O Brasil nunca precisou tanto da ciência e da educação

26 de junho de 2020 às 21:28

Jean Paul Prates
Aconteceu nessa semana o ciclo de debates Semana da Ci&ecirc;ncia e da Educa&ccedil;&atilde;o P&uacute;blica Brasileira, iniciativa muito oportuna de cinco frentes parlamentares do Congresso Nacional. Em meio &agrave; <a href="https://congressoemfoco.uol.com.br/saude/coronavirus-os-principais-fato-sobre-a-pandemia-hoje/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>maior trag&eacute;dia</i></u></span></a> de sua hist&oacute;ria&mdash;j&aacute; ultrapassamos os 55 mil mortos e 1,2 milh&atilde;o de infectados &mdash; nunca precisamos tanto da ci&ecirc;ncia e do conhecimento.<br /> <br /> Uma iniciativa como essa, promovida pelas frentes parlamentares, vai na contram&atilde;o desses tempos de achismos, de relativiza&ccedil;&otilde;es, de desd&eacute;m ao conhecimento produzido pela humanidade ao longo de mil&ecirc;nios.<br /> <br /> Um ponto importante: as frentes parlamentares convocaram especialistas para falar. O Legislativo organiza o debate, mas escuta quem dedicou a vida a estudar, a pesquisar os fen&ocirc;menos da natureza, das rela&ccedil;&otilde;es sociais, da Hist&oacute;ria. Permitam-me tamb&eacute;m, que eu dedique este espa&ccedil;o semanal aqui no Congresso em Foco para compartilhar o que dizem os especialistas.<br /> <br /> Tive o prazer e a responsabilidade de coordenar uma das mesas da Semana da Ci&ecirc;ncia e da Educa&ccedil;&atilde;o P&uacute;blica Brasileira, que tratou do tema &ldquo;<i><b>Ci&ecirc;ncia, Sa&uacute;de P&uacute;blica e Covid-19</b></i>&rdquo;. O debate, riqu&iacute;ssimo, reuniu, &uacute;ltima quarta-feira (24), o reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal &mdash; infectologista que coordena o maior estudo sobre a pandemia no Brasil &mdash;, a m&eacute;dica sanitarista Lucia Souto, presidente do Centro Brasileiro de Estudos da Sa&uacute;de (Cebes), a deputada federal e l&iacute;der do Psol na C&acirc;mara, Fernanda Melchionna, e o tamb&eacute;m sanitarista, ex-ministro da Sa&uacute;de, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).<br /> <br /> O alerta que soa na fala desses especialistas &eacute; estarrecedor: h&aacute; uma pol&iacute;tica deliberada de genoc&iacute;dio contra o povo brasileiro. Em um cen&aacute;rio que soma a crise econ&ocirc;mica, a crise sanit&aacute;ria e a crise pol&iacute;tica, as consequ&ecirc;ncias do abandono do pa&iacute;s &agrave; pr&oacute;pria sorte ainda ter&aacute; repercuss&otilde;es muito tempo depois de debelada a pandemia.<br /> <br /> Como destacou o ex-ministro Alexandre Padilha, j&aacute; somos o segundo pa&iacute;s em mortes e em casos de coronav&iacute;rus. Mas somos apenas o 109&ordm; em n&uacute;mero de testes por habitantes. Isso d&aacute; uma ideia do grau de subnotifica&ccedil;&atilde;o da doen&ccedil;a, como atesta o estudo coordenado pelo reitor Pedro Hellal, segundo o qual h&aacute; podem haver at&eacute; sete casos de covid-19 n&atilde;o testados para cada caso confirmado.<br /> <br /> Insens&iacute;vel diante do sofrimento do povo, o governo Bolsonaro parece apostar na subnotifica&ccedil;&atilde;o para conter n&atilde;o a pandemia, mas a sensa&ccedil;&atilde;o de pandemia.<br /> <br /> Houve uma decis&atilde;o pol&iacute;tica de n&atilde;o permitir que o Brasil tivesse rede p&uacute;blica de testagem. Felizmente, na contram&atilde;o do governo genocida, temos os cientistas, os m&eacute;dicos, os pesquisadores das institui&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas que se dedicam a estudos que nos d&atilde;o o m&iacute;nimo de luz sobre o caos que Bolsonaro quer esconder.<br /> <br /> Al&eacute;m da subnotifica&ccedil;&atilde;o, a estrat&eacute;gia genocida de Bolsonaro aposta em empurrar a popula&ccedil;&atilde;o rumo &agrave; infec&ccedil;&atilde;o, na temer&aacute;ria busca da chamada imunidade de rebanho&mdash;que consiste atingir de 70% a 80% de pessoas contaminadas como forma de controlar a pandemia.<br /> <br /> Essa &eacute; uma aposta cruel, como demonstram os resultados que ela produziu na It&aacute;lia, no Reino Unido e nos Estados Unidos: ac&uacute;mulo de mortos e colapso dos sistemas de sa&uacute;de. Mais do que cruel, a aposta na imunidade de rebanho frente &agrave; covid-19 provou-se ineficaz. A trag&eacute;dia de Nova York, com 25 mil mortos, resultou em apenas 25% de infectados. Em Madri morreram 8.400 pessoas e a taxa de infectados foi de 11%.<br /> <br /> Quantos mortos precisar&iacute;amos ter no Brasil para chegar aos 80% de infectados desejados por Bolsonaro? Mais de 1 milh&atilde;o, segundo os especialistas.<br /> <br /> Outro aspecto importante, ressaltado pelo ex-ministro Padilha e pela sanitarista Lucia Souto &eacute; que o v&iacute;rus n&atilde;o &eacute; democr&aacute;tico. A morte por covid-19 tem cor, classe social e endere&ccedil;o. Os pobres, os negros e os ind&iacute;genas morrem muito mais &mdash; mas est&aacute; sendo necess&aacute;rio que parlamentares como Fernanda Melchionna, Alexandre Padilha e outros apresentem projetos de lei para obrigar o governo a divulgar ra&ccedil;a, naturalidade, localiza&ccedil;&atilde;o geogr&aacute;fica e outras informa&ccedil;&otilde;es sobre as v&iacute;timas da covid-19 que permitam desenhar os rostos dessa trag&eacute;dia.<br /> <br /> O Brasil ainda tem uma longa caminhada para completar a travessia dessa trag&eacute;dia. L&aacute; longe, no final do t&uacute;nel, uma luzinha nos sinaliza que o povo brasileiro hoje entende, como nunca, a import&acirc;ncia do inestim&aacute;vel patrim&ocirc;nio que s&atilde;o o Sistema &Uacute;nico de Sa&uacute;de, as institui&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas de ensino e de pesquisa e todo o conhecimento e inova&ccedil;&atilde;o produzidos por essas institui&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Como lembra a sanitarista Lucia Souto, n&atilde;o h&aacute; democracia sem sa&uacute;de para todos e n&atilde;o h&aacute; sa&uacute;de para todos sem democracia. Mais do que nunca, &eacute; hora de ouvir os cientistas e agir. Chega de achismos. Como j&aacute; cantou a chilena Violeta Parra: &ldquo;<i><b>Vivam os especialistas</b></i>&rdquo;.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_jean-paul-prates_senador-rio-grande-do-norte.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <i><b>Jean Paul Prates</b></i>, senador da Rep&uacute;blica pelo estado do Rio Grande do Norte.<br /> Fonte: <a href="https://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunas/o-brasil-nunca-precisou-tanto-da-ciencia-e-da-educacao/?utm_source=Mailee&amp;utm_medium=email&amp;utm_campaign=Confira+os+destaques+do+dia+&amp;utm_term&amp;utm_content=Confira+os+destaques+do+dia" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>https://congressoemfoco.uol.com.br/</i></u></span></a><br />