Mobilidade urbana e a pandemia

31 de março de 2020 às 17:00

Vladimir Fernandes Maciel
Sair de casa e se dirigir ao trabalho, escola, local de entretenimento e outros motivos se tornaram proibitivos nas &uacute;ltimas semanas. Em regime de quarentena, passamos a valorizar os h&aacute;bitos simples e triviais da vida cotidiana, dentre eles locomover-se - o b&aacute;sico e fundamental direito de ir e vir. <br /> <br /> Infelizmente, os modais coletivos de transporte (como &ocirc;nibus, trem e metr&ocirc;) apresentam condi&ccedil;&otilde;es de aglomera&ccedil;&atilde;o e de maior facilidade de transmiss&atilde;o do coronav&iacute;rus. Mesmo os t&aacute;xis e os ve&iacute;culos por aplicativos n&atilde;o apresentam condi&ccedil;&otilde;es ideais, uma vez que motorista e passageiro ficam a menos de 1m de dist&acirc;ncia entre si. <br /> <br /> Essas caracter&iacute;sticas inerentes aos modais coletivos de transporte implicam que, na medida do poss&iacute;vel, as opera&ccedil;&otilde;es dever&atilde;o ocorrer com ociosidade planejada. &Eacute; uma forma de minimizar as condi&ccedil;&otilde;es de transmiss&atilde;o da doen&ccedil;a. Durante o per&iacute;odo de quarentena n&atilde;o &eacute; dif&iacute;cil fazer isso, exceto por decis&otilde;es pouco elaboradas - como foi o caso da redu&ccedil;&atilde;o das barcas que conectam os munic&iacute;pios de Niter&oacute;i e Rio de Janeiro. Neste caso, o menor n&uacute;mero de embarca&ccedil;&otilde;es acarretou superlota&ccedil;&atilde;o e pior condi&ccedil;&atilde;o de sa&uacute;de p&uacute;blica, justamente o que se pretendia evitar. <br /> <br /> A ociosidade planejada implica em ve&iacute;culos trafegando com bilhetagem inferior ao potencial de arrecada&ccedil;&atilde;o. Tendo em vista que o transporte coletivo &eacute; subsidiado, o aumento do custo decorrente da pol&iacute;tica de ociosidade ser&aacute; um fator adicional de press&atilde;o nas contas p&uacute;blicas. No caso de diversas municipalidades, como a de S&atilde;o Paulo, o peso do subs&iacute;dio adicional &eacute; significativo - uma vez que j&aacute; &eacute; uma das maiores rubricas de despesa p&uacute;blica. Este &eacute; mais um dos efeitos da pandemia nas j&aacute; combalidas finan&ccedil;as dos entes federativos. <br /> <br /> Todavia, quando da interrup&ccedil;&atilde;o do per&iacute;odo de quarentena, o v&iacute;rus ainda estar&aacute; em circula&ccedil;&atilde;o e a ociosidade planejada ter&aacute; dificuldades de ser colocada em pr&aacute;tica nos hor&aacute;rios de pico - os ve&iacute;culos j&aacute; s&atilde;o alocados, geralmente, em sua totalidade durante esses hor&aacute;rios e n&atilde;o haver&aacute; margem de ociosidade. <br /> <br /> Haver&aacute; necessidade de escalonar hor&aacute;rios de entrada e sa&iacute;da de categorias profissionais nas diferentes regi&otilde;es das cidades. &Eacute; uma opera&ccedil;&atilde;o log&iacute;stica complicada e delicada, que necessita de coordena&ccedil;&atilde;o entre as esferas de governo e com as associa&ccedil;&otilde;es de classes e sindicatos. Ser&aacute; insuficiente e falha, entretanto, porque parte significativa da ocupa&ccedil;&atilde;o &eacute; informal e porque a organiza&ccedil;&atilde;o das atividades &eacute; espont&acirc;nea descentralizada. <br /> <br /> Em suma, tempos dif&iacute;ceis para a mobilidade urbana e para o direito de ir e vir. <br /> <br /> Por <i><b>Vladimir Fernandes Maciel</b></i> &eacute; Economista, mestre em economia de empresas e doutor em administra&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica e governo. Coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econ&ocirc;mica e professor do Mestrado Profissional em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie.<br />