O custeio das eleições, dilema brasileiro

27 de setembro de 2019 às 08:48

Tenente Dirceu Cardoso Gon&
O custeio das campanhas eleitorais &eacute; uma grave mol&eacute;stia que acomete a classe pol&iacute;tica brasileira. Depois de muitos anos de insustentabilidade, que ensejaram aos espertos pagar suas elei&ccedil;&otilde;es com dinheiro roubado em licita&ccedil;&otilde;es fraudulentas de obras p&uacute;blicas e empresas estatais, o mundo pol&iacute;tico vive hoje o dilema sobre de onde sacar o dinheiro para sustentar as despesas, cada dia mais elevadas. O rem&eacute;dio encontrado na minireforma de 2015 &ndash; que proibiu a doa&ccedil;&atilde;o empresarial &ndash; foi um tiro pela culatra. N&atilde;o podendo receber doa&ccedil;&atilde;o de empresas (justamente para evitar a corrup&ccedil;&atilde;o apurada no Mensal&atilde;o e nos processos da Lava Jato e similares) restou a op&ccedil;&atilde;o do financiamento pessoal, que n&atilde;o faz parte dos costumes do brasileiro, ou o custeio p&uacute;blico, gerador da celeuma que hoje presenciamos.<br /> <br /> Senado e C&acirc;mara divergem quanto &agrave; aplica&ccedil;&atilde;o do dinheiro p&uacute;blico em campanha. Mas a lei que acaba de ser aprovada pelos deputados, reeditou itens que o Senado havia retirado do texto. Com isso, os partidos e candidatos poder&atilde;o usar esse recurso para adquirir, alugar ou reformar im&oacute;veis, comprar ou locar ve&iacute;culos, pagar honor&aacute;rios de advogados e contadores e at&eacute; saldar multas recebidas por viola&ccedil;&atilde;o &agrave; legisla&ccedil;&atilde;o eleitoral. Tudo isso pode conduzir &agrave; pr&aacute;tica do caixa 2, que os pol&iacute;ticos tentam descriminalizar quando ocorrido no passado e, se poss&iacute;vel, no presente e at&eacute; no futuro. H&aacute; gest&otilde;es para ampliar de R$ 1,8 bilh&atilde;o para R$ 3,7 bilh&otilde;es o valor do fundo p&uacute;blico para custear as elei&ccedil;&otilde;es do pr&oacute;ximo ano, quando ser&atilde;o escolhidos prefeitos e vereadores.<br /> <br /> Transformado em palavr&atilde;o pela repercuss&atilde;o negativa, o projeto segue agora para a san&ccedil;&atilde;o do presidente Jair Bolsonaro. As for&ccedil;as da sociedade pressionar&atilde;o pelo veto e a classe pol&iacute;tica contra. O presidente, ficar&aacute; na inc&ocirc;moda situa&ccedil;&atilde;o do &ldquo;<i><b>se ficar o bicho come e se correr o bicho pega</b></i>&rdquo;. Se vetar ser&aacute; aplaudido pela popula&ccedil;&atilde;o, mas poder&aacute; sofrer retalia&ccedil;&atilde;o dos parlamentares quando na vota&ccedil;&atilde;o dos seus projetos no Congresso. Poder&aacute; ter dificuldades para fazer passar os projetos de reforma do Estado, compromissos assumidos com o povo durante as elei&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Precisamos encontrar o meio l&iacute;cito e aceit&aacute;vel de custear as campanhas. A corrup&ccedil;&atilde;o das licita&ccedil;&otilde;es viciadas &eacute; crime e jamais deve ser reeditada. Mas colocar toda a despesa nas costas do er&aacute;rio, com dinheiro arrecadado dos impostos, &eacute; injusto. Da mesma forma que &eacute; reprov&aacute;vel os partidos serem sustentados pelo cofre p&uacute;blico. Cada agremia&ccedil;&atilde;o deveria se manter atrav&eacute;s da contribui&ccedil;&atilde;o de seus filiados e o poder p&uacute;blico responder apenas com o custo operacional das elei&ccedil;&otilde;es e, atrav&eacute;s de voto distrital e outras medidas, baixar o custo das campanhas. A disponibilidade das redes sociais e Bolsonaro em sua campanha j&aacute; demonstraram que &eacute; poss&iacute;vel concorrer com menos gastos. Essa montanha de dinheiro que se aplica para a escolha dos representantes pol&iacute;ticos faz falta em sa&uacute;de, educa&ccedil;&atilde;o, promo&ccedil;&atilde;o social, seguran&ccedil;a p&uacute;blica e outros servi&ccedil;os que s&atilde;o obriga&ccedil;&atilde;o do Estado mas enfrentam grande escassez. Tem de mudar...<br /> &nbsp;<br /> <i><b><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="81" align="left" /><br /> <br /> Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br