O fim do superministro

28 de abril de 2020 às 17:38

Maurício Loboda Fronzag
Quando anunciado como Ministro da Justi&ccedil;a do rec&eacute;m eleito presidente Jair Bolsonaro, o juiz S&eacute;rgio Moro viu as portas se abrirem para a constru&ccedil;&atilde;o de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas de combate &agrave; corrup&ccedil;&atilde;o. O presidente, por sua vez, ganhava um aliado que lhe aumentaria o apoio popular. Tal foi a apar&ecirc;ncia do casamento pol&iacute;tico entre os dois. Na ess&ecirc;ncia do c&aacute;lculo pol&iacute;tico, o presidente terceirizava o combate &agrave; corrup&ccedil;&atilde;o para o ministro e poderia se eximir das poss&iacute;veis crises e den&uacute;ncias que surgissem. O sucesso do ministro seria um ponto positivo para o presidente que o indicou, j&aacute; o insucesso poderia ser colocado todo na conta do ministro. Ao presidente caberia dizer, &quot;nomeei o maior nome de combate a corrup&ccedil;&atilde;o e n&atilde;o deu certo&quot;. <br /> <br /> Para S&eacute;rgio Moro, o c&aacute;lculo pol&iacute;tico trazia alternativas muito sedutoras al&eacute;m do combate a corrup&ccedil;&atilde;o. Ele estaria muito mais perto da indica&ccedil;&atilde;o para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Poderia ficar algum tempo no governo, deixar uma marca e seguir para o STF. Havia tamb&eacute;m a possibilidade de aumentar a sua j&aacute; grande popularidade pelas a&ccedil;&otilde;es que empreendesse no minist&eacute;rio da justi&ccedil;a. Neste caso, Moro acumularia um capital pol&iacute;tico quase sem precedentes e se colocaria como candidato quase que imbat&iacute;vel para as pr&oacute;ximas elei&ccedil;&otilde;es presidenciais. Os dois caminhos anunciavam um div&oacute;rcio neste casamento pol&iacute;tico. No primeiro caso seria amig&aacute;vel, no segundo caso o caminho seria cheio de intemp&eacute;ries. <br /> <br /> A conviv&ecirc;ncia e os imperativos das atividades cotidianas do poder colocaram os dois atores, presidente e ministro, em atrito por v&aacute;rias vezes no decorrer desses 16 meses de governo. O plano anticorrup&ccedil;&atilde;o do ministro n&atilde;o teve o suporte do presidente que desejava. Em uma das suas lives, o Presidente disse que o Ministro da Justi&ccedil;a teria que esperar sua vez para ter seu projeto como prioridade no congresso. No in&iacute;cio do ano, houve o atrito sofre a figura do juiz de garantias, al&eacute;m disso, o presidente quis tirar a secretaria de seguran&ccedil;a p&uacute;blica da pasta da justi&ccedil;a, dando-lhe uma pasta pr&oacute;pria. No fundo, o presidente queria ter mais poder de interven&ccedil;&atilde;o nesta &aacute;rea e na pol&iacute;cia federal. Essa n&atilde;o seria a primeira nem a &uacute;ltima tentativa de interfer&ecirc;ncia. Moro n&atilde;o gostou. A repercuss&atilde;o foi de tal forma negativa que a ideia foi deixada de lado pelo presidente. Durante a crise da pandemia do Covid-19, o presidente se queixou do sil&ecirc;ncio do seu ministro em defend&ecirc;-lo. <br /> <br /> Cada um desses atritos oferecia ao ministro da justi&ccedil;a mais uma justificativa para sua sa&iacute;da do governo. Ao ministro caberia dizer que n&atilde;o conseguira colocar em pr&aacute;tica todas suas ideias e planos porque o presidente n&atilde;o o deixou. <br /> <br /> O cen&aacute;rio j&aacute; estava preparado para esse poss&iacute;vel desfecho. N&atilde;o se sabia o tempo, n&atilde;o se sabia a a&ccedil;&atilde;o o desencadearia. <br /> <br /> O fato determinante veio nos &uacute;ltimos dias, como bem relatam as reportagens. O presidente quis substituir o diretor da pol&iacute;cia federal por algu&eacute;m que lhe fosse mais pr&oacute;ximo e que lhe desse acesso a informa&ccedil;&otilde;es sobre os processos que poderiam prejudic&aacute;-lo. O presidente quer retirar a autonomia da pol&iacute;tica federal para sua prote&ccedil;&atilde;o e para seu benef&iacute;cio pol&iacute;tico. O ministro n&atilde;o viu uma alternativa poss&iacute;vel que n&atilde;o sua sa&iacute;da do governo. Permanecer seria apequenar-se. <br /> <br /> O div&oacute;rcio se consumou. O ex-juiz deixa o minist&eacute;rio sem tantos danos a sua imagem e continua seguindo a constru&ccedil;&atilde;o da narrativa de her&oacute;i que tanta popularidade lhe d&aacute; desde a Lava-Jato. O presidente perde credibilidade, perde apoio e se envolve em mais uma crise criada por ele mesmo (que parece ser sua especialidade no governo). Para terminar o texto com o aux&iacute;lio de Maquiavel, &quot;o presidente vive mais uma crise que evidencia que seu poder veio da fortuna, n&atilde;o da virtude&quot;. <br /> <br /> Por <i><b>Maur&iacute;cio Loboda Fronzaglia</b></i> &eacute; doutor e mestre em Ci&ecirc;ncia Pol&iacute;tica e graduado em Ci&ecirc;ncias Sociais. &Eacute; pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdade Econ&ocirc;mica e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. <br />