O censo, a mulher e o agro 4.0

03 de dezembro de 2019 às 16:41

Coriolano Xavier
O crescimento do espa&ccedil;o econ&ocirc;mico-social da mulher no campo aumentou em todo o pa&iacute;s. Em 2006, elas representavam cerca de 12% dos produtores rurais e, em 2017, chegaram a 18% do total. A informa&ccedil;&atilde;o vem do Censo Agropecu&aacute;rio 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE), cujos dados finais foram divulgados em outubro e mostram claramente a maior participa&ccedil;&atilde;o das mulheres na produ&ccedil;&atilde;o e condu&ccedil;&atilde;o dos neg&oacute;cios no agro, revertendo uma situa&ccedil;&atilde;o hist&oacute;rica de baixa visibilidade feminina. <br /> &nbsp;<br /> De acordo com o Censo, 650 mil propriedades s&atilde;o geridas exclusivamente por mulheres, enquanto 1,06 milh&atilde;o tem sua administra&ccedil;&atilde;o dividida entre o casal. N&uacute;meros que mostram a mulher como protagonista ou parceira na gest&atilde;o de 1,7 milh&atilde;o de unidades de produ&ccedil;&atilde;o, ou seja, 34% dos cinco milh&otilde;es de estabelecimentos rurais existentes no pa&iacute;s. Com um aspecto bastante relevante, apontado pelo Censo: a maioria dessas mulheres que tocam as propriedades, sozinhas ou em parceria, tem idade entre 24 e 45 anos. <br /> &nbsp;<br /> S&atilde;o jovens e ascendentes, na perspectiva do ciclo profissional das pessoas, e seu fortalecimento no campo ocorre em momento de profunda transforma&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica, com a chegada da agricultura 4.0 e suas oportunidades de intelig&ecirc;ncia artificial e automa&ccedil;&atilde;o. Um novo cen&aacute;rio evolutivo do agro, que encontra cadeias produtivas de alta competitividade internacional, mas tamb&eacute;m uma realidade social em que pessoas analfabetas e que n&atilde;o terminaram o ensino fundamental ainda representam 66% da popula&ccedil;&atilde;o envolvida na produ&ccedil;&atilde;o rural &ndash; este tamb&eacute;m um dado do Censo Agropecu&aacute;rio.<br /> &nbsp;<br /> Sabe-se que a tecnologia muitas vezes altera padr&otilde;es organizacionais e sociais, gerando novos desafios de gest&atilde;o com o papel de harmonizar o m&aacute;ximo poss&iacute;vel a transi&ccedil;&atilde;o entre duas realidades produtivas. O que n&atilde;o &eacute; bem novidade por aqui, pois historicamente o agro brasileiro j&aacute; teve que se reinventar v&aacute;rias vezes por conta do impacto de tecnologias disruptivas. Dos fundamentos da Revolu&ccedil;&atilde;o Verde nos anos 1970 &agrave; edi&ccedil;&atilde;o gen&eacute;tica que incorpora resist&ecirc;ncia a doen&ccedil;as, por exemplo, o setor j&aacute; conviveu um bocado de vezes com a desconstru&ccedil;&atilde;o criadora t&iacute;pica da ci&ecirc;ncia.<br /> &nbsp;<br /> A mulher tem um senso de autocr&iacute;tica e de inclus&atilde;o muito grande. E por isso pode ter um papel de extrema contribui&ccedil;&atilde;o nesse contexto demandante de reinven&ccedil;&atilde;o das pessoas, que vem junto com a tecnologia 4.0 e sua pot&ecirc;ncia de mudar o modo como fazemos as coisas, em profundidade, provocando impactos sociais concretos. Hora de dar boas-vindas a essa ascens&atilde;o das mulheres ao design e constru&ccedil;&atilde;o das rela&ccedil;&otilde;es com o capital humano rural &ndash; seu engajamento e direcionamento evolutivo. Isso tem a ver com futuro e vale pensar como se pode criar mecanismos, ferramentas e processos que estimulem a participa&ccedil;&atilde;o da mulher gestora do campo na formata&ccedil;&atilde;o e harmoniza&ccedil;&atilde;o desse agro em turbilh&atilde;o tecnol&oacute;gico.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_coriolano-xavier_vice-presidente-de-comunicacao-ccas(1).jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Coriolano Xavier</b></i>, membro do Conselho Cient&iacute;fico Agro Sustent&aacute;vel (CCAS) e Professor da ESPM.