AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

12 de maio de 2020 às 17:39

Gaudêncio Torquato
Coisa in&eacute;dita: teremos elei&ccedil;&otilde;es este ano para as prefeituras e c&acirc;maras de vereadores e o grande evento parece coisa sem import&acirc;ncia. Compreens&iacute;vel. O Covid-19, esse bichinho invis&iacute;vel, joga todos os outros temas no ba&uacute; do esquecimento. &Eacute; claro que, um pouco mais adiante, o pleito estar&aacute; na mesa dos candidatos, eis que se trata de construir a base do edif&iacute;cio pol&iacute;tico, composta por 5.570 prefeituras e cerca de quase 60 mil vereadores.<br /> <br /> Que n&atilde;o haja d&uacute;vidas. As elei&ccedil;&otilde;es se dar&atilde;o este ano, mas n&atilde;o na data marcada de 4 de outubro, pois os candidatos e seus cabos eleitorais ainda estar&atilde;o se recuperando do caos pand&ecirc;mico, sendo mais prov&aacute;vel pensar em 15 de novembro. Ser&aacute; uma campanha mais r&iacute;gida em muitos aspectos, a come&ccedil;ar pelo fim das coliga&ccedil;&otilde;es proporcionais. Ou seja, n&atilde;o veremos vereador sendo puxado pela for&ccedil;a dos votos somados de parcerias entre siglas.<br /> <br /> O termo rigidez se aplica a outros aspectos. No campo dos recursos financeiros, por exemplo. O dinheiro mais curto exigir&aacute; campanhas objetivas, sem rodeios, equipes restritas, sem a parafern&aacute;lia das mobiliza&ccedil;&otilde;es do passado. A campanha encontrar&aacute; um eleitor com posicionamentos diferentes da moldura tradicional.<br /> <br /> Qual seu perfil? Dif&iacute;cil apontar todos os componentes que influenciar&atilde;o o sistema cognitivo das pessoas, mas &eacute; poss&iacute;vel pin&ccedil;ar valores que permear&atilde;o as escolhas. A come&ccedil;ar pela carga de sentimentos sofridos no desenrolar da pandemia que assolou o pa&iacute;s, cuja extens&atilde;o poder&aacute; chegar ao final do ano. Esse danado de v&iacute;rus veio para ficar. Todos, uns mais, outros menos, carregar&atilde;o as marcas do susto, do medo, da ang&uacute;stia, da depress&atilde;o, cujos efeitos impregnar&atilde;o o nosso modus vivendi. At&eacute; nossas crian&ccedil;as continuar&atilde;o a recordar os angustiantes tempos em que tinham de usar m&aacute;scaras.<br /> <br /> Como esta bagagem emotiva se far&aacute; presente no instante em que eleitoras e eleitores estar&atilde;o diante da urna eletr&ocirc;nica? Prov&aacute;vel resposta: escolher o perfil que melhor traduza o resultado da equa&ccedil;&atilde;o Custo x Benef&iacute;cio. Resultado que n&atilde;o significa dinheiro, bens materiais, apesar de ainda abrigarmos um contingente que vota sob esta teia. Refiro-me a outro tipo de valor: qualidade, seriedade, zelo, preparo, disposi&ccedil;&atilde;o, compromisso, inova&ccedil;&atilde;o, despojamento, simplicidade, mod&eacute;stia, coragem, contra os velhos padr&otilde;es, avan&ccedil;o. P. S. O capit&atilde;o Bolsonaro foi eleito com essas bandeiras e est&aacute; mostrando ser da velha guarda. At&eacute; sua conduta no comando da luta contra a pandemia ser&aacute; lembrada.<br /> <br /> Quem pode encarnar esse acervo? Qualquer cidad&atilde; ou cidad&atilde;o que, sob a equa&ccedil;&atilde;o Custo x Benef&iacute;cio, seja a(o) mais pr&oacute;xima(o) do eleitor. Este posicionamento valer&aacute; tanto para o voto no prefeito(a) ou no vereador(a). Constata&ccedil;&atilde;o: &eacute; forte a impress&atilde;o de que as mulheres ser&atilde;o bem votadas. Ganharam bom espa&ccedil;o na express&atilde;o de dor em corredores de hospitais e filas nas ruas. Mas o mais endinheirado n&atilde;o ser&aacute; necessariamente o eleito ou o mais votado. Pobres, ricos, feios e bonitos, jovens e maduros, homens e mulheres estar&atilde;o no tabuleiro, jogando com as pedras da mesma oportunidade.<br /> <br /> O que pretendo dizer &eacute; que, na campanha municipal deste ano, as desigualdades diminuem, elevando a probabilidade de vermos uma limpeza geral na galeria dos retratos que ali se veem h&aacute; d&eacute;cadas.<br /> <br /> E o que dizer? Primeiro, evitar o &oacute;bvio ululante, do tipo de promessas mirabolantes de grandes obras, essa tradi&ccedil;&atilde;o que sai de maneira artificial da boca de candidatos. O momento exigir&aacute; criatividade. Que significa encontrar formas simples, diretas, cr&iacute;veis, objetivas, para dizer as coisas. Governar juntos, por exemplo, mas isso n&atilde;o pode ser transmitido com a carcomida locu&ccedil;&atilde;o. O candidato deve ter uma plataforma de conselhos de bairros e comunidades, maneiras de acionar frequentemente esse mecanismo (via agenda de encontros), enfim, demonstrar que efetivamente quer administrar sob o princ&iacute;pio da democracia participativa.<br /> <br /> No mais, ouvir o vento do tempo. Ele passa todos os dias por n&oacute;s. Traz recados. Suave ou forte, exibe em nossos sentidos o retrato da emo&ccedil;&atilde;o e da raz&atilde;o do povo. Meu saudoso pai, todos os dias, da cal&ccedil;ada onde se sentava para conversar com os amigos, &agrave;s 19 horas, aprumava o faro para sentir o jeit&atilde;o do tempo. Olhava para o Nascente, via barras de cores nas nuvens, jogava sua impress&atilde;o para os ouvintes e arrematava: &ldquo;amanh&atilde;, n&atilde;o, mas depois de amanh&atilde; vai chover. E fulano n&atilde;o &eacute; bom de voto&rdquo;. <br /> &nbsp;<br /> <img src="/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <b><i>Gaud&ecirc;ncio Torquato</i></b>, jornalista, &eacute; professor titular da USP, consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o Twitter@gaudtorquato - Acesse o blog <a href="http://www.observatoriodaeleicao.com/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>www.observatoriopolitico.org</i></u></span></a><br />