As candidaturas femininas e as cotas

06 de março de 2020 às 11:09

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
Leio a not&iacute;cia de que, agora que n&atilde;o haver&aacute; mais coliga&ccedil;&atilde;o para as elei&ccedil;&otilde;es proporcionais &ndash; de deputados e vereadores &ndash; os partidos est&atilde;o em busca de mulheres para conseguirem formar os 30% de candidaturas femininas exigidos na regra eleitoral vigente. Esses 30% dever&atilde;o legitimar os 70% de candidatos masculinos, segundo o racioc&iacute;nio l&oacute;gico. Mais uma vez a mulher &eacute; usada indevidamente e corre o risco de cair em problemas como o das candidaturas-laranja, registrado nas elei&ccedil;&otilde;es passadas, quando algumas delas foram candidatas mas n&atilde;o fizeram campanha porque aceitaram a inscri&ccedil;&atilde;o simplesmente para garantir as candidaturas masculinas do restante da chapa. &Eacute; algo que precisa de urgente revis&atilde;o at&eacute; por uma quest&atilde;o e respeito &agrave; figura feminina, que n&atilde;o pode ser usada de maneira t&atilde;o oportunista.<br /> <br /> O ideal seria que tanto homens quanto mulheres tivessem a mesma densidade eleitoral e pudessem concorrer de igual para igual. Mas isso, apesar dos avan&ccedil;os recentes, ainda n&atilde;o ocorre. Dos 513 deputados federais apenas 77 s&atilde;o mulheres, isso porque nas ultimas elei&ccedil;&otilde;es a vit&oacute;ria feminina cresceu 51%. Durante todo o per&iacute;odo do Brasil redemocratizado &ndash; de 1986 at&eacute; a legislatira passada - o n&uacute;mero de deputadas federais oscilou entre 29 e 51. Em 1982 elegeram-se apenas oito e, retroativamente, quatro em 1978, uma em 1974 e 70, seis em 1966 e duas em 1962.&nbsp; N&atilde;o &eacute; atrav&eacute;s da for&ccedil;a das cotas que se vai inserir a mulher na vida pol&iacute;tica, mas de uma s&eacute;rie de atributos que a sociedade tem de agregar &agrave; vida delas. Isso j&aacute; ocorre na educa&ccedil;&atilde;o e no mercado de trabalho e, se a legisla&ccedil;&atilde;o n&atilde;o atrapalhar, pode ainda se estender &agrave; pol&iacute;tica.<br /> <br /> Todas as vezes que o governo, parlamentares ou segmentos da sociedade tentaram resolver problemas atrav&eacute;s de legisla&ccedil;&otilde;es restritivas, acabaram com os burros n&rsquo;&aacute;gua. A cota de 30% das candidaturas para o sexo feminino n&atilde;o deve ter incentivado muitas elei&ccedil;&otilde;es, mas gerou as candidatas-laranja que hoje s&atilde;o processadas na Justi&ccedil;a Eleitoral. Vale lembrar que as sucessivas regras criadas para evitar que candidatos ricos gastem seu pr&oacute;prio dinheiro em campanha e com isso prejudiquem os concorrentes pobres, provocaram como efeitos colaterais os mensal&otilde;es e os esc&acirc;ndalos hoje apurados pela Opera&ccedil;ao Lava Jato, pois a criatividade de governantes e pol&iacute;ticos estabeleceu o sujo mercado da propina com dinheiro p&uacute;blico em troca do voto parlamentar e de recursos para aplicar em campanhas. Hoje temos, com legado, uma norma estapaf&uacute;rdia de custeio das elei&ccedil;&otilde;es com dinheiro p&uacute;blico.<br /> <br /> &Eacute; preciso acabar com os atalhos e improvisa&ccedil;&otilde;es. Tanto na pol&iacute;tica quanto na Educa&ccedil;&atilde;o, nos concursos p&uacute;blicos e onde quer que haja competi&ccedil;&atilde;o, a presen&ccedil;a das cotas &eacute; perniciosa. N&atilde;o resolve os problemas que determinaram sua cria&ccedil;&atilde;o mas, em contrapartida, pode criar outros ainda mais prejudicais... <br /> <br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br<br />