Crise EUA x Irã: o esboço de uma guerra de inteligência

10 de janeiro de 2020 às 10:59

Carlo Barbieri
Para debater a recente quest&atilde;o entre os EUA e Ir&atilde; &eacute; importante come&ccedil;ar avaliando o passado pol&iacute;tico e diplom&aacute;tico que envolve os dois pa&iacute;ses ao longo da hist&oacute;ria. EUA, outras pot&ecirc;ncias e Ir&atilde;, assinaram, ainda durante o Governo Obama, um acordo para impedir o pa&iacute;s do oriente m&eacute;dio desenvolvesse programa nuclear contra Israel -- uma meta p&uacute;blica do Governo iraniano. <br /> <br /> Esse acordo n&atilde;o previu nenhuma cl&aacute;usula de restri&ccedil;&atilde;o ao Ir&atilde;, no que diz respeito &agrave; expans&atilde;o do regime Xiita para outros pa&iacute;ses, em particular para aquela &aacute;rea do Oriente M&eacute;dio, em que o Ir&atilde; tem interesse em expandir a sua atua&ccedil;&atilde;o. Esse fato acabou levando o presidente Donald Trump a adotar v&aacute;rias medidas tentando fazer o Ir&atilde; limitar a sua atua&ccedil;&atilde;o fora do seu territ&oacute;rio. Por&eacute;m, n&atilde;o era a intera&ccedil;&atilde;o do Ir&atilde; fazer isso. <br /> <br /> Com o decorrer do tempo, os EUA viram que os bilh&otilde;es de d&oacute;lares investidos e as facilidades econ&ocirc;micas concedidas ao Ir&atilde; durante a gest&atilde;o Obama, estavam sendo menos utilizados para benef&iacute;cio da popula&ccedil;&atilde;o iraniana e mais para prepara&ccedil;&atilde;o de armamentos capazes de transformar o pa&iacute;s em uma pot&ecirc;ncia militar. Esta medida conferiria ao Ir&atilde; o poder de influenciar, atrav&eacute;s de uma agenda revolucion&aacute;ria, a&ccedil;&otilde;es no L&iacute;bano, na S&iacute;ria, no Iraque e em outros pa&iacute;ses da regi&atilde;o. <br /> <br /> Enxergando al&eacute;m da apar&ecirc;ncia diplom&aacute;tica, o governo americano deixou o acordo e iniciou press&otilde;es econ&ocirc;micas mais fortes contra o Ir&atilde;, que perdeu f&ocirc;lego na sua pr&oacute;pria sobreviv&ecirc;ncia econ&ocirc;mica. Essa medida imp&otilde;es ao Ir&atilde; a op&ccedil;&atilde;o de sentar &agrave; mesa para negociar novos termos ou para limita&ccedil;&atilde;o do seu pr&oacute;prio expansionismo pol&iacute;tico na regi&atilde;o ou, contrariamente aos EUA, frear o expansionismo Iraniano. <br /> <br /> O general Qassem suleimani, considerado a segunda pessoa mais forte do pa&iacute;s, entendeu que o mais adequado para o Ir&atilde; seria criar uma s&eacute;rie de a&ccedil;&otilde;es belicosas, por parte do Ir&atilde;, para atrav&eacute;s delas buscar um acordo com os EUA que fosse mais favor&aacute;vel ao Ir&atilde;. E como disse o pr&oacute;prio presidente americano Donald Trump, o Ir&atilde; nunca ganhou uma guerra, mas sempre venceu todas as batalhas diplom&aacute;ticas e sempre fez os melhores acordos. <br /> <br /> O que aconteceu com isso &eacute; que ele passou a iniciar uma s&eacute;rie de a&ccedil;&otilde;es que viessem de alguma forma a for&ccedil;ar aos EUA a essa posi&ccedil;&atilde;o. Ent&atilde;o foram iniciados uma s&eacute;rie de atentados contra navios americanos e outros navios na regi&atilde;o. A derrubada de um drone americano fora da &aacute;rea do Ir&atilde;. E entre outras a&ccedil;&otilde;es, a prepara&ccedil;&atilde;o para ser feita uma nova Benghazi no Iraque. <br /> <br /> Acompanhamos na imprensa a invas&atilde;o dos seguidores do general Solimani na &aacute;rea verde onde est&aacute; a embaixada americana. Buscando verificar um m&iacute;nimo de resist&ecirc;ncia para l&aacute; criar um novo Benghazi. Esse era um plano que todos sabiam. E sendo feito isso eles tomariam a embaixada americana e os ref&eacute;ns americanos. E tentariam for&ccedil;ar, dessa maneira, aos EUA que negociassem a liberta&ccedil;&atilde;o dos seus cidad&atilde;os e dos ref&eacute;ns por conta de uma pol&iacute;tica menos severa com o Ir&atilde;, particularmente nas restri&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas. <br /> <br /> Ao notar esse plano, logicamente conhecido e amplamente divulgado, o Presidente americano Donald Trump entendeu que esta negocia&ccedil;&atilde;o, pr&oacute;xima e futura, deveria ser feita com ref&eacute;ns j&aacute; obtidos pelo Ir&atilde; e que o pa&iacute;s deveria ser paralisado atrav&eacute;s de uma a&ccedil;&atilde;o en&eacute;rgica de liquida&ccedil;&atilde;o e morte desse general. <br /> <br /> Esse olhar hist&oacute;rico &eacute; fundamental para entendermos que isso &eacute; uma guerra pol&iacute;tica muito mais travada no campo da intelig&ecirc;ncia do que propriamente na configura&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&otilde;es armadas. A&ccedil;&otilde;es armadas apenas conduzidas para pressionar por um acordo. <br /> <br /> Feita a interven&ccedil;&atilde;o americana, em minha opini&atilde;o, at&eacute; bastante cir&uacute;rgica, apenas com a morte do general, sem danos colaterais, o efeito foi o levante, primeiramente, dos seguidores do general no pr&oacute;prio Ir&atilde; e em seguida a busca for&ccedil;ada por apoio da Europa na condena&ccedil;&atilde;o do atentado americano. Logicamente que o que est&aacute; em jogo n&atilde;o &eacute; exatamente a morte do general, mas sim toda uma pol&iacute;tica, uma geopol&iacute;tica de domina&ccedil;&atilde;o do Oriente M&eacute;dio. <br /> <br /> Nesse jogo de intelig&ecirc;ncias, a Europa acabou entendendo que se ela seguisse numa linha de condena&ccedil;&atilde;o Americana deporia contra Si, tendo ao final, que aceitar o aumento do pre&ccedil;o do petr&oacute;leo e as consequ&ecirc;ncias do fortalecimento econ&ocirc;mico do Ir&atilde;. Uma atitude, tomada muito rapidamente em termos pol&iacute;ticos, que obrigou o Ir&atilde; a moderar suas rea&ccedil;&otilde;es. <br /> <br /> &Eacute; primordial ressaltar a pol&iacute;tica de negocia&ccedil;&atilde;o leonina que Donald Trump adota, desde que iniciou a gest&atilde;o. Sendo este, o ano da corrida &agrave; reelei&ccedil;&atilde;o, contar com o apoio popular massivo, n&atilde;o obstante &agrave;s tentativas democratas de encontrar irresponsabilidade no ato do Presidente, o pr&oacute;prio partido Democrata n&atilde;o cogitou a situa&ccedil;&atilde;o como antiamericana particularmente. <br /> &nbsp;<br /> <img src="/uploads/image/artigos_carlo-barbieri_analista-politico-e-economista.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> Por <i><b>Carlo Barbieri</b></i> &eacute; analista pol&iacute;tico e economista. Com mais de 30 anos de experi&ecirc;ncia nos Estados Unidos, &eacute; Presidente do Grupo Oxford, a maior empresa de consultoria brasileira nos EUA. Consultor, jornalista, analista pol&iacute;tico, palestrante e educador. Formado em Economia e Direito com mais de 60 cursos de especializa&ccedil;&atilde;o no Brasil e no exterior. oxfordusa.com/ <br /> <br />