Frágil democracia

24 de julho de 2020 às 19:03

Ricardo Viveiros
Quem assistiu a &quot;&Oacute;pera dos Tr&ecirc;s Vint&eacute;ns&quot;, de Bertold Brecht e Kurt Weill, pode tra&ccedil;ar um paralelo da &quot;Rep&uacute;blica de Weimar&quot;, na Alemanha dos anos 1920, com a atual democracia brasileira. Ambas fr&aacute;geis e dominadas por grupos rebeldes. Na Alemanha havia os monarquistas, os nacionalistas, os comunistas, os democratas e os oportunistas de plant&atilde;o que, aproveitando a efervesc&ecirc;ncia causada pelos demais, corrompiam o pa&iacute;s que contrastava a mis&eacute;ria de muitos com a riqueza de poucos. <br /> <br /> No Brasil temos, h&aacute; d&eacute;cadas, uma sociedade que se frustra elei&ccedil;&otilde;es ap&oacute;s elei&ccedil;&otilde;es. Nada pior que desesperan&ccedil;a para dar espa&ccedil;o aos radicais, de qualquer ideologia, como tamb&eacute;m aos oportunistas. Desde a Rep&uacute;blica, faz 130 anos, ironicamente o que menos tivemos foram governantes republicanos. Decep&ccedil;&otilde;es com &quot;salvadores da P&aacute;tria&quot; foram sucessivas: Get&uacute;lio; J&acirc;nio; Collor; Lula. <br /> <br /> Quanta esperan&ccedil;a frustrada. Reformas sempre prometidas foram sempre postergadas. Quantas justas expectativas jamais aconteceram de modo pleno. O que tivemos? Corrup&ccedil;&atilde;o, desmando, fisiologismo, inseguran&ccedil;a pol&iacute;tica e social. Muitos problemas que impediram o desenvolvimento. <br /> <br /> Jair Bolsonaro foi a mais recente esperan&ccedil;a para gera&ccedil;&otilde;es de brasileiros que desconhecem a plena democracia. Porque quando faltam direitos b&aacute;sicos, mesmo com liberdade, inexiste leg&iacute;timo estado democr&aacute;tico. Impedir corrup&ccedil;&atilde;o, embora relevante, n&atilde;o &eacute; o &uacute;nico dever do presidente, mesmo que seus antecessores n&atilde;o o tenham cumprido. E demais compromissos? Cultura, por exemplo, ainda n&atilde;o mereceu deste governo o cuidado que exige como garantia de liberdade e progresso. <br /> <br /> O novo &quot;salvador da P&aacute;tria&quot; usa slogans semelhantes aos do Nazismo: Deutschland &uuml;ber alles, (&quot;Alemanha acima de tudo&quot;). Ou ainda, como disse Adolf Hitler no livro Minha Luta: &quot;O que a maioria quer &eacute; a vit&oacute;ria dos mais fortes e o aniquilamento ou a capta&ccedil;&atilde;o incondicional dos mais fracos&quot;, que Bolsonaro repete: &quot;Vamos fazer o Brasil para as maiorias; as minorias t&ecirc;m que se curvar &agrave;s maiorias. As leis devem existir para defender as maiorias; as minorias se adequam ou simplesmente desaparecem&hellip;&quot;. <br /> <br /> N&atilde;o podemos deixar o Brasil cair no obscuro radicalismo, seja de qual ideologia for. O presidente parece buscar sa&iacute;da honrosa para se livrar de um desafio para o qual descobriu n&atilde;o estar preparado. Faz oposi&ccedil;&atilde;o a si mesmo, busca ser v&iacute;tima de impeachment para deixar o poder como &quot;her&oacute;i&quot;. Quem sabe tenha plano para ser o &quot;J&acirc;nio que deu certo&quot;? Sair para voltar nos bra&ccedil;os do povo, realizar o sonho de ser &quot;dono&quot; do Pa&iacute;s. Governar sem os demais poderes que n&atilde;o respeita, pois apoia manifesta&ccedil;&otilde;es contra eles ao arrepio da Constitui&ccedil;&atilde;o. <br /> <br /> No Brasil, as consequ&ecirc;ncias da Covid-19 somam-se &agrave;s crises pol&iacute;tica e econ&ocirc;mica em um pa&iacute;s dividido: os contra, os a favor e os oportunistas. Exatamente como na fr&aacute;gil democracia alem&atilde; da Rep&uacute;blica de Weimar que, registra a Hist&oacute;ria, n&atilde;o acabou bem. Queremos um Pa&iacute;s com paz, uni&atilde;o, respeito e trabalho. Como disse o saudoso publicit&aacute;rio, Carlito Maia: &quot;N&oacute;s n&atilde;o precisamos de muitas coisas, s&oacute; uns dos outros. Acordem e progresso!&quot; <br /> <br /> Por <i><b>Ricardo Viveiros</b></i>, jornalista e escritor, &eacute; autor, entre outros, dos livros: &quot;A vila que descobriu o Brasil&quot;, &quot;Justi&ccedil;a seja feita&quot;, &quot;Educa&ccedil;&atilde;o S/A&quot;.<br />