Setembro Amarelo e prevenção de morte de negros

27 de setembro de 2019 às 08:40

Livia Marques
Setembro Amarelo &eacute; uma campanha brasileira de preven&ccedil;&atilde;o ao suic&iacute;dio, iniciada em 2015. &Eacute; uma iniciativa do Centro de Valoriza&ccedil;&atilde;o da Vida. Segundo o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de, a cada dez jovens de 10 a 29 anos que cometem suic&iacute;dio, seis s&atilde;o negros. O risco na faixa et&aacute;ria de 10 a 29 anos foi 45% maior entre jovens que se declaram pretos e pardos do que entre brancos no ano de 2016.<br /> &nbsp;<br /> A diferen&ccedil;a &eacute; ainda mais relevante entre os jovens e adolescentes negros do sexo masculino: a chance de suic&iacute;dio &eacute; 50% maior neste grupo do que entre brancos na mesma faixa et&aacute;ria. A cartilha &ldquo;&Oacute;bitos por Suic&iacute;dio entre Adolescentes e Jovens Negros&rdquo;, lan&ccedil;ada pelo Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de, mostra, por exemplo, que entre 2012 e 2016, o n&uacute;mero de casos com pessoas brancas permaneceu est&aacute;vel, enquanto o das negras aumentou 12%.<br /> &nbsp;<br /> Falar sobre racismo e pensar a popula&ccedil;&atilde;o negra &eacute; de extrema import&acirc;ncia. N&atilde;o se trata de vitimismo, muito menos de &ldquo;frescura&rdquo;, como tem sido dito. O alto &iacute;ndice de suic&iacute;dio entre jovens na popula&ccedil;&atilde;o negra mostra que esses casos est&atilde;o ligados ao racismo estrutural do nosso do dia a dia.<br /> &nbsp;<br /> O racismo estrutural &eacute; aquele enraizado na sociedade desde a chegada dos primeiros negros no pa&iacute;s. Observando os dados, vemos a vulnerabilidade dessas pessoas frente &agrave;s quest&otilde;es com alto n&iacute;vel de sofrimento psicol&oacute;gico.<br /> &nbsp;<br /> A popula&ccedil;&atilde;o negra &eacute; maior em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; popula&ccedil;&atilde;o branca do pa&iacute;s, mas tamb&eacute;m sabemos que &eacute; a mais pobre e com sal&aacute;rios, na grande maioria, menores. Morar em regi&otilde;es mais pobres e ainda com alto &iacute;ndice de viol&ecirc;ncia s&atilde;o fatores que afetam a sa&uacute;de mental.<br /> &nbsp;<br /> Quem n&atilde;o viu ou nunca viu crian&ccedil;as e jovens em suas escolas &quot;estudando&quot; agachados ou se protegendo deitados no ch&atilde;o at&eacute; com um professor cantando, para que abafasse sons de tiros? Viol&ecirc;ncia, pobreza e alta marginaliza&ccedil;&atilde;o contra essas pessoas s&atilde;o quest&otilde;es que as privam de possibilidades de melhorias e de vislumbrar dias melhores. Esses podem ser gatilhos para quest&otilde;es de sa&uacute;de mental.<br /> &nbsp;<br /> Quando falamos que n&atilde;o &eacute; vitimismo, estamos tratando de racismo. Muitas pessoas questionam por que olhamos para o jovem negro. Na verdade, o cuidado &eacute; com a sa&uacute;de mental da popula&ccedil;&atilde;o negra. Qual seria o motivo desse jovem n&atilde;o ser levado a s&eacute;rio? Ele tem alguma diferen&ccedil;a para que n&atilde;o seja levado a s&eacute;rio ao falar sobre sa&uacute;de mental? N&atilde;o &eacute; um direito tamb&eacute;m querer prezar e pedir aux&iacute;lio?<br /> &nbsp;<br /> Falar sobre a sa&uacute;de mental desse jovem &eacute; de extrema import&acirc;ncia, pois as maiores causas de suic&iacute;dio ligados &agrave; popula&ccedil;&atilde;o negra s&atilde;o, por exemplo, rejei&ccedil;&atilde;o, maus tratos, viol&ecirc;ncia, abuso, sensa&ccedil;&atilde;o de n&atilde;o pertencimento e isolamento social.<br /> &nbsp;<br /> N&atilde;o invalidar a dor da popula&ccedil;&atilde;o negra &eacute; urgente. Precisamos validar e acolher essas pessoas. Infelizmente, por conta de um discurso, pensamento e Academias colonizadas, acabamos negligenciando sua integralidade como ser. <br /> &nbsp;<br /> Por isso, devemos estar atentos a todos os jovens que falam sobe isso e n&atilde;o achar que &eacute; &ldquo;frescura&rdquo; ou &ldquo;mimimi&rdquo;. Depress&atilde;o, ansiedade e suic&iacute;dio n&atilde;o s&atilde;o brincadeira. Quando algu&eacute;m fala sobre isso, ou&ccedil;a e aconselhe a procurar um psiquiatra ou psic&oacute;logo. Mostre empatia ao que ele sente. N&atilde;o invalide a dor.<br /> &nbsp;<br /> <i><b>Livia Marques</b></i> &eacute; Psic&oacute;loga Cl&iacute;nica, MBA em Gest&atilde;o de Pessoas, Especializada em Terapia Cognitiva Comportamental, Coordenadora Editorial e Autora