A Exclusão e o Pancadão

03 de dezembro de 2019 às 17:02

Fernando Rizzolo
Uns anos atr&aacute;s, escrevi um artigo sobre a repress&atilde;o praticada pelos seguran&ccedil;as dentro dos shoppings centers em S&atilde;o Paulo, uma vez que n&atilde;o permitiam que grupos de jovens da periferia, que marcavam encontros chamados de &ldquo;rolezinhos&rdquo;, frequentassem os espa&ccedil;os dos shoppings.<br /> &nbsp;<br /> O caso da invas&atilde;o policial a um baile funk, do qual, segundo informa&ccedil;&otilde;es, participavam mais de 5.000 jovens, em virtude de uma persegui&ccedil;&atilde;o dentro da comunidade de Parais&oacute;polis, uma das maiores de S&atilde;o Paulo, com mais de 100.000 moradores, e que culminou com nove mortes numa verdadeira invas&atilde;o policial tumultuada, denota o horror a que chegamos em termos de despreparo e impetuosidade policial em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; popula&ccedil;&atilde;o pobre deste pa&iacute;s.<br /> <br /> A grande verdade &eacute; que temos que olhar toda a situa&ccedil;&atilde;o de um ponto de vista que vai al&eacute;m do que realmente aconteceu, at&eacute; porque a&ccedil;&otilde;es policiais s&atilde;o necess&aacute;rias em determinadas situa&ccedil;&otilde;es, mas &eacute; muito importante refletir n&atilde;o somente sobre o fato em si, que &eacute;, sim, de grande desproporcionalidade entre a atua&ccedil;&atilde;o da pol&iacute;cia e o comportamento dos jovens pobres da periferia. O que vivenciamos hoje &eacute; a pol&iacute;tica do abandono total, na qual se nega qualquer chance de um futuro promissor aos jovens da periferia deste pa&iacute;s, estigmatizados por viverem em uma comunidade, por serem negros, por serem pardos. <br /> <br /> As vozes do planalto enaltecem a atua&ccedil;&atilde;o militar, o desprezo pela desigualdade de oportunidades, o desemprego, a mis&eacute;ria e o superencarceramento em massa exatamente daqueles que s&atilde;o v&iacute;timas da falta do Estado no provimento do desenvolvimento do tecido social j&aacute; t&atilde;o desvalorizado, com 12,8 milh&otilde;es de desempregados, 13,5 milh&otilde;es de brasileiros ganhando menos que 145 reais e 12 milh&otilde;es vivendo na extrema pobreza. <br /> <br /> Para um jovem sem esperan&ccedil;a, filho da mis&eacute;ria e do desemprego, viver numa comunidade &eacute; a &uacute;nica possibilidade, sendo que a grande maioria s&atilde;o fam&iacute;lias constitu&iacute;das apenas pelas m&atilde;es solteiras e seus filhos. <br /> <br /> Nessa vertente desesperadora de exclus&atilde;o, incluindo exemplos como os dos &ldquo;rolezinhos&rdquo; em shopping centers, j&aacute; ficou provado que a &uacute;nica divers&atilde;o para esses jovens s&atilde;o os chamados &ldquo;pancad&otilde;es&rdquo;, embalados pelo funk. <br /> <br /> A pol&iacute;tica do &ldquo;<i><b>ajuste fiscal</b></i>&rdquo;, da prioriza&ccedil;&atilde;o do capital, da exclus&atilde;o social que se agrava a cada dia, numa jangada perdida e sem rumo nos mares macroecon&ocirc;micos, nos faz refletir sobre a delet&eacute;ria influ&ecirc;ncia das pol&iacute;ticas socioecon&ocirc;micas que passam pela liberaliza&ccedil;&atilde;o de componente repressivo, como pris&otilde;es abarrotadas e inspira&ccedil;&otilde;es de cunho &ldquo;<i><b>excludentes de ilicitude</b></i>&rdquo;, levando ao excesso das a&ccedil;&otilde;es policiais, reflexo puro e simples de uma pol&iacute;tica econ&ocirc;mica inspirada na promo&ccedil;&atilde;o da viol&ecirc;ncia do Estado.<br /> <br /> Para finalizar, poucos daqueles que apregoam a pris&atilde;o em segunda inst&acirc;ncia se manifestam quando o problema &eacute; com o pobre, ou a periferia, est&atilde;o, sim, cegos de vingan&ccedil;a e sem emo&ccedil;&atilde;o. Enquanto isso, jovens pobres morrem no chamado &ldquo;<b><i>pancad&atilde;o</i></b>&rdquo;, sua &uacute;nica op&ccedil;&atilde;o de divers&atilde;o.<br /> <br /> <i><b>Fernando Rizzolo</b></i> &eacute; Advogado, Jornalista, mestre em Direitos Fundamentais.