Novo ano, novos hábitos

09 de janeiro de 2020 às 10:27

Helena Ben
N&atilde;o lembro o contexto exato dessa busca, mas, um dia, l&aacute; pelo in&iacute;cio de 2011, eu estava em uma &ldquo;opera&ccedil;&atilde;o de guerra&rdquo; atr&aacute;s de uma pessoa espec&iacute;fica no Facebook. Nessa varredura pela rede social, encontrei uma foto curiosa: era uma banda liderada por um guitarrista com uma cabe&ccedil;a de cavalo e outras 3 pessoas com uma roupa bem estranha e uma esp&eacute;cie de maquiagem esquisita. O primeiro &iacute;mpeto foi clicar na pessoa marcada na cabe&ccedil;a do cavalo (&oacute;bvio). Busquei o perfil dele e percebi que era um estudante de medicina. Vasculhei um pouco e segui clicando em todos os nomes da banda. N&atilde;o achei quem eu estava procurando, mas percebi um certo &ldquo;padr&atilde;o&rdquo; nessas pessoas aleat&oacute;rias: todos eram estudantes de medicina e, pelo que parecia, al&eacute;m de terem uma banda juntos, faziam jantares, iam a festas, andavam de bike e, pelo que reparei, os que tinham namorada, namoravam estudantes da turma. Sempre em grupo, sempre os mesmos estudantes de medicina. <br /> &nbsp;<br /> Na &eacute;poca, eu tamb&eacute;m estudava e j&aacute; come&ccedil;ava a trilhar minha carreira publicit&aacute;ria. E, em um determinado momento, percebi que estava fazendo o mesmo que a banda da cabe&ccedil;a de cavalo: andava com as mesmas pessoas, ia aos mesmos lugares, fazia os mesmos programas que todos os meus amigos de faculdade. Ok, mas qual o problema disso? <br /> &nbsp;<br /> Talvez para os estudantes de medicina n&atilde;o houvesse problema algum, justamente o contr&aacute;rio. O fato de conviver com pessoas que encaram a mesma jornada estressante de estudo auxiliava a lidar com a press&atilde;o e manter, o m&iacute;nimo, de vida social. J&aacute; na publicidade, a gente escuta desde o come&ccedil;o frases do tipo: &ldquo;o segredo da criatividade &eacute; saber esconder as fontes&rdquo;. U&eacute;, mas, afinal, como poderia ou deveria esconder as fontes j&aacute; que todos consumiam exatamente a mesma coisa? <br /> &nbsp;<br /> Ent&atilde;o, se o segredo para a criatividade &eacute; o repert&oacute;rio e as conex&otilde;es que fazemos, como podemos ser criativos se consumirmos, falarmos e convivermos apenas com os &ldquo;iguais&rdquo; a n&oacute;s? &nbsp;<br /> &nbsp;<br /> Para mim, o segredo da criatividade mora a&iacute;, em estar aberto a conhecer as coisas que est&atilde;o fora das zonas do &ldquo;gosto&rdquo; ou &ldquo;n&atilde;o gosto&rdquo;. Estar aberto ao diferente, e n&atilde;o s&oacute; ao que voc&ecirc;, seus amigos e sua bolha consomem. <br /> &nbsp;<br /> V&aacute; ver Coringa, mesmo que voc&ecirc; n&atilde;o goste de filmes de super-her&oacute;is, e aproveite para pegar a fila do M&eacute;qui n&uacute;mero 1.000 s&oacute; para sentir como &eacute; a experi&ecirc;ncia. &Agrave; noite, permita-se entrar naquele restaurante de comida local que fica na esquina do seu bairro e que voc&ecirc; nunca foi porque sempre est&aacute; vazio. <br /> &nbsp;<br /> V&aacute; &agrave;queles museus &lsquo;instagram&aacute;veis&rsquo; na sua pr&oacute;xima viagem, mas tamb&eacute;m v&aacute; ver arte sacra, pr&eacute;-hist&oacute;rica ou algo que voc&ecirc; nunca teve curiosidade ou interesse, apenas para aprender algo que voc&ecirc; n&atilde;o esperava. <br /> &nbsp;<br /> Assine a Netflix para entender os fen&ocirc;menos de La Casa de Papel, Vis a Vis e Stranger Things, mesmo que seja para assistir a um epis&oacute;dio e largar no meio. De vez em quando, lembre-se de assistir &agrave; Globo para ver aquele combo de Jornal Nacional + novela das 9 (e n&atilde;o, n&atilde;o troque de canal nos comerciais). <br /> &nbsp;<br /> Escute suas playlists personalizadas do Spotify e descubra todas aquelas bandas novas e diferentes que s&oacute; voc&ecirc; conhece, mas permita-se fazer uma viagem um dia escutando o Top 50 do Spotify e entender o que est&aacute; de fato nos ouvidos das pessoas. <br /> &nbsp;<br /> Fa&ccedil;a uma aula de Crossfit, mesmo que voc&ecirc; s&oacute; pratique o bom e velho levantamento de copo. Ou, permita-se sair da dieta um dia e v&aacute; tomar uma cerveja em plena ter&ccedil;a-feira com seus colegas de col&eacute;gio que tomaram rumos totalmente diferentes do seu. <br /> &nbsp;<br /> Fique com o filho de um amigo e pe&ccedil;a para ele te mostrar todos os v&iacute;deos de YouTube que ele gosta. Siga pessoas estranhas nas redes sociais, mesmo que voc&ecirc; n&atilde;o concorde com o ponto de vista de cada uma delas. <br /> &nbsp;<br /> N&atilde;o &eacute; sobre ser hipster ou mainstream. <br /> &nbsp;<br /> Permita-se ver e viver experi&ecirc;ncias que n&atilde;o t&ecirc;m absolutamente nada a ver com voc&ecirc; e que, talvez, n&atilde;o fa&ccedil;a sentido nenhum no momento. Afinal, nem sempre os gostos e h&aacute;bitos dos nossos clientes (e dos clientes dos nossos clientes) s&atilde;o iguais aos nossos. Quase nunca na verdade! <br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_helena-ben_publicitaria-socia-agencia-batuca.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Helena Ben</b></i>, publicit&aacute;ria, s&oacute;cia na ag&ecirc;ncia Batuca.