Os esqueletos e o jeitinho brasileiro

24 de fevereiro de 2020 às 10:28

Tenente Dirceu Cardoso Gon&
Coisas malfeitas do passado s&atilde;o denominadas &ldquo;esqueletos no arm&aacute;rio&rdquo;. O senso geral diz que os seus autores procuram esconder e os advers&aacute;rios os exp&otilde;em, mas poucos s&atilde;o os dispostos a enfrentar (e resolver) os problemas. N&atilde;o s&oacute; a m&aacute; f&eacute;, a corrup&ccedil;&atilde;o, a des&iacute;dia e o desejo de levar vantagem em tudo s&atilde;o os criadores de tais caveiras. Muitas delas resultam das varia&ccedil;&otilde;es da vis&atilde;o pol&iacute;tico-social e, at&eacute;, de bons prop&oacute;sitos que por alguma raz&atilde;o n&atilde;o alcan&ccedil;aram seus objetivos. Todo ocupante de cargo p&uacute;blico &ndash; eleito ou nomeado &ndash; ao assumir, d&aacute; de cara com esqueletos cuja exist&ecirc;ncia desconhecia, a maioria deles, de dif&iacute;cil solu&ccedil;&atilde;o. Os irrespons&aacute;veis fazem de conta n&atilde;o ver e deixam o tempo passar; j&aacute; os ciosos de seus deveres, procuram solucion&aacute;-los e, muitas vezes, s&atilde;o impiedosamente atacados justamente pelos produtores das ossadas, normalmente temerosos de suas a&ccedil;&otilde;es e a verdadeira cara virem a p&uacute;blico.<br /> <br /> Temos no Brasil um enorme passivo ambiental decorrente de erros e omiss&otilde;es no processo de urbaniza&ccedil;&atilde;o. Administradores temer&aacute;rios desmataram pontos b&aacute;sicos do sistema h&iacute;drico, canalizaram vales com tubula&ccedil;&atilde;o insuficiente, impermeabilizaram o solo sem qualquer t&eacute;cnica de drenagem e &ndash; o pior &ndash; nunca se preocuparam com a destina&ccedil;&atilde;o do lixo e dos esgotos, jogados &ldquo;in natura&rdquo; nos rios. Criaram assim as inunda&ccedil;&otilde;es urbanas, a escassez de &aacute;gua pot&aacute;vel e outros problemas &agrave; sa&uacute;de da popula&ccedil;&atilde;o. Mesmo depois da edi&ccedil;&atilde;o do Plano Nacional de Saneamento, no come&ccedil;o dos anos 70, a produ&ccedil;&atilde;o de esqueletos novos e preserva&ccedil;&atilde;o dos antigos continuou. Apesar de exist&ecirc;ncia de programas e verbas (at&eacute; a fundo perdido) para os servi&ccedil;os, governos incompetentes n&atilde;o os realizam ou chegam a utiliz&aacute;-los para promover favorecimentos e outros resultados criminosos. E o povo continuou sofrendo.<br /> <br /> O grande problema nacional &eacute; a falta de cumprimento de normas e regulamentos. Os levantamentos dizem, por exemplo, que 53% dos brasileiros n&atilde;o t&ecirc;m acesso &agrave; rede de esgoto. Isso resulta de ocupa&ccedil;&otilde;es irregulares, falta de investimento e outras omiss&otilde;es governamentais.<br /> <br /> Temos um vasto arcabou&ccedil;o legal e experi&ecirc;ncia t&eacute;cnica para aplic&aacute;-lo de forma a colocar o pa&iacute;s em igualdade com os melhores do mundo. Mas os esqueletos deixados e negligenciados nos arm&aacute;rios oficiais t&ecirc;m impedido o avan&ccedil;o. Fora as reformas da Uni&atilde;o (que j&aacute; come&ccedil;aram pela Previd&ecirc;ncia), urgem outras de &acirc;mbito federal e as de estados e munic&iacute;pios. Sem elas, continuaremos morrendo por causas banais, na comodista expectativa do pa&iacute;s do futuro. &Eacute; preciso que todos os n&iacute;veis de governo cumpram as leis e atuem para empresas e cidad&atilde;os fazerem o mesmo. O esqueleto do jeitinho brasileiro, embora tardiamente, tem de ser sepultado, na cova mais funda que se puder cavar...<br /> <br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="81" align="left" /><br /> <br /> <br /> Por <b><i>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</i></b>. Dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br<br /> <br />