Carnaval, redes sociais e saúde mental

24 de fevereiro de 2020 às 10:43

Isabel Marçal
A &ldquo;revolu&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica&rdquo;, da qual estamos a bordo, vem transformando o modo como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. O impacto da tecnologia &ndash; cada vez maior em nossa rotina di&aacute;ria &ndash; trouxe muitas mudan&ccedil;as positivas, por&eacute;m, &eacute; preciso ficar atento aos malef&iacute;cios que a utiliza&ccedil;&atilde;o indiscriminada pode acarretar. Muitos estudos relacionam o tempo de uso da internet com quest&otilde;es de sa&uacute;de mental. Depress&atilde;o, transtornos alimentares e suic&iacute;dio parecem estar ligados &agrave; vida online, notadamente ao uso de redes sociais.<br /> <br /> Segundo a empresa brit&acirc;nica GlobalWebIndex &ndash; que estuda o tempo que usu&aacute;rios passam em redes sociais em todo o mundo &ndash; o Brasil &eacute; o segundo pa&iacute;s que mais fica conectado em redes sociais. Em m&eacute;dia, passamos 3 horas e 25 minutos por dia nas redes, atr&aacute;s apenas dos filipinos, com um pouco mais de 4 horas. Supondo um tempo m&eacute;dio de sono de oito horas di&aacute;rias, isso significa que usamos 20% do nosso dia conectado em redes sociais.<br /> <br /> Existem &eacute;pocas que as postagens nas redes sociais se tornam mais frequentes e praticamente &ldquo;obrigat&oacute;rias&rdquo;. Quais s&atilde;o elas?&nbsp; Os eventos pr&eacute;-estabelecidos culturalmente e que se tornaram fontes de bem-estar e realiza&ccedil;&atilde;o. Passam por eles, anivers&aacute;rios, f&eacute;rias, Natal, Ano-Novo e Carnaval. Destes momentos, o Carnaval &eacute; tido como um &aacute;pice de alegria e satisfa&ccedil;&atilde;o. Na vis&atilde;o antropol&oacute;gica &eacute; um ritual de revers&atilde;o, no qual os pap&eacute;is sociais s&atilde;o invertidos e as normas de comportamento s&atilde;o suspensas, fazendo com que possam ser realizados desejos reprimidos. No Brasil, essa &eacute; a maior festa popular e um dos maiores feriados do ano. S&atilde;o cinco dias, para os mais tradicionais, de momentos de pura divers&atilde;o, sendo tudo registrado e postado em tempo real. E este &eacute; um cen&aacute;rio rico para que as compara&ccedil;&otilde;es com os outros aparecem, impreterivelmente, quase que autom&aacute;tica.<br /> <br /> &ldquo;A baixa autoestima, sintoma bem contempor&acirc;neo do sofrimento moderno, se intensifica na rela&ccedil;&atilde;o virtual, ampliando a sensa&ccedil;&atilde;o e a suposi&ccedil;&atilde;o imagin&aacute;ria de que o outro pode, &eacute; ou possui o que lhe falta&rdquo;, afirma psicanalista e colunista volunt&aacute;ria do Instituto Bem do Estar, Mirmila Musse. De acordo com um estudo da Royal Society For Public Health, do qual participaram 1.500 volunt&aacute;rios de 14 a 24 anos, sendo que 90% deles utilizam m&iacute;dias sociais, o Instagram &eacute; o l&iacute;der do ranking de redes sociais mais aliadas &agrave; sensa&ccedil;&atilde;o de solid&atilde;o e ansiedade. Al&eacute;m de ser descrito pelos jovens como mais viciante do que cigarros e &aacute;lcool. Segundo a Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de (OMS), essa faixa et&aacute;ria &eacute; a que mais sofre com problemas de sa&uacute;de da mente, sendo a depress&atilde;o uma das principais causas de adoecimento e defici&ecirc;ncia entre eles. Enquanto o suic&iacute;dio &eacute; a segunda maior causa de morte entre os indiv&iacute;duos de 15 a 29 anos de idade.<br /> <br /> As redes sociais mexem com o nosso instinto do reconhecimento social, aquela sensa&ccedil;&atilde;o boa que voc&ecirc; tem quando recebe muitos likes em uma foto que acabou de postar. Os pesquisadores, do estudo citado acima, apontam que o Instagram &eacute; uma rede social muito focada na imagem, por isso, gera sentimentos de inadequa&ccedil;&atilde;o e ansiedade nos jovens. A intera&ccedil;&atilde;o na internet n&atilde;o gera uma recompensa social real &ndash; e isso pode levar a pioras em quadros de sofrimento ps&iacute;quico.<br /> <br /> O grande segredo para proteger sua sa&uacute;de da mente dos malef&iacute;cios das redes sociais reside em n&atilde;o permitir que sejam substitutas da vida real e da conviv&ecirc;ncia com outros seres humanos. Al&eacute;m disso &eacute; necess&aacute;rio que alguns h&aacute;bitos sejam adotados:<br /> <br /> <div style="margin-left: 40px;">- preste aten&ccedil;&atilde;o em como voc&ecirc; se sente nas intera&ccedil;&otilde;es virtuais;<br /> - pense em para que elas te servem e o que realmente quer consumir;<br /> - restrinja redes que n&atilde;o te tragam benef&iacute;cios;<br /> - estabele&ccedil;a o tempo que voc&ecirc; gostaria de passar em cada rede;<br /> - limite onde e quando utiliz&aacute;-las; e<br /> - pratique momentos ou at&eacute; per&iacute;odos de desconex&atilde;o total, periodicamente.</div> <br /> Aproveite o Carnaval para estar presente, curtindo o momento com as pessoas ao seu redor ou at&eacute; sozinho, descansando. Desconecte-se do mundo paralelo &ndash; e por vezes imagin&aacute;rio &ndash; das redes sociais e SINTA a alegria do Carnaval. A sa&uacute;de da sua mente agradece!<br /> &nbsp;<br /> <img src="/uploads/image/artigos_isabel-marcal_presidente-instituto-bem-do-estar.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Isabel Mar&ccedil;al</b></i>. Presidente do Instituto Bem do Estar