Professor sem emprego e renda

24 de dezembro de 2019 às 17:52

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
Leio, na pesquisa de Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Airton Sena, que o Brasil corre o risco de ter, nos pr&oacute;ximos anos, um batalh&atilde;o de professores desempregados, porque formou mais do que o necess&aacute;rio. Entre 2013 e 2017, formamos&nbsp; 1,148 milh&atilde;o de docentes para o ensino b&aacute;sico, o que equivale &agrave; metade de toda a classe em atividade. Mais 1,5 milh&atilde;o dever&atilde;o sair dos cursos de pedagogia e licenciatura durante os pr&oacute;ximos cinco anos. Isso nos coloca na condi&ccedil;&atilde;o de &ldquo;pa&iacute;s de professores&rdquo;, embora muitos deles fadados ao desemprego.<br /> <br /> Venho do tempo em que toda mo&ccedil;a era incentivada a se formar professora e, depois de formada, enfrentava as dificuldades de lecionar em fazendas e localidades distantes, privando-se do conv&iacute;vio familiar e de suas comunidades de origem. Mas era um tempo em que se dizia faltar professores e sua forma&ccedil;&atilde;o era bem vinda. No entanto, as mudan&ccedil;as de perfil econ&ocirc;mico, notadamente o &ecirc;xodo rural, que trouxe as popula&ccedil;&otilde;es do campo para a cidade, mudaram o quadro. Mais recentemente, a redu&ccedil;&atilde;o das taxas de natalidade tamb&eacute;m diminui a demanda de alunos &agrave; escola b&aacute;sica. S&atilde;o Paulo, por exemplo, que em 2018 teve 7,13 milh&otilde;es de matr&iacute;culas, dever&aacute; registrar 6,44 milh&otilde;es em 2050. A chance de emprego para os formados do mercado est&aacute; na aposentadoria dos atuais titulares das aulas, mas isso ser&aacute; insuficiente para absorver a todos.<br /> <br /> A forma&ccedil;&atilde;o desse contingente sem a expectativa de coloca&ccedil;&atilde;o &eacute; prova de um pa&iacute;s desorganizado. Isso ocorre com diferentes profiss&otilde;es cujas pol&iacute;ticas de forma&ccedil;&atilde;o atendem apenas o interesse econ&ocirc;mico das escolas da &aacute;rea mas n&atilde;o levam em considera&ccedil;&atilde;o o mercado. Vem da&iacute; a frustra&ccedil;&atilde;o dos que possuem o diploma nas n&atilde;o sabem o que dele fazer. A isso soma-se a ideologiza&ccedil;&atilde;o do ensino que, em vez de profissionais, produz militantes sem qualquer utilidade para o ensino ou as respectivas profiss&otilde;es, mas massa de manobra para governantes e segmentos pol&iacute;tico-ideol&oacute;gicos.<br /> <br /> Formar profissionais desnecess&aacute;rios &eacute; praticamente estelionato. Aplica-se&nbsp; recursos p&uacute;blicos ou das fam&iacute;lias sem que isso resulte no encaminhamento do formado. &Eacute; um grande desafio para as autoridades, os especialistas e a pr&oacute;pria sociedade, encontrar os meios de qualifica&ccedil;&atilde;o sem jamais produzir &ldquo;fornadas&rdquo; de professores, jornalistas, advogados, engenheiros e outros profissionais em numero superior &agrave; expectativa de absor&ccedil;&atilde;o pelo mercado. Antes do interesse dos operadores do ensino &eacute; preciso colocar a demanda.&nbsp; Sem isso, continuaremos com altos investimentos e sem Educa&ccedil;&atilde;o que resolva o problema da sociedade e, principalmente, dos educandos... &nbsp;<br /> &nbsp;<br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br <br />