seus maiores fornecedores de produtos de origem agr&iacute;cola. Com a retirada ou redu&ccedil;&atilde;o de tarifas, o pa&iacute;s se tornar&aacute; ainda mais competitivo na exporta&ccedil;&atilde;o desses produtos para o bloco.<br /> <br /> Segundo dados da Innovatech, em 2018, entre os cinco campe&otilde;es de exporta&ccedil;&atilde;o do Brasil para a Uni&atilde;o Europeia est&atilde;o a soja e derivados (12,80%- campe&atilde;o de exporta&ccedil;&atilde;o) e o caf&eacute; cru em gr&atilde;o (5,50%). Pelo acordo, ocorrer&atilde;o grandes mudan&ccedil;as no setor do agroneg&oacute;cio com a retirada ou diminui&ccedil;&atilde;o de tarifas. Por exemplo, &oacute;leos vegetais passariam a ter tarifa zero de imediato; o caf&eacute; torrado e sol&uacute;vel em quatro anos; o a&ccedil;&uacute;car at&eacute; a cota de at&eacute; 180 mil toneladas teria tarifa zero de imediato, entre outros. <br /> <br /> Outro ponto importante do acordo &eacute; que a Uni&atilde;o Europeia liberalizar&aacute; 82% do volume de com&eacute;rcio e 77% das linhas tarif&aacute;rias no setor agr&iacute;cola e dar&aacute; acesso preferencial ao Mercosul. O Mercosul, por sua vez, no com&eacute;rcio agr&iacute;cola, liberalizar&aacute; 96% do volume de com&eacute;rcio e 94% das linhas tarif&aacute;rias.<br /> <br /> O novo tratamento tarif&aacute;rio poder&aacute; tornar o Brasil mais competitivo no fornecimento de prote&iacute;nas. Por&eacute;m, o tema pode ser um entrave para a ratifica&ccedil;&atilde;o do acordo pelos parlamentos de Estados-membro que t&ecirc;m participa&ccedil;&atilde;o relevante nesse mercado. <br /> <br /> O acordo reduz as barreiras tarif&aacute;rias em contrapartida os entraves podem surgir, tais como: quest&otilde;es sanit&aacute;rias, rastreabilidade de produ&ccedil;&atilde;o, sustentabilidade da produ&ccedil;&atilde;o e demanda por certifica&ccedil;&atilde;o de produto. <br /> <br /> No caso das carnes por exemplo, a tarifa seria reduzida imediatamente nos seguintes casos:&nbsp; a carne Bovina teria tarifa de 7,5% at&eacute; a cota de 99 mil toneladas peso carca&ccedil;a, 55% resfriada e 45% congelada e tarifa zero na cota Hilton1 (10 mil toneladas); no caso da carne su&iacute;na, a tarifa passaria para &euro;83/tonelada at&eacute; a cota de 25 mil toneladas; e na carne das aves 180 mil toneladas peso carca&ccedil;a, intraquota zero, 50% com osso e 50% desossada. J&aacute; no caso dos peixes a tarifa seria zero imediatamente e o camar&otilde;es a extin&ccedil;&atilde;o seria em quatro anos. <br /> <br /> O pacto entre os blocos econ&ocirc;micos deve trazer muitas oportunidades e tamb&eacute;m algumas amea&ccedil;as para quem atua na cadeia do agroneg&oacute;cio brasileiro. Embora nem todos os efeitos sejam imediatos, &eacute; preciso estar pronto para n&atilde;o perder o timing. E para que isso n&atilde;o ocorra, algumas perguntas b&aacute;sicas precisam ser feitas.<br /> <br /> &Eacute; essencial para os empres&aacute;rios do agroneg&oacute;cio entender como fica a posi&ccedil;&atilde;o competitiva e a atratividade da exporta&ccedil;&atilde;o dos seus produtos no mercado europeu; o timing e como se preparar para aproveitar as oportunidades que surgir&atilde;o para a exporta&ccedil;&atilde;o de produtos; qual a melhor estrat&eacute;gia para acessar o mercado e quais s&atilde;o as oportunidades para ganhar competitividade importando m&aacute;quinas, equipamentos e insumos europeus, como menor custo e mais tecnologia.<br /> <br /> J&aacute; para os produtores locais e subsidi&aacute;rias locais de empresas estrangeiras de insumos, m&aacute;quinas e equipamentos, as preocupa&ccedil;&otilde;es devem ser outras: se o neg&oacute;cio est&aacute; amea&ccedil;ado pela redu&ccedil;&atilde;o de tarifas dos produtos importados; como a liberaliza&ccedil;&atilde;o afeta os seus mercados; e as estrat&eacute;gias para se defender da competi&ccedil;&atilde;o com os produtos europeus. <br /> <br /> Ent&atilde;o, muito mais do que entender no que o acordo Mercosul Uni&atilde;o Europeia pode ajudar ou prejudicar o agroneg&oacute;cio no Brasil, &eacute; preciso se preparar para os novos tempos que poder&atilde;o vir. Para isso, &eacute; necess&aacute;rio planejar: estudar o mercado, analisar a viabilidade dos neg&oacute;cios; implementar e gerir. S&oacute; assim, o Brasil estar&aacute; preparado para colher os frutos desse acordo, caso ele seja validado. <br /> &nbsp;<br /> <i><b><img src="/uploads/image/artigos_robinson-cannaval-jr_socio-fundador-diretor-grupo-innovatech.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Robinson Cannaval Jr. </b></i>S&oacute;cio fundador e diretor do Grupo Innovatech, Diretor executivo da Innovatech Consultoria, Formado em Engenharia Florestal pela ESAlQ/USP, com especializa&ccedil;&atilde;o em Gest&atilde;o estrat&eacute;gica de Neg&oacute;cios pela Unicamp e MBAs em Finan&ccedil;as e Valuation pela FGV.