CHILE: ARDE SANTIAGO?
11 de novembro de 2019 às 16:09
Rene Berardi
Quem podia imaginar que o modelo chileno, exemplo para muitos países no mundo, era um vulcão em ebulição, mas ninguém esperava que explodisse. Se dizia que este modelo democrático não apresentava fissuras, pois a estrutura econômica era quase perfeita. Esta perfeição era ‘’<b><i>para inglês ver</i></b>”, preparada para não mostrar defeito nenhum, pelo contrário, era o paraíso dos empreendedores e imigrantes latinos. <br />
<br />
Mas o vulcão explodiu, o que não parecia estranho para um país acostumado aos ‘’<i><b>tremores sismológicos</b></i>’’ diários. Mas a lava do vulcão não aguentou mais ficar submersa dentro dele, esperou uma pequena fissura, 30 pesos, e começou a sair pela boca. Onde estava a falha deste perfeito modelo? Podemos identificar alguns fatores que existiam, mas não eram considerados pelo comando político institucional: <br />
<br />
<div style="margin-left: 40px;"><b>1</b>. Empobrecimento massivo da classe média e baixa (90%) pelo excessivo encarecimento das tarifas públicas, pedágios, remédios e educação;<br />
<br />
<b>2</b>. Não sanção para os casos de corrupção contínuos dos empresários e políticos, ou seja, a falta de uma “<b><i>lava jato</i></b>’’. As sanções para os culpados eram assistir a um curso de ética;<br />
<br />
<b>3</b>. Centralização excessiva do Estado sobre as regiões, onde para mudar o trânsito de uma rua deveria ser aprovada pelo ministério dos transportes;<br />
<br />
<b>4</b>. Incapacidade de solucionar o conflito com os povos indígenas (mapuches);<br />
<br />
<b>5</b>. Incapacidade de controle do tráfico de drogas que domina amplos bairros de Santiago;<br />
<br />
<b>6</b>. Endividamento “<b><i>de por vida</i></b>” dos estudantes ao terminar seus estudos universitários, enfrentando um mercado competitivo e de baixos salários;<br />
<br />
<b>7</b>. A previdência ‘’<b><i>privada</i></b>’’ está gerando uma massa de chilenos que beiram a extrema pobreza, faz o alto valor dos remédios (os mais altos da América Latina);</div>
<div style="margin-left: 40px;"><br />
<b>8</b>. O voto não obrigatório tem gerado uma classe política insensível às demandas sociais da população, mas muito sensível à corrupção e aos altos salários: o salário integral do senador é US$ 40 mil e o salário mínimo US$ 500.</div>
<br />
Todas essas razões e mais outras não podiam manter um modelo ‘’<b><i>perfeito</i></b>’’ como se falava, pois macroeconomicamente apresentava indicadores de primeiro mundo, mas microeconomicamente mostra padrões de terceiro mundo. Deve-se mudar a estrutura macro institucional e econômica, onde não pode seguir existindo que 5 famílias controlam 90% do PIB e o resto “<i><b>se vira</b></i>’’ diariamente no metrô.<br />
<br />
As mudanças chegaram para ficar, onde os atores desta mudança não estão no Palácio de La Moneda e, muito menos, no congresso e nos grupos econômicos. Eles estão na rua ou viajando de metrô, onde todos são iguais. <br />
<br />
<i><b>Rene Berardi </b></i>é doutor em sociologia e atua como professor do ISAE Escola de Negócios (www.isaebrasil.com.br)<br />