O Brasil em tempos e Pandemia

16 de abril de 2020 às 11:57

Juarez Cruz
O Brasil dos anos de 2020 est&aacute; passando por uma situa&ccedil;&atilde;o at&iacute;pica, inveross&iacute;mil, que certamente ir&aacute; mudar a vida de muitos brasileiros e quem sobreviver jamais ir&aacute; esquecer.<br /> <br /> A situa&ccedil;&atilde;o que o mundo e, em especial, o Brasil passa, pode n&atilde;o ser igual ao que &eacute; contado no romance &ldquo;<i>O Amor nos Tempos de C&oacute;lera</i>&rdquo;, de Gabriel G&aacute;rcia Marques, colombiano nascido em 1928, na aldeia de Aracataca, e autor de alguns dos maiores romances do s&eacute;culo XX, mas tem tudo haver com o que est&aacute; acontecendo nos dias de hoje.<br /> <br /> Estamos sendo atingido por avassaladora onda do surto de contamina&ccedil;&atilde;o do Coronav&iacute;rus, v&iacute;rus oriundo da China que se espalhou mundo afora, por todos os continentes, transformando-se numa pandemia que vem atingindo ricos e pobres, sem qualquer distin&ccedil;&atilde;o de ra&ccedil;a ou de cor, e amea&ccedil;a as grandes economias globais, que ir&aacute; causar uma grande recess&atilde;o econ&ocirc;mica e atingir inexoravelmente as popula&ccedil;&otilde;es dos pa&iacute;ses, em especial os mais pobres e negros.<br /> <br /> Segundo dados divulgados nesta sexta feira(10) pelo Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de, embora minorit&aacute;rio entre os registros afetados pela doen&ccedil;a, pretos e pardos representam 1 em cada 4 brasileiros hospitalizados com S&iacute;ndrome Respirat&oacute;ria Aguda Grave (23%) mas chegam a 1 em cada 3 entre os mortos por Covid-19(32,8%).<br /> <br /> A pandemia atingiu inicialmente uma popula&ccedil;&atilde;o com condi&ccedil;&otilde;es muito mais favor&aacute;veis, pessoas brancas, ricas e com amplo cesso &agrave; sa&uacute;de. Imaginemos pensar quando esta doen&ccedil;a se disseminar pela popula&ccedil;&atilde;o negra e mais pobre, onde 67% dependem do SUS, sem acesso &agrave; sa&uacute;de privada e tem p&eacute;ssimas condi&ccedil;&otilde;es de vida e morbidades associadas. <br /> <br /> Essas morbidades est&atilde;o ligadas a quest&otilde;es sociais, como falta de saneamento b&aacute;sico, agravadas pelas desigualdades sociais, como condi&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias de moradias, que favorecem o surgimento de doen&ccedil;as como tuberculose, diversos tipos de outras gripes, diabetes e hipertens&atilde;o arterial, considerados agravantes para o desenvolvimento do Coronav&iacute;rus-19. <br /> <br /> Nos EUA, o novo Coronav&iacute;rus est&aacute; matando negros em taxas mais elevadas do que na popula&ccedil;&atilde;o em geral, o que pode ocorrer tamb&eacute;m aqui no Brasil, onde temos uma popula&ccedil;&atilde;o majoritariamente negra, que conta com um sistema de sa&uacute;de que vem sendo dilapidado h&aacute; muito tempo pelos governantes passados como os ex-presidentes Jos&eacute; Sarney, Fernado Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso(PSDB), Dilma Rousseffte(PT) e Lu&iacute;s In&aacute;cio Lula da Silva(PT), que em 2013, chegou a fazer um coment&aacute;rio absurdo, t&iacute;pico de quem n&atilde;o tem compromisso com &agrave; sa&uacute;de do povo que tanto diz defender quando, no per&iacute;odo que se discutia a organiza&ccedil;&atilde;o das olimp&iacute;adas aqui no Brasil, foi questionado porque n&atilde;o investir na constru&ccedil;&atilde;o de hospitais no lugar de olimp&iacute;adas: &ldquo;N&atilde;o fazer olimp&iacute;ada porque n&atilde;o tem hospital &eacute; um retrocesso&rdquo;, disse ele, sendo referendado pelo ex-jogador de futebol Ronaldo fen&ocirc;meno. <br /> &nbsp; <br /> O presidente atual Jair Bolsonaro, segue na contram&atilde;o do que preconiza a Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de(OMS) e de seu ministro da sa&uacute;de, Henrique Mandetta, quando resolve contrariar as recomenda&ccedil;&otilde;es para fazer o isolamento social e mais, ajuda a disseminar &agrave; doen&ccedil;a, como o fez durante sua vinda dos EUA para o Brasil, quando ele e cerca de vinte e duas pessoas que vinham no avi&atilde;o presidencial apresentaram suspeita de estarem infectados do Coronavirus, quando resolve sair em p&uacute;blico a cumprimentar seus apoiadores nos cercados do Pal&aacute;cio da Alvorada ou quando resolve tomar um cafezinho nos arredores de Bras&iacute;lia, estimulando brasileiros a fazerem o mesmo. Cuidar da sa&uacute;de do povo n&atilde;o &eacute; prioridade para estes mandat&aacute;rios, mas da economia e da pol&iacute;tica sim. <br /> <br /> Como aconteceu na historia real de amor dos pais de Gabriel Garcia M&aacute;rquez, onde surtos de outras doen&ccedil;as, guerras, preconceitos e h&aacute;bitos fizeram parte do cotidiano naquele per&iacute;odo, aqui n&atilde;o ser&aacute; diferente.&nbsp; No Brasil em tempos de pandemia, temos um longo e tenebroso per&iacute;odo crises jamais vista neste Pa&iacute;s.<br /> <br /> Governos estaduais mostrar&atilde;o sua verdadeira face autorit&aacute;ria querendo impor restri&ccedil;&otilde;es absurdas, como impedir e amea&ccedil;ar de pris&atilde;o pessoas que circulem em locais p&uacute;blicos e at&eacute; controle de celulares, como est&aacute; pleiteando o governador de S&atilde;o Paulo, Jo&atilde;o D&oacute;ria(PSDB). Nesta toada, tem at&eacute; apresentador de programa de televis&atilde;o, como Marcos Paulo Ribeiro de Morais, mais conhecido como Marc&atilde;o do Povo, apresentador do matinal &ldquo;Primeiro Impacto&rdquo; do SBT, quando sugeriu no ar(09/04) que o governo deveria construir &ldquo;Campos de Concentra&ccedil;&atilde;o para os infectados do novo Coronavirus-19&rdquo;.&nbsp; Diante da repercuss&atilde;o negativa ele se pronunciou dizendo; &ldquo;Esse aqui &eacute; o meu papel, eu sempre gostei de estar ao lado das pessoas. Queria dizer que tudo passa e Deus tem a resposta para todas as perguntas, n&eacute;?&rdquo;, Imagina se esse cara n&atilde;o gostasse das pessoas o que ele n&atilde;o sugeriria para os infectados do Coronavirus e outras doen&ccedil;as infectocontagiosas?<br /> <br /> Afora os pol&iacute;ticos oportunistas de plant&atilde;o, que se aproveitam da situa&ccedil;&atilde;o para decretarem calamidade p&uacute;blica e poderem usar verbas p&uacute;blicas ao seu bel prazer, se livrando assim dos &oacute;rg&atilde;os de controle dos tribunais de contas(que em tempos normais n&atilde;o controlam muita coisa), teremos in&uacute;meros fechamentos e fal&ecirc;ncias de empresas e o inevit&aacute;vel aumento do n&uacute;mero de desempregados, gerando uma horda maior do que j&aacute; temos hoje de desemprego e pobres que, sem perspectiva, n&atilde;o conseguir&atilde;o atender algumas demandas principais como alimenta&ccedil;&atilde;o e moradia. Desta instabilidade social que advir&aacute; com &aacute; pandemia, muitos se valer&atilde;o de um expediente comum quando a fome apertar e ondas de saques, roubos, confrontos armados entre gangues e pessoas comuns e &agrave; disputa da popula&ccedil;&atilde;o por uma vaga no sistema hospitalar nas grandes e pequenas cidades ser&atilde;o uma constante. Muitas tamb&eacute;m ser&atilde;o as desaven&ccedil;as conjugais, com reflexo direto no seio familiar, aumentando ainda mais as rela&ccedil;&otilde;es tensas entre pais e filhos, assim como aumentar&atilde;o o n&uacute;mero de crimes advindos dessa desordem social e econ&ocirc;mica entre a popula&ccedil;&atilde;o de todas as esferas sociais. E quando isto acontecer ai estar&aacute; instaurado o caos na sociedade, onde veremos a m&atilde;o militar do Estado intervir para oprimir a popula&ccedil;&atilde;o desesperada, enquanto os pol&iacute;ticos(do executivo, legislativos municipais, estaduais e federal), ministros, secret&aacute;rios e ocupantes de altos cargos das estatais e &oacute;rg&atilde;os p&uacute;blicos, ficar&atilde;o trancados em suas resid&ecirc;ncias luxuosas e gabinetes pol&iacute;ticos, tra&ccedil;ando estrat&eacute;gias para manterem seu controle sobre as riquezas produzidas pelo Pa&iacute;s.&nbsp; Enquanto isso os ministros dos supremos tribunais federal, de justi&ccedil;a e eleitoral, estes seres quase abstratos e intoc&aacute;veis, tamb&eacute;m ficar&atilde;o deitados em ber&ccedil;o espl&ecirc;ndido, no alto do olimpo, vendo(se &eacute; que eles veem alguma coisa) toda essa desordem pol&iacute;tica e social, enquanto a turba se degladia nas ruas infectas e pestilentas, a propagar doen&ccedil;as, morrer de fome, ante a omiss&atilde;o e insensibilidade do Estado.<br /> <br /> Por <i><b>Juarez Cruz</b>,<b> </b></i>escritor e cronista<br /> juarez.cruz@uol.com.br<br />