UMA SOCIEDADE SEM DISCERNIMENTO PRA SER MANIPULADA

06 de junho de 2020 às 11:45

Juarez Cruz
Hoje eu n&atilde;o quero falar de pandemia do Coronav&iacute;rus por que j&aacute; estou entediado de ver o que os telejornais fazem para nos manipularem, uns divulgam informa&ccedil;&otilde;es favor&aacute;veis ao governo federal porque o apoia; outro divulga, insistentemente, informa&ccedil;&otilde;es contra o governo porque este o amea&ccedil;a em n&atilde;o renovar sua concess&atilde;o e n&atilde;o gasta verba federal com publicidade em sua rede de televis&atilde;o e jornal como os governos anteriores fizeram.<br /> <br /> Todo dia, o dia todo o que vemos &eacute; um amontoado de desinforma&ccedil;&atilde;o travada pela imprensa enquanto milhares de brasileiros est&atilde;o morrendo de acidentes de moto, de infarto, assassinatos e de tantas outras causas, e os governantes e a imprensa faz de conta que s&oacute; se morre de Covid-19. Os hospitais est&atilde;o cheios de mortos de causas diversas e sendo computadas como Covid-19 porque virou um grande negocio para governadores e prefeitos. N&atilde;o estou negando as mortes pelo Covid-19. <br /> <br /> Hoje decidi n&atilde;o falar mais nisso porque estou enojado das opini&otilde;es veiculadas na imprensa pelos especialistas(?) em Covid-19 que, como os pol&iacute;ticos, est&atilde;o defendendo posi&ccedil;&otilde;es de interesses econ&ocirc;micos e da grande ind&uacute;stria de rem&eacute;dios em detrimento da sa&uacute;de daqueles que est&atilde;o sendo acometidos pelo Covid-19 e sendo levados ao abatedouro, como gado, por falta de um tratamento pr&aacute;tico, barato, m&aacute;s que n&atilde;o &eacute; do interesse de quem est&aacute; ganhando dinheiro com isso. O sistema que domina o mercado da sa&uacute;de &eacute; muito forte e n&atilde;o aceita solu&ccedil;&otilde;es baratas, eles n&atilde;o est&atilde;o preocupados com a sa&uacute;de do povo, s&oacute; com seus ganhos financeiros e os pol&iacute;ticos sabem perfeitamente disso. Por isso fazem o jogo deles, porque s&atilde;o vis e hip&oacute;critas.<br /> <br /> S&oacute; que descobri que no Brasil tem outros hip&oacute;critas, demagogos e oportunistas, assim como os pol&iacute;ticos, que foi preciso um negro americano, George Floyd, ser asfixiado at&eacute; a morte para que nossa imprensa e parte de uma elite brasileira acordasse para a quest&atilde;o da discrimina&ccedil;&atilde;o racial e do racismo naquele pa&iacute;s, como se este fosse s&oacute; um problema americano e n&atilde;o nosso. Infelizmente meia d&uacute;zia de brancos e pretos socialmente de bem com a vida, como alguns artistas, atletas, pol&iacute;ticos, jornalistas, influencers, youtubers e outros menos cotados, resolveram sair de sua bolha, de sua zona de conforto de onde vivem, longe da popula&ccedil;&atilde;o perif&eacute;rica, para se manifestarem atrav&eacute;s das redes sociais e na imprensa, pela morte do americano. Se solidarizar com a morte de preto americano &eacute; legal, pega bem na fita, melhora sua imagem junto a seus admiradores, na m&iacute;dia internacional e quem sabe at&eacute; rende umas trinta moedas com a repercuss&atilde;o em seus canais de youtuber e instagram.<br /> <br /> A morte de Floyd &eacute; mais umas das atrocidades, brutalidades e crimes cometidos por policiais contra negros americanos, s&oacute; que aqui no Brasil n&atilde;o &eacute; diferente, &eacute; pior e a viol&ecirc;ncia cometida por policiais e a sociedade branca contra nossos pretos &eacute; terrivelmente maior e ningu&eacute;m parece ligar para isso, nem a imprensa e nem os brancos e negros privilegiados(artistas) que agora gritam &ldquo;Black Live Matters&rdquo;(Vidas Negras Importam)&nbsp; e fazem manifesta&ccedil;&otilde;es nas redes sociais pensando em salvar suas almas de irem para o inferno. N&atilde;o salvar&atilde;o.<br /> <br /> No dia 18 de maio, as 13horas, Jo&atilde;o Pedro Matos, 14 anos(iria completar 15 dia 23 de junho), crian&ccedil;a negra, foi assassinado&nbsp; dentro de sua casa, com um tiro nas costas numa favela de S&atilde;o Gon&ccedil;alo(RJ)durante uma interven&ccedil;&atilde;o policial. Dia 02 de junho, Miguel Ot&aacute;vio Santana da Silva, cinco anos, crian&ccedil;a negra, caiu do nono andar do pr&eacute;dio Pier Maur&iacute;cio de Nassau em Recife, possivelmente por negligencia de Sari Gaspar Corte Real, patroa de Mirtes Renata Souza m&atilde;e de Miguel, que estava incumbida da prote&ccedil;&atilde;o do garoto enquanto Mirtes saia para levar o cachorro da patroa para passear. Interessante que o nome de Sari, que &eacute; mulher do prefeito S&eacute;rgio Hacker(PSB), do munic&iacute;pio de Tamandar&eacute;(PE), n&atilde;o foi divulgado pela Policia Civil de Pernambuco, que alegou cumprir a Lei de Abuso de Autoridade, que impede agentes p&uacute;blicos de divulgar nomes e imagens de pessoas investigadas(?). O delegado Ramon Teixeira, respons&aacute;vel pelas investiga&ccedil;&otilde;es, informou que recebeu ordem da dire&ccedil;&atilde;o da Pol&iacute;cia Civil em n&atilde;o divulgar o nome da investigada, e &ldquo;se ater aos fatos da investiga&ccedil;&atilde;o&rdquo;.&nbsp; O que todos sabemos &eacute; que se o caso fosse contr&aacute;rio e a m&atilde;e de Miguel fosse respons&aacute;vel pela morte do filho de Sari, esse cumprimento da Lei de Abuso de Autoridade certamente n&atilde;o seria aventado, muito menos cumprido, e com certeza a foto e nome da senhora Mirtes seriam estampadas nos jornais com ela sendo levada dentro de um cambur&atilde;o para uma penitenci&aacute;ria, sem direito a fian&ccedil;a, at&eacute; porque n&atilde;o teria dinheiro para pagar.<br /> <br /> No Brasil a cada 25 minutos morre uma crian&ccedil;a negra. Elas est&atilde;o sendo dizimadas de forma indiscriminada, ante o olhar benevolente das autoridades, das institui&ccedil;&otilde;es respons&aacute;veis em coibir tais crimes e da sociedade que n&atilde;o se manifesta contra essa viol&ecirc;ncia. Em 2018 elegemos um presidente com perfil violento, racista e que deu &aacute; dire&ccedil;&atilde;o da Funda&ccedil;&atilde;o Cultural Palmares, &oacute;rg&atilde;o de promo&ccedil;&atilde;o da cultura afro-brasileira, a S&eacute;rgio Camargo, negro, que sistematicamente vem a p&uacute;blico fazer declara&ccedil;&otilde;es que v&atilde;o de encontro ao que preconiza a funda&ccedil;&atilde;o com se n&atilde;o soubesse delas. Esta semana, numa reuni&atilde;o que tratou do desaparecimento do celular corporativo de Camargo, quando questionado sobre quem poderia ter pego o aparelho ele respondeu: &ldquo;Qualquer um... quem poderia? Algu&eacute;m que quer me prejudicar com ajuda de funcion&aacute;rios daqui. O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa esc&oacute;ria maldita&rdquo;. Sobre Zumbi dos Palmares ele fez o seguinte coment&aacute;rio: &ldquo;N&atilde;o tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que pra mim era um filho da puta que escravizava pretos&rdquo;. Este &eacute; o &uacute;nico negro no governo Bolsonaro. Lastim&aacute;vel.<br /> <br /> Infelizmente depois de 132 anos da aboli&ccedil;&atilde;o da escravatura no Brasil os resqu&iacute;cios da escravid&atilde;o, do preconceito racial e do racismo ainda &eacute; cr&iacute;vel, evidente e sem subterf&uacute;gios; pretos est&atilde;o relegados a um plano inferior em nossa sociedade e os governantes (todos eles), empres&aacute;rios e a elite dominante branca, n&atilde;o tem interesse em mudar esta situa&ccedil;&atilde;o. Pretos para eles &eacute; um ser inferior e desprez&iacute;vel que n&atilde;o est&atilde;o aptos para ocupar cargos de dire&ccedil;&atilde;o nas grandes empresas ou no primeiro escal&atilde;o de seus governos, como fazem Bolsonaro, governadores e prefeitos das capitais, este &eacute; um sistema excludente que prioriza os melhores cargos aos brancos em detrimento da maioria negra, que vota neles.<br /> <br /> S&oacute; para ter uma ideia de como eles fazem para ter o controle do sistema mantendo os negros fora do comando das organiza&ccedil;&otilde;es e institui&ccedil;&otilde;es do Estado, quando se deu a forma&ccedil;&atilde;o do ex&eacute;rcito brasileiro, ap&oacute;s a Guerra do Paraguai (1864/1870), os soldados eram majoritariamente composta de negros, cerca de 2,5 milh&otilde;es de escravos, quando a guerra acabou, eles n&atilde;o chegavam a 1.5 milh&atilde;o, em apenas seis anos desapareceram 1 milh&atilde;o de negros que foram usados como bucha de canh&atilde;o. A partir dai come&ccedil;ou um processo de arianiza&ccedil;&atilde;o e embranquecimento do povo brasileiro onde os representantes das classes dominantes foram assumindo o protagonismo do poder econ&ocirc;mico/social &aacute; &eacute;poca e aos negros foram relegados aos trabalhos escravo, mesmo com o fim da escravid&atilde;o, no dia 13 de maio de 1888.<br /> <br /> As mortes de Jo&atilde;o Pedro e Miguel n&atilde;o ser&atilde;o as &uacute;ltimas e estamos longe de fazer a revolu&ccedil;&atilde;o necess&aacute;ria para por fim a s&eacute;culos de domina&ccedil;&atilde;o, explora&ccedil;&atilde;o e opress&atilde;o de uma classe dominante que tira dos negros &agrave; possibilidade de liberta&ccedil;&atilde;o n&atilde;o permitindo seu acesso a uma boa educa&ccedil;&atilde;o e a ter uma qualidade de vida com dignidade. O sistema &eacute; perverso, ainda escravagista (moderno) e n&atilde;o vai abrir m&atilde;o desse seu privilegio enquanto negros, pardos, mulatos e ind&iacute;genas disserem n&atilde;o. Como disse hoje(05/06 numa entrevista ao UOL) Joselito Crispim, que atua no movimento contra a desigualdade social e racial na favela Solar do Unh&atilde;o, em Salvador: &ldquo;L&aacute;, nos EUA, eles n&atilde;o brigam s&oacute; por Floyd, mas pela sa&uacute;de, seguran&ccedil;a e infraestrutura. Agora se essa fa&iacute;sca se acender no Brasil... se &iacute;ndios e negros sa&iacute;rem &agrave;s ruas para lutar por direitos, o sistema cai&rdquo;. Ele fez a afirma&ccedil;&atilde;o baseado na popula&ccedil;&atilde;o brasileira, onde pretos, pardos e &iacute;ndios fazem parte de 64% da popula&ccedil;&atilde;o(IBGE,2015) &ldquo;Seria o fim da sociedade como a conhecemos&rdquo;, conclui ele.<br /> <br /> Mas para que est&aacute; mudan&ccedil;a aconte&ccedil;a e n&atilde;o tenhamos mais pessoas como Jo&atilde;o, Miguel, Agatha e outros tantos negros de nossa periferia sendo dizimados por controladores do sistema, precisamos acabar com o fosso da desigualdade educacional e cultural que separa a classe dominante do povo e faz dessa imensa maioria, um monte de gente sem discernimento, que n&atilde;o entende que est&aacute; sendo usado como bucha de canh&atilde;o em uma guerra onde somente &agrave; elite dominante ganha. &Eacute; disso que quero falar hoje, falar de liberdade, oportunidades, inclus&atilde;o pol&iacute;tica, social, econ&ocirc;mica; das decis&otilde;es de dentro do poder do Estado, das organiza&ccedil;&otilde;es, e &eacute; disso que quero que voc&ecirc;s tamb&eacute;m falem, fa&ccedil;am repercutir pra que possamos empatar este jogo que h&aacute; s&eacute;culos estamos perdendo. <br /> <br /> Por <i><b>Juarez Cruz</b></i>, escritor e cronista<br /> juarez.cruz@uol.com.br