Não é fácil ser mulher no Brasil!

06 de março de 2020 às 11:08

Renata Abreu
Dia 8 pr&oacute;ximo celebramos o Dia Internacional da Mulher. E como todos os anos anteriores, c&aacute; estamos n&oacute;s lutando dia a dia por direitos e por sobreviv&ecirc;ncia num mundo que, infelizmente, ainda nos trata como seres inferiores e submissos. <br /> <br /> Sim, tivemos muitas conquistas e valoriza&ccedil;&otilde;es, mas h&aacute; ainda um longo caminho a percorrer. O Congresso, principalmente a bancada feminina da C&acirc;mara dos Deputados, tem sido altamente produtivo na elabora&ccedil;&atilde;o de projetos destinados &agrave; mulher brasileira, quase todos aprovados por unanimidade. Duas leis origin&aacute;rias de propostas de minha autoria j&aacute; est&atilde;o em vigor no territ&oacute;rio nacional: a criminaliza&ccedil;&atilde;o da importuna&ccedil;&atilde;o sexual e a comunica&ccedil;&atilde;o &agrave; pol&iacute;cia, em at&eacute; 24 horas, dos casos de agress&atilde;o atendidos nas redes p&uacute;blicas e privadas de Sa&uacute;de. <br /> <br /> E os casos de viol&ecirc;ncia continuam a ser o Calcanhar de Aquiles do Brasil. H&aacute; 520 anos, desde o descobrimento do Brasil, as mulheres t&ecirc;m sido alvo da viol&ecirc;ncia sexista. Come&ccedil;ou com as ind&iacute;genas, violentadas pelos colonizadores. Depois, as escravas, agredidas f&iacute;sica e sexualmente pelos &lsquo;sinhozinhos&rsquo; e seus capatazes. E hoje, em pleno s&eacute;culo 21, mulheres de todas as idades, classes e ra&ccedil;as continuam sendo v&iacute;timas da viol&ecirc;ncia f&iacute;sica, sexual, psicol&oacute;gica, patrimonial, moral ou simb&oacute;lica. <br /> <br /> Levantamento feito pela Folha de S.Paulo no ano passado, com dados obtidos atrav&eacute;s da Lei de Acesso &agrave; Informa&ccedil;&atilde;o, mostra 145 mil registros de mulheres agredidas, sendo 70% dentro de suas casas. Isso significa uma agress&atilde;o f&iacute;sica ou psicol&oacute;gica a cada 4 minutos. E a situa&ccedil;&atilde;o &eacute; ainda pior, porque todos n&oacute;s sabemos que a subnotifica&ccedil;&atilde;o desse tipo de crime &eacute; muito grande no Brasil. <br /> <br /> N&atilde;o &eacute; f&aacute;cil ser mulher no Brasil. A cada 11 minutos uma &eacute; estuprada. De cada 10 violentadas, 7 t&ecirc;m at&eacute; 19 anos de idade. Mas, aqui tamb&eacute;m a realidade &eacute; cruel, porque s&oacute; 35% dos casos chegam aos &oacute;rg&atilde;os competentes. <br /> <br /> E o que dizer dos assassinatos cometidos pelo simples fato de a v&iacute;tima ser mulher? O feminic&iacute;dio &eacute; o &aacute;pice da viol&ecirc;ncia, &eacute; um crime de &oacute;dio, que ocorre em situa&ccedil;&otilde;es em que h&aacute; desprezo ou menosprezo &agrave; condi&ccedil;&atilde;o da mulher. <br /> <br /> Somos o quinto pa&iacute;s no mundo que mais mata mulheres. Pasmem, segundo a ONU, em compara&ccedil;&atilde;o com pa&iacute;ses desenvolvidos, no Brasil se mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que na Dinamarca e 16 vezes mais que no Jap&atilde;o ou Esc&oacute;cia. <br /> <br /> Apesar do avan&ccedil;o da legisla&ccedil;&atilde;o penal &mdash; Lei Maria da Penha (2006), endurecimento da legisla&ccedil;&atilde;o de estupro (2009), Lei do Feminic&iacute;dio (2015) e Lei da Importuna&ccedil;&atilde;o Sexual (2018) &mdash; ainda &eacute; crescente o n&uacute;mero de mulheres assassinadas no pa&iacute;s. S&atilde;o 12 mortes por dia, &iacute;ndice muito mais aterrorizante que as enfermidades epid&ecirc;micas amplamente disseminadas que abalam o mundo. <br /> <br /> Ser mulher n&atilde;o pode mais ser sin&ocirc;nimo de perigo constante. Temos leis, &eacute; preciso aplic&aacute;-las e punir os criminosos. Mas a gente s&oacute; aplica as leis porque o crime j&aacute; aconteceu, temos &eacute; de prevenir o crime, enfrentar de vez o problema, com um amplo trabalho de educa&ccedil;&atilde;o e de conscientiza&ccedil;&atilde;o, envolvendo toda a sociedade. <br /> <br /> Precisamos desconstruir alguns comportamentos sociais, come&ccedil;ando pela cultura do machismo, que se manifesta de v&aacute;rias formas; da piada machista ao assassinato mis&oacute;gino; do ass&eacute;dio na rua &agrave; viol&ecirc;ncia dom&eacute;stica; da tortura psicol&oacute;gica ao estupro; do ass&eacute;dio no trabalho &agrave; desigualdade nos espa&ccedil;os do poder. <br /> <br /> N&atilde;o podemos viver com tamanho descalabro. A educa&ccedil;&atilde;o na fam&iacute;lia e nas escolas precisa desempenhar papel fundamental na igualdade de g&ecirc;nero, ensinando as crian&ccedil;as que o respeito &eacute; fundamental para uma vida civilizada. <br /> <br /> O Estado, como regulador da vida em sociedade, precisa assumir seu papel de personagem ativo na prote&ccedil;&atilde;o das mulheres. N&atilde;o pode passar sem investir no problema, como ocorreu ano passado. Tem de priorizar investimento p&uacute;blico, propor pol&iacute;ticas p&uacute;blicas que ataquem o cerne dessa quest&atilde;o, promover a&ccedil;&otilde;es efetivas de preven&ccedil;&atilde;o, de promo&ccedil;&atilde;o dos direitos das mulheres, de assist&ecirc;ncia a essas v&iacute;timas quando elas procuram ajuda. <br /> <br /> Se todos n&oacute;s, entidades, empresariado, cidad&atilde;os e Estado trabalharmos juntos, podemos abrir um caminho para uma nova sociedade em nosso pa&iacute;s, em que todas as mulheres estejam livres a viol&ecirc;ncia! S&oacute; assim poderemos comemorar, pra valer, o Dia da Mulher no Brasil.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/img_renata-abreu_deputada-federal-sp_podemos.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="80" align="left" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Renata Abreu </b></i>&eacute; deputada federal por S&atilde;o Paulo e presidente nacional do Podemos <br />