O Coringa que te habita

16 de janeiro de 2020 às 08:20

Leonardo Torres
N&atilde;o &eacute; surpresa que o filme &ldquo;Coringa&quot;, de Joaquim Phoenix e Todd Phillips, tenha obtido 11 indica&ccedil;&otilde;es ao Oscar. Este &eacute; um dos filmes que, no m&iacute;nimo, gostando ou n&atilde;o, intrigam cada um de n&oacute;s. Assim que o filme foi lan&ccedil;ado, seu impacto causou tanta estranheza que muitos se perguntaram: quem &eacute; e onde est&aacute; o Coringa da vida real? Consequentemente, muitos dedos foram apontados: aos pol&iacute;ticos, aos marginalizados, etc.. A resposta mais convincente foi dada por um colega da Psicologia, Jos&eacute; Balestrini, que pontou que o Coringa &eacute;, simplesmente, o coringa: ou seja, uma m&aacute;scara que cabe em todos n&oacute;s.<br /> <br /> A outra face do Coringa &eacute; o palha&ccedil;o Happy, traduzindo para o portugu&ecirc;s: o Feliz. Ele quer trabalhar, &eacute; dedicado, tenta ganhar o seu dinheiro, sonha em ser um astro, ou melhor, ter reconhecimento, isto &eacute;, como sin&ocirc;nimo disso tudo: ser feliz. Esta descri&ccedil;&atilde;o corresponde &agrave; grande parte da sociedade atual. A busca da felicidade como sin&ocirc;nimo de sucesso, dinheiro e poder &eacute; um imperativo no mundo. <br /> <br /> Por&eacute;m, a busca da felicidade gera uma expectativa t&atilde;o grande na sociedade, que muitos indiv&iacute;duos, hoje, ao n&atilde;o conseguirem alcan&ccedil;&aacute;-la, fazem uso equivocado de medicamentos, como o clonazepam, para suportar a frustra&ccedil;&atilde;o de suas vidas. A quest&atilde;o &eacute; que felicidade n&atilde;o &eacute; sin&ocirc;nimo de dinheiro, sucesso ou poder. A Psicologia Anal&iacute;tica entende que n&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel estar em um estado de felicidade sem, frequentemente, enfrentarmos um estado depressivo. E, quem nega as pr&oacute;prias tristezas, frustra&ccedil;&otilde;es, entre outros sentimentos que julgamos negativos, acaba por torn&aacute;-los mais frequentes e maiores. O clonazepam ajuda a anestesi&aacute;-los, mas n&atilde;o os elimina. <br /> <br /> Quando a nega&ccedil;&atilde;o destes sentimentos j&aacute; n&atilde;o &eacute; mais suportada, eles nos tomam de uma vez s&oacute;. Por isso, &eacute; muito comum vermos popstars que conquistam uma r&aacute;pida fama enfrentarem um quadro depressivo logo em seguida. Se aceit&aacute;ssemos nossas tristezas em pequenas doses di&aacute;rias, conseguir&iacute;amos tamb&eacute;m ser felizes em doses di&aacute;rias. <br /> <br /> Quando Happy veste a m&aacute;scara do Coringa, ele n&atilde;o aceita em si todas suas d&uacute;vidas, frustra&ccedil;&otilde;es e tristezas, o que seria o caminho certo, psicologicamente falando. Ele rompe com o pr&oacute;prio Happy em si, ele cinde, e &eacute; engolido por todos estes sentimentos sombrios. Isso faz nascer o Coringa. N&oacute;s n&atilde;o somos diferentes: todos temos tristezas, frustra&ccedil;&otilde;es e d&uacute;vidas. Resta-nos entender as nossas e n&atilde;o apontar dedos para as do indiv&iacute;duo ao lado. O lado sombrio e negativo da vida &eacute; inevit&aacute;vel. A &uacute;nica coisa poss&iacute;vel de se fazer &eacute; escolher o que fazer com elas. <br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_leonardo-torres_palestrante-professor-e-doutorando-comunicacao.jpg" alt="" width="60" height="80" align="left" /><br /> <br /> Por <b><i>Leonardo Torres</i></b>, Professor e Palestrante, Doutorando em Comunica&ccedil;&atilde;o e P&oacute;s-graduando em Psicologia Junguiana