Nesta eleição teremos menos candidatas mulheres

06 de março de 2020 às 10:59

João Miras
Durante os &uacute;ltimos 20 anos, venho fazendo palestras e cursos de comunica&ccedil;&atilde;o e forma&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica para partidos brasileiros. Alguns at&eacute; patrocinados por entidades internacionais, como a funda&ccedil;&atilde;o alem&atilde; Konrad Adenauer. Nos &uacute;ltimos 10 anos, desde a aprova&ccedil;&atilde;o da Lei 12.034/2009, quando a cota das mulheres em campanhas passou a ser obrigat&oacute;ria, parte dessas mentorias foi direcionada &agrave; forma&ccedil;&atilde;o e prepara&ccedil;&atilde;o das candidaturas de mulheres, uma vez que os partidos t&ecirc;m dificuldade de cumprir a legisla&ccedil;&atilde;o e preencher os 30% de vagas a elas destinadas. Dessa atua&ccedil;&atilde;o, decorre a experi&ecirc;ncia adquirida que embasa a constata&ccedil;&atilde;o aqui apresentada. <br /> <br /> As pr&eacute;-campanhas para as elei&ccedil;&otilde;es municipais deste ano est&atilde;o em andamento, assim como as articula&ccedil;&otilde;es para alian&ccedil;as adiantadas para posterior registro das candidaturas. Mas, para aqueles como eu, que j&aacute; est&atilde;o desenvolvendo o trabalho de comunica&ccedil;&atilde;o dos partidos, uma constata&ccedil;&atilde;o que se evidencia nos munic&iacute;pios &eacute; que mais uma vez o Brasil perder&aacute; a oportunidade de aumentar a presen&ccedil;a das mulheres no exerc&iacute;cio de mandatos p&uacute;blicos municipais no Legislativo e Executivo. <br /> <br /> Uma r&aacute;pida an&aacute;lise das &uacute;ltimas elei&ccedil;&otilde;es municipais j&aacute; nos mostra que em 2012 os partidos atingiram 32,57% de candidatas do sexo feminino e nas elei&ccedil;&otilde;es de 2016 &mdash; a &uacute;ltima &mdash; esse percentual caiu para 31,60% (ou 155.587 mulheres concorrendo). Em n&uacute;meros absolutos, pode at&eacute; ser que haja uma supera&ccedil;&atilde;o em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; elei&ccedil;&atilde;o passada, mas, a julgar pelas movimenta&ccedil;&otilde;es apuradas nas dezenas de munic&iacute;pios que tenho visitado, esse n&uacute;mero vai cair percentualmente. <br /> <br /> Por&eacute;m se essa j&aacute; &eacute; uma m&aacute; not&iacute;cia, h&aacute; ainda outras piores, pois o que comprovaremos ap&oacute;s as elei&ccedil;&otilde;es que se avizinham &eacute; que vivemos verdadeiramente um retrocesso, que, inclusive, est&aacute; na contram&atilde;o do que acontece no mundo desenvolvido e at&eacute; em rela&ccedil;&atilde;o aos nossos vizinhos da Am&eacute;rica Latina. <br /> <br /> Primeiro precisamos olhar para o resultado efetivo da implanta&ccedil;&atilde;o da Lei de Cotas e hoje, 11 anos depois, podemos afirmar sem medo de errar que ela &eacute; uma pol&iacute;tica esgotada em si mesma e se n&atilde;o vier acompanhada de outras medidas &mdash; como as adotadas na Argentina, por exemplo &mdash; poderemos tamb&eacute;m perder os pr&oacute;ximos 4 anos. <br /> <br /> Na disputa pelos cargos de vereador em todo o pa&iacute;s, 30%, em m&eacute;dia, s&atilde;o candidatas e 12% das cadeiras s&atilde;o efetivamente vencidas por mulheres. Na disputa para prefeito, 12%, em m&eacute;dia, s&atilde;o candidatas e 10% dos prefeitos s&atilde;o mulheres. Ent&atilde;o, em que pese termos 30% de mulheres disputando as elei&ccedil;&otilde;es para o Legislativo, o fato &eacute; que apenas 12% vencem e ocupam cargos efetivamente. Esse modelo estat&iacute;stico se repetiu, na m&eacute;dia, nas &uacute;ltimas elei&ccedil;&otilde;es desde a implanta&ccedil;&atilde;o da Lei de Cotas. Isso significa que &eacute; quase igual ao percentual de ocupa&ccedil;&atilde;o de cadeiras por mulheres quando a disputa &eacute; para cargos majorit&aacute;rios do poder executivo. Ou seja, temos mais mulheres disputando para o legislativo por obriga&ccedil;&atilde;o da lei, mas, na pr&aacute;tica, a quantidade na ocupa&ccedil;&atilde;o de cadeiras &eacute; muito parecida a de cargos para os quais n&atilde;o h&aacute; obrigatoriedade de cotas para candidatas, como nas disputas para prefeito. Essa &eacute; a maior prova de que a Lei se esgotou. Precisamos avan&ccedil;ar. <br /> <br /> Estamos interpretando os resultados das elei&ccedil;&otilde;es municipais porque acontecem neste ano, mas &eacute; fato que as mulheres ocupam tamb&eacute;m baixos percentuais de vagas nos cargos eletivos na esfera federal: s&atilde;o 10% dos deputados federais e 14% dos senadores, embora sejam metade da popula&ccedil;&atilde;o e da for&ccedil;a de trabalho na economia. O percentual &eacute; id&ecirc;ntico nas Assembleias Estaduais. <br /> <br /> Somos o pen&uacute;ltimo pa&iacute;s, entre os 21 da Am&eacute;rica Latina, em ocupa&ccedil;&atilde;o de cargos no Poder Legislativo por mulheres. Ao nos compararmos com o mundo, apresentamos um dos menores &iacute;ndices de presen&ccedil;a feminina nos Parlamentos. Entre 190 pa&iacute;ses, estamos em 158&ordm; lugar. Precisamos urgentemente de uma nova legisla&ccedil;&atilde;o para que nas elei&ccedil;&otilde;es de 2022 e de 2024 n&atilde;o tenhamos que voltar a lamentar que 50% de singular riqueza da nossa esp&eacute;cie esteja sub-representada nas esferas de comando da nossa consolida&ccedil;&atilde;o como sociedade. Ser&aacute; que temos consci&ecirc;ncia do que estamos perdendo como civiliza&ccedil;&atilde;o? <br /> <br /> Por <i><b>Jo&atilde;o Miras</b></i>, que &eacute; publicit&aacute;rio e estrategista de marketing pol&iacute;tico eleitoral de governos e partidos. <br />