A demissão de Sergio Moro e o Governo Bolsonaro

25 de abril de 2020 às 12:04

Rodrigo Augusto Prando
A demiss&atilde;o de Sergio Moro e o Governo Bolsonaro <br /> <br /> H&aacute; mais de um ano, escrevi, no in&iacute;cio do Governo Bolsonaro, que havia dois pilares principais a lhe dar sustenta&ccedil;&atilde;o: Sergio Moro simbolizando o combate &agrave; corrup&ccedil;&atilde;o e a for&ccedil;a da Lava Jato e Paulo Guedes no &acirc;mbito do liberalismo econ&ocirc;mico. Hoje, um desses alicerces ruiu, com o pedido de demiss&atilde;o de Moro. Doutro lado, h&aacute; sinais evidentes de desgastes nas ideias e a&ccedil;&otilde;es de Guedes. <br /> <br /> H&aacute; quem diga que Moro saiu atirando. N&atilde;o foram tiros. Pol&iacute;tica e simbolicamente, foi disparado um m&iacute;ssil teleguiado na dire&ccedil;&atilde;o da presid&ecirc;ncia da rep&uacute;blica. O ex-ju&iacute;z e, hoje, ex-ministro, lembrou de sua entrada no governo com o compromisso de focar a&ccedil;&otilde;es no combate &agrave; corrup&ccedil;&atilde;o, ao crime organizado e ao crime violento. Mais do que isso, Moro destacou que, segundo as conversas com Bolsonaro, gozaria de carta branca para nomear e fazer a gest&atilde;o de sua equipe. N&atilde;o foi assim, como bem sabemos. Se, no dia de hoje, houve a ruptura, o desgaste vinha h&aacute; tempos, com Bolsonaro desautorizando Moro em v&aacute;rias ocasi&otilde;es. Al&eacute;m disso, as pesquisas indicaram que o capital pol&iacute;tico de Moro era (e deve ser mais agora) maior que o do pr&oacute;prio presidente. Assim, com vistas &agrave; reelei&ccedil;&atilde;o em 2022, Bolsonaro e os bolsonaristas j&aacute; temiam ter em Moro um fort&iacute;ssimo advers&aacute;rio. Na l&oacute;gica bolsonarista, o &quot;presidencialismo de coaliz&atilde;o&quot; foi substitu&iacute;do pelo presidencialismo de confronta&ccedil;&atilde;o. Para manter seus apoiadores, nas redes e nas ruas, o bolsonarismo confrontou inimigos reais e imagin&aacute;rios, internos e externos, no campo oposto do espectro pol&iacute;tico e, tamb&eacute;m, at&eacute; os pr&oacute;prios aliados e, ainda, ataques cotidianos &agrave; imprensa. <br /> <br /> Convoca&ccedil;&atilde;o para atos contra o STF e o Congresso Nacional, divulga&ccedil;&atilde;o de fake news, ataques ao Presidente da C&acirc;mara, Rodrigo Maia, tudo isso, junto, agora, voltar&aacute; para aqueles que dispararam. Investiga&ccedil;&otilde;es no STF sobre as fake news e sobre os atos contra Congresso e STF come&ccedil;aram a desvendar a rede de financiadores e parte da autoria intelectual destas a&ccedil;&otilde;es. Temendo um processo de impeachment, cujos pedidos j&aacute; se encontram de posse de Maia, Bolsonaro resolveu conquistar apoio parlamentar. E onde? Justamente, no Centr&atilde;o, com figuras como, por exemplo, Roberto Jeferson. &Eacute; patente que o discurso bolsonarista n&atilde;o se sustenta na pr&aacute;tica que, antes, condenou. Negociar cargos para obter apoio pol&iacute;tico e, pior, querer mexer na estrutura da Pol&iacute;cia Federal foi, para Moro, o ato final de uma rela&ccedil;&atilde;o h&aacute; tempos insustent&aacute;vel. O pronunciamento de Moro foi dur&iacute;ssimo. Jogou, para o presidente, segundo juristas, cerca de sete crimes: crime de responsabilidade, falsidade ideol&oacute;gica, prevarica&ccedil;&atilde;o, coa&ccedil;&atilde;o, corrup&ccedil;&atilde;o, advocacia administrativa e obstru&ccedil;&atilde;o da justi&ccedil;a. Pedidos de ren&uacute;ncia e de impeachment se avolumam. <br /> <br /> Qual a base de defesa do governo, hoje? H&aacute; pouco, em pronunciamento, Bolsonaro se defendeu e num discurso bem desconexo, atacou, como era de se esperar, o ex-ministro Sergio Moro. Moro j&aacute; respondeu, especialmente, recha&ccedil;ando que havia pedido para trocar Valeixo, da dire&ccedil;&atilde;o da PF, s&oacute; em novembro depois que fosse indicado para uma vaga no STF. O discurso e argumenta&ccedil;&atilde;o do Presidente Bolsonaro &eacute; fr&aacute;gil e, rememoremos, Moro teve embate com Lula, uma das maiores express&otilde;es pol&iacute;ticas do Brasil, levando o petista &agrave; condena&ccedil;&atilde;o e pris&atilde;o. <br /> <br /> Os atores pol&iacute;ticos, no Congresso Nacional, e fora dele; lideran&ccedil;as no bojo da sociedade e os formadores de opini&atilde;o, j&aacute; come&ccedil;am a questionar se, com a pandemia, seria melhor ou n&atilde;o iniciar um processo de impeachment. A resposta est&aacute; no entendimento se a presen&ccedil;a de Bolsonaro &eacute; um fator de lideran&ccedil;a e seguran&ccedil;a ou de tens&atilde;o e inseguran&ccedil;a pol&iacute;tica com graves consequ&ecirc;ncias ao pa&iacute;s. <br /> <br /> Por <i><b>Rodrigo Augusto Prando</b></i> &eacute; professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ci&ecirc;ncias Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.<br />