Luto e perdas na pandemia: o que estamos vivendo?

26 de maio de 2020 às 18:59

Elaine Ribeiro
Temos presenciado uma batalha dolorosa em todo o mundo com o novo coronav&iacute;rus (COVID-19): milhares de pessoas internadas, muitas em UTIs e outras distantes de suas fam&iacute;lias, impedidas de visitar seus parentes. Equipes de sa&uacute;de em intenso trabalho pela vida, dia e noite, incessantemente, tamb&eacute;m lidando com perdas. Um estado de medo, vigil&acirc;ncia e receios frente ao que fazer. <br /> <br /> Empregos sendo perdidos diariamente e muitas fam&iacute;lias em desespero diante da crise econ&ocirc;mica. Vivemos um tempo de perdas: perdas de vidas, da liberdade, das condi&ccedil;&otilde;es que t&iacute;nhamos, da sa&uacute;de emocional. Os n&uacute;meros crescem diariamente em todo o mundo, numa realidade em comum: o luto e o sofrimento emocional vivenciado por todas essas pessoas e que, infelizmente, se tornam cada vez mais pr&oacute;ximos, na medida que conhecemos algu&eacute;m que passou pela doen&ccedil;a.<br /> &nbsp;<br /> Cada vez mais &eacute; consenso entre os profissionais de sa&uacute;de mental que o luto por aqueles que faleceram tem sido um processo ainda mais doloroso, pois, deixamos de passar por rituais como vel&oacute;rios e celebra&ccedil;&otilde;es religiosas. As reuni&otilde;es de despedida com familiares e amigos para os sepultamentos n&atilde;o s&atilde;o mais permitidas neste tempo. Muitos s&atilde;o privados desta despedida por tamb&eacute;m estarem em isolamento. Todas as perdas levar&atilde;o a estados emocionais dos mais variados, num misto de tristeza, dor, culpa e at&eacute; depress&atilde;o. <br /> <br /> A elabora&ccedil;&atilde;o deste luto necessita ser expressada de alguma forma. &Eacute; importante direcionar os afetos, falar desta perda, contar com a acolhida de outras pessoas, dar sentido n&atilde;o apenas &agrave; perda, mas valorizar a vida que aquela pessoa teve ao seu lado, ajudando a dar sentido a tudo. <br /> <br /> N&atilde;o existe uma f&oacute;rmula &uacute;nica e exata para viver a perda de uma pessoa querida, mas &eacute; importante, sim, encontrar um espa&ccedil;o de escuta, sem julgamento, onde a fala sobre as dores da perda possa existir. Fale, escreva, e, assim que poss&iacute;vel, recomenda-se que as pessoas enlutadas se re&uacute;nam para uma celebra&ccedil;&atilde;o de mem&oacute;ria &agrave;quele que veio a falecer, que pode ou n&atilde;o ter um ritual de espiritualidade e f&eacute;, conforme cada fam&iacute;lia. <br /> <br /> Superar a dor passa tamb&eacute;m por dar um sentido maior &agrave;quilo que a pessoa que se foi significou, tudo o que foi constru&iacute;do em vida, todos os bons momentos vividos, as experi&ecirc;ncias, os ensinamentos.<br /> <br /> Se voc&ecirc; est&aacute; pr&oacute;ximo a algu&eacute;m, seja suporte. Mesmo que n&atilde;o possa estar presencialmente, mantenha-se em contato. N&atilde;o queira ter uma boa frase para dizer. Neste tempo, n&atilde;o h&aacute; muito que dizer. Por vezes, s&oacute; ouvir, ou ser aquele que possa levar compras, por exemplo, ou ajudar com provid&ecirc;ncias de ordem pr&aacute;tica. Saber que existem pessoas ao nosso redor num momento de perda &eacute; muito confortante, mesmo que esta presen&ccedil;a n&atilde;o esteja exatamente ao lado. <br /> <br /> &Eacute; importante expressar a dor pela perda sem reservas, dar-se a permiss&atilde;o para isto &eacute; essencial, bem como lidar com um misto de sentimentos que v&atilde;o da raiva &agrave; desesperan&ccedil;a, do choro ao desespero, da falta de rumo &agrave; necessidade de reestruturar a vida a partir daquela perda. <br /> <br /> Evite uma cobran&ccedil;a excessiva para que tudo volte ao normal rapidamente. Etapas s&atilde;o necess&aacute;rias e, quanto maior o nosso v&iacute;nculo, maior significado e intensidade os sentimentos ter&atilde;o em nossa vida. Aos poucos, os ressignificados ser&atilde;o estabelecidos e redescobertos no amor vivenciado por aquela pessoa querida. <br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_elaine-ribeiro_psicologa-clinica-e-organizacional.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <i><b>Elaine Ribeiro</b></i> &eacute; psic&oacute;loga cl&iacute;nica e organizacional da Funda&ccedil;&atilde;o Jo&atilde;o Paulo II / Can&ccedil;&atilde;o Nova. <a href="http://www.elaineribeiropsicologia.com.br/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>www.elaineribeiropsicologia.com.br</i></u></span></a><br />