Gigante pela própria natureza?

06 de novembro de 2019 às 16:43

Pedro Gorki
O Brasil vive um momento singular de sua hist&oacute;ria, com retrocessos que atingem todas as &aacute;reas e dimens&otilde;es da nossa viv&ecirc;ncia. Desde a retirada de direitos, democr&aacute;ticos e trabalhistas; retrocesso nas rela&ccedil;&otilde;es internacionais e econ&ocirc;micas com outros pa&iacute;ses; ataques &agrave; educa&ccedil;&atilde;o, &agrave; ci&ecirc;ncia e ao conhecimento em geral.<br /> <br /> Em outros momentos como esse, ao menos pod&iacute;amos dizer que nosso pa&iacute;s era &ldquo;bonito por natureza&rdquo;, com paisagens deslumbrantes, quil&ocirc;metros de praias de areias limpas e &aacute;guas transparentes; uma floresta continental.<br /> <br /> Agora, o fogo desmata a floresta, na regi&atilde;o Norte; o &oacute;leo polui as praias e mata a vida no fundo do mar, no Nordeste; a lama com res&iacute;duos de min&eacute;rios invade os rios no Sudeste; e no Sul, os agrot&oacute;xicos envenenam os produtos agr&iacute;colas e trazem doen&ccedil;as para agricultores e consumidores.<br /> <br /> E o que faz o governo Bolsonaro diante disso? Quando n&atilde;o incentiva, como &eacute; o caso da libera&ccedil;&atilde;o desenfreada dos agrot&oacute;xicos, &eacute; conivente, caso das queimadas na Amaz&ocirc;nia, e incompetente, no caso do derramamento de &oacute;leo na costa brasileira.<br /> <br /> Grandes gotas de &oacute;leo come&ccedil;aram a aparecer no in&iacute;cio de setembro e hoje mancham mais de 130 praias no nordeste do Brasil, totalizando um trecho de dois mil quil&ocirc;metros da costa atl&acirc;ntica.<br /> <br /> Depois desse rastro t&oacute;xico por milhares de quil&ocirc;metros, o &oacute;leo chegou a mangues e corais no litoral brasileiro, algo dif&iacute;cil de limpar e com alto risco de contaminar o meio ambiente durante anos, segundo especialistas. &ldquo;A contamina&ccedil;&atilde;o qu&iacute;mica dura muito mais tempo do que aquilo que a polui&ccedil;&atilde;o visual pode sugerir&rdquo;, afirmou a ocean&oacute;grafa Mariana Thevenin, uma das articuladoras do grupo de volunt&aacute;rios Guardi&otilde;es do Litoral, que se formou em Salvador para limpar praias, estu&aacute;rios e manguezais desde que a contamina&ccedil;&atilde;o chegou &agrave; costa da Bahia. <br /> <br /> Assim como na Bahia, em todos os demais estados atingidos pelo &oacute;leo, grupos de volunt&aacute;rios formados pelas popula&ccedil;&otilde;es locais, trabalhadores que dependem do mar para sobreviver, estudantes e turistas, se mobilizam para limpar as praias e tentar conter o vazamento nos estu&aacute;rios, antes que cheguem &agrave;s praias. Enquanto isso, o governo federal dificulta a libera&ccedil;&atilde;o de recursos, financeiros e humanos, e at&eacute; equipamentos como b&oacute;ias de conten&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o fossem os volunt&aacute;rios e os governos estaduais que mobilizam todas as suas energias e a situa&ccedil;&atilde;o estaria ainda pior.<br /> <br /> Agora, descobrimos que o governo violou as instru&ccedil;&otilde;es de manual que orienta como agir em desastres com &oacute;leo. A publica&ccedil;&atilde;o ficou restrita &agrave; c&uacute;pula do Minist&eacute;rio do Meio Ambiente, Ibama, Marinha e Ag&ecirc;ncia Nacional do Petr&oacute;leo, n&atilde;o foi compartilhada com estados e munic&iacute;pios. Estados e munic&iacute;pios que foram os primeiros a agir para diminuir o impacto da trag&eacute;dia.<br /> <br /> Esta &eacute; uma den&uacute;ncia grav&iacute;ssima. Minist&eacute;rio do Meio Ambiente tinha um manual para implementar o Plano Nacional de Conting&ecirc;ncia para Incidentes de Polui&ccedil;&atilde;o por &Oacute;leo em &Aacute;guas sob Jurisdi&ccedil;&atilde;o Nacional (PNC) mas violou os processos listados no documento ao (n&atilde;o) reagir ao aparecimento do &oacute;leo. Se observados os crit&eacute;rios, o plano seria acionado em 2 de setembro, mas isso s&oacute; ocorreu 41 dias depois, em 11 de outubro.<br /> <br /> O Manual foi produzido em 2013, teve sua vers&atilde;o completa em 2018 e n&atilde;o chegou a ser publicado oficialmente. A obra n&atilde;o foi compartilhada com estados e munic&iacute;pios que atuam na conten&ccedil;&atilde;o do &oacute;leo e n&atilde;o foi distribu&iacute;da &agrave; imprensa . Segundo o jornal O Globo, que obteve e analisou o documento, &eacute; poss&iacute;vel ver ao menos oito viola&ccedil;&otilde;es de procedimento ao comparar a a&ccedil;&atilde;o do governo com o texto da obra, que tem for&ccedil;a legal.<br /> <br /> Al&eacute;m de mapear a rede de articula&ccedil;&atilde;o necess&aacute;ria para monitorar a costa para incidentes com &oacute;leo, o manual lista os crit&eacute;rios para implementa&ccedil;&atilde;o do PNC, um instrumento para emerg&ecirc;ncia de car&aacute;ter nacional. O n&atilde;o cumprimento deste instrumento legal mostra o descompromisso desse governo, n&atilde;o s&oacute; com o meio ambiente mas com o pr&oacute;prio pa&iacute;s e seu povo.<br /> <br /> As diferentes atitudes frente &agrave; trag&eacute;dia mostram o descompasso entre o povo brasileiro, que tudo faz para que o pa&iacute;s se desenvolva e o governo que nada faz, a n&atilde;o ser disseminar Fake News e bravatas, deixando o pa&iacute;s a merc&ecirc; da bandidagem que ateia fogo na floresta; contamina praias e a biodiversidade do fundo do mar com &oacute;leo; contamina rios e destr&oacute;i popula&ccedil;&otilde;es inteiras com res&iacute;duos t&oacute;xicos de minera&ccedil;&atilde;o; pulveriza veneno sobre os campos, lavouras e popula&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Queremos nosso pa&iacute;s de volta, limpo, desde o mar at&eacute; o Planalto, para que possamos dizer de novo que vivemos num pa&iacute;s bonito por natureza.<br /> &nbsp;<br /> <i><b>Pedro Gorki</b></i>, presidente da UBES (Uni&atilde;o Brasileira de Estudantes Secundaristas)<br />