Senti falta de ar, mas não era nada: a Psicologia explica!

16 de abril de 2020 às 19:09

Leonardo Torres
A luta da humanidade contra o COVID-19 se d&aacute;, em parte, nos hospitais; mas na maioria dos casos, ela ocorre no isolamento de casa. Nesse &uacute;ltimo ambiente, &eacute; uma luta que se trava n&atilde;o indo aos campos de batalha, muito menos olhando para frente tentando perceber os movimentos do inimigo. A luta que se trava dentro de casa &eacute; olhando para dentro de si, pois o inimigo, desta vez, est&aacute; dentro de n&oacute;s. <br /> <br /> A reclus&atilde;o social fez com que muitos indiv&iacute;duos voltassem para o interior de si e isso &eacute; muito interessante. Fazia um bom tempo que as horas infinitas de tr&acirc;nsito e de trabalho n&atilde;o davam lugar aos apelos da alma, ou melhor, ao &oacute;cio, aos sonhos e aos sintomas leves. No ritmo do cotidiano anterior ao coronav&iacute;rus, um indiv&iacute;duo s&oacute; iria parar e prestar aten&ccedil;&atilde;o em si ap&oacute;s um infarto, se ele sobrevivesse.<br /> &nbsp;<br /> Hoje, no ritmo do ficar em casa, do home office, do cozinhar para si, etc., muitos colegas e amigos tem se queixado comigo que passaram por um ou outro epis&oacute;dio de ansiedade, depress&atilde;o, p&acirc;nico ou qualquer outro nome que eles queiram dar para seus sintomas. Outros, at&eacute; achando engra&ccedil;ado, confessaram que ap&oacute;s terem conhecimento dos sintomas do COVID-19, sentiram os sintomas, mesmo n&atilde;o tendo o v&iacute;rus. Uma explica&ccedil;&atilde;o para esses casos pode estar alicer&ccedil;ada nas incertezas do mundo a partir de agora; entretanto, me pergunto se as sementes das ansiedades, depress&otilde;es e p&acirc;nicos j&aacute; n&atilde;o estavam plantadas e aflorando antes mesmo da pandemia e nenhum desses meus colegas tinha tempo para perceb&ecirc;-las. <br /> <br /> O tripalium &eacute; um instrumento de tortura medieval e a palavra que deu origem ao termo &quot;trabalho&quot;. A principal consequ&ecirc;ncia negativa do trabalho, assim como o instrumento que lhe deu origem, &eacute; o mart&iacute;rio do corpo. Quantas vezes n&atilde;o vemos pessoas dormindo no transporte p&uacute;blico exaustas por terem trabalhado o dia inteiro? Quantas vezes n&atilde;o engolimos as emo&ccedil;&otilde;es porque devemos ser m&aacute;quinas perfeitas em nosso trabalho? Palavras como meritocracia, enraizadas no trabalho como conhecemos hoje, defendem que o indiv&iacute;duo deve se esfor&ccedil;ar ao m&aacute;ximo para ganhar a sua posi&ccedil;&atilde;o social e o seu dinheirinho &quot;suado&quot;, independente de sua posi&ccedil;&atilde;o inicial. Essa ideia j&aacute; constru&iacute;da de trabalho faz com que cada vez mais o indiv&iacute;duo desconsidere seu corpo, suas emo&ccedil;&otilde;es e sentimentos em prol do m&eacute;rito e reconhecimento. &Eacute; aquele famoso paradoxo, de que &eacute; quase imposs&iacute;vel para 99% da popula&ccedil;&atilde;o possuir sa&uacute;de, tempo e dinheiro ao mesmo tempo.<br /> <br /> No momento atual, a preocupa&ccedil;&atilde;o com o v&iacute;rus foi tamanha (e correta) que nem mesmo tal ideia de trabalho p&ocirc;de evitar que cada um de n&oacute;s olhasse para dentro de si e percebesse, no m&iacute;nimo, um sintoma aqui ou acol&aacute;. Isso n&atilde;o deixa de ser saud&aacute;vel e nada mais &eacute; do que uma conversa inicial consigo mesmo, uma reconex&atilde;o com as pr&oacute;prias emo&ccedil;&otilde;es e sentimentos que nos habitam; &eacute;, portanto, um convite e um chamado da alma. <br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_leonardo-torres_palestrante-professor-e-doutorando-comunicacao.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <b><i>Leonardo Torres</i></b>, Professor e Palestrante, Doutorando em Comunica&ccedil;&atilde;o e P&oacute;s-graduando em Psicologia Junguiana