Alianças profanas impulsionam a agricultura digital

10 de janeiro de 2020 às 11:01

Cintia Leitão de Souza
A palavra profano vem do latim Profanus e &eacute; oriunda da jun&ccedil;&atilde;o de duas palavras: para o e fanum que significam, literalmente &ldquo;diante do templo&rdquo;. Historicamente utilizada como representa&ccedil;&atilde;o de algo que n&atilde;o &eacute; sagrado ou fora dos padr&otilde;es, o termo era visto at&eacute; ent&atilde;o como pejorativo. No cen&aacute;rio atual de velocidade das mudan&ccedil;as exponenciais, o termo ganha nova conota&ccedil;&atilde;o e notoriedade. Profano ganha ent&atilde;o a roupagem de tudo o que gera valor em ecossistemas de neg&oacute;cios, sendo fora dos padr&otilde;es tradicionais ou de neg&oacute;cios naturalmente complementares.<br /> &nbsp;<br /> Grande parte das empresas se sente confort&aacute;vel em trabalhar com organiza&ccedil;&otilde;es e fornecedores tradicionais ou similares &agrave; sua ind&uacute;stria ou tipo de neg&oacute;cio. Tem sido assim ao longo da evolu&ccedil;&atilde;o da sociedade. Empresas farmac&ecirc;uticas trabalham em parceria com empresas biom&eacute;dicas, empresas automotivas trabalham com montadoras e assim por diante. O ser humano &eacute; assim. Costuma buscar conforto no que &eacute; conhecido e tradicional. Os iguais tendem a escolher os iguais e as alian&ccedil;as tendem a seguir no padr&atilde;o do mesmo prop&oacute;sito.<br /> &nbsp;<br /> Segundo Peter H. Diamandis, presidente executivo da Singularity University, as empresas devem come&ccedil;ar a criar &ldquo;alian&ccedil;as profanas&rdquo;. Devem come&ccedil;ar a construir alian&ccedil;as com empresas que estejam completamente fora do seu campo de neg&oacute;cio ou ramo de atua&ccedil;&atilde;o, mas que sejam capazes de enriquecer ecossistemas. As empresas e pessoas precisam de pensamentos n&atilde;o ortodoxos que os forcem a pensar de forma perpendicular &agrave; sua estrat&eacute;gia e cadeia de valor existentes. &Eacute; preciso desconstruir para construir o novo, repensado e diferente. &Eacute; assim que nascer&aacute; a inova&ccedil;&atilde;o exponencial. <br /> &nbsp;<br /> De acordo com uma pesquisa realizada pela Olin School of Business dos Estados Unidos, 40% das empresas que est&atilde;o listadas hoje na Fortune500 deixar&atilde;o de existir at&eacute; 2025. Para que consigam se reinventar, estas organiza&ccedil;&otilde;es dever&atilde;o buscar sa&iacute;das inovadoras. Talvez uma das sa&iacute;das mais importantes seja incentivar que as pessoas, dentro das pr&oacute;prias organiza&ccedil;&otilde;es, se tornem &ldquo;unlokers&rdquo; &ndash; o termo em ingl&ecirc;s que traduz as pessoas que auxiliam a destravar as ideias inovadoras. S&atilde;o pessoas atentas &agrave;s mudan&ccedil;as, que implementam neg&oacute;cios digitais de alta performance e que conseguem manter a efici&ecirc;ncia dos neg&oacute;cios sem deixar de lado a inova&ccedil;&atilde;o e disrup&ccedil;&atilde;o. Em portugu&ecirc;s, s&atilde;o os intraempreendedores ou intrainovadores. Tocam os neg&oacute;cios atuais com o olho no futuro e na disrup&ccedil;&atilde;o.<br /> &nbsp;<br /> Costumo debater com muita frequ&ecirc;ncia sobre a necessidade das mudan&ccedil;as digitais no agroneg&oacute;cio, &aacute;rea onde atuo h&aacute; mais de 14 anos. Quando falamos ou pensamos em transforma&ccedil;&atilde;o digital no agroneg&oacute;cio brasileiro, n&atilde;o podemos nos furtar &agrave; urgente necessidade de evolu&ccedil;&atilde;o de infraestrutura de conectividade e ainda de telecomunica&ccedil;&atilde;o no pa&iacute;s. Temos s&eacute;rios problemas estruturais a serem superados atrav&eacute;s de investimentos p&uacute;blicos e privados. Sem o investimento e a resolu&ccedil;&atilde;o destes problemas pouco se far&aacute; em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; transforma&ccedil;&atilde;o digital no agroneg&oacute;cio. S&atilde;o as alian&ccedil;as profanas que viabilizar&atilde;o que o agroneg&oacute;cio 4.0 aconte&ccedil;a em um curto espa&ccedil;o de tempo. E encurtar o espa&ccedil;o de tempo &eacute; necess&aacute;rio em fun&ccedil;&atilde;o da rapidez com que as mudan&ccedil;as acontecem.<br /> &nbsp;<br /> <b>Inclus&atilde;o </b><br /> &nbsp;<br /> Imaginemos uma pir&acirc;mide onde a infraestrutura &eacute; a base e o alicerce para toda e qualquer transforma&ccedil;&atilde;o digital. &Eacute; atrav&eacute;s da infraestrutura de cabos, sensores, e sat&eacute;lites que poderemos evoluir para que a conectividade aconte&ccedil;a e se estenda &agrave;s mais diversas regi&otilde;es do pa&iacute;s. A camada de conectividade da pir&acirc;mide n&atilde;o acontece sem a base de infraestrutura esteja instalada e funcionando. Acima da conectividade vem a integra&ccedil;&atilde;o e conex&atilde;o de dados. De todo e qualquer tipo de dado dispon&iacute;vel atrav&eacute;s dos &oacute;rg&atilde;os p&uacute;blicos ligados &agrave; agropecu&aacute;ria e tamb&eacute;m os dados coletados atrav&eacute;s de sensores, tablets, smartphones ou m&aacute;quinas utilizadas nas fazendas. Com os dados conectados, evolu&iacute;mos para a camada de gest&atilde;o. Nesta camada &eacute; a ado&ccedil;&atilde;o de sistemas de gest&atilde;o que far&aacute; com que as transforma&ccedil;&otilde;es aconte&ccedil;am. Os softwares conectam os dados e geram informa&ccedil;&otilde;es em tempo real para que as tomadas de decis&otilde;es sejam baseadas em an&aacute;lises de performance eficientes. S&atilde;o as decis&otilde;es baseadas em Analytics. Por&eacute;m, toda esta organiza&ccedil;&atilde;o piramidal de transforma&ccedil;&atilde;o digital do agroneg&oacute;cio ainda n&atilde;o acontecer&aacute; se n&atilde;o for trabalhada a inclus&atilde;o digital. &Eacute; preciso que as pessoas saibam operar os sistemas e entendam os dados extra&iacute;dos e organizados por eles.<br /> &nbsp;<br /> Esta transforma&ccedil;&atilde;o digital n&atilde;o acontecer&aacute; da noite para o dia e sem esfor&ccedil;o. Acreditamos e fomentamos as &ldquo;alian&ccedil;as profanas&rdquo;. Acreditamos que elas s&atilde;o fator decisivo da mudan&ccedil;a digital no agroneg&oacute;cio brasileiro. Precisamos nos unir. Empresas de tecnologia com empresas de telecomunica&ccedil;&atilde;o, com a ind&uacute;strias de m&aacute;quinas, IoT, institutos de pesquisa, de educa&ccedil;&atilde;o, pulveriza&ccedil;&atilde;o, com ag&ecirc;ncias p&uacute;blicas e privadas, bancos, ONGS, enfim, tantas e quantas empresas estejam dispostas a fomentar a inova&ccedil;&atilde;o exponencial e que n&atilde;o queiram ficar inertes linearmente ao passar do tempo. A transforma&ccedil;&atilde;o digital do agroneg&oacute;cio &eacute; real, mas a grande mudan&ccedil;a ainda est&aacute; por vir.<br /> &nbsp;<br /> <img src="/uploads/image/artigos_cintia-leitao_diretora-agro-senior.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Cintia Leit&atilde;o de Souza</b></i> &eacute; diretora de Agroneg&oacute;cio da Senior Sistemas&nbsp;&nbsp; <br />