Por que a eleição de 2020 é tão importante?

24 de julho de 2020 às 19:06

Arthur Fisch
Elei&ccedil;&otilde;es s&atilde;o sempre importantes. Como evento central de qualquer democracia, &eacute; o principal momento para a popula&ccedil;&atilde;o expressar sua vis&atilde;o relativa &agrave;s pol&iacute;ticas p&uacute;blicas, &agrave; representa&ccedil;&atilde;o e aos caminhos da sociedade. Toda elei&ccedil;&atilde;o &eacute; um evento de grande import&acirc;ncia com reflexos n&atilde;o s&oacute; para os quatro anos subsequentes, mas tamb&eacute;m para a evolu&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, econ&ocirc;mica e social da circunscri&ccedil;&atilde;o eleitoral em quest&atilde;o. Em momentos de crise ou de grandes movimenta&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas, algumas elei&ccedil;&otilde;es ganham contornos diferentes. <br /> <br /> A quest&atilde;o &eacute;: por que a elei&ccedil;&atilde;o de 2020 &eacute; t&atilde;o importante para a pol&iacute;tica brasileira? <br /> <br /> Antes mesmo da pandemia causada pelo Covid-19, essa elei&ccedil;&atilde;o j&aacute; teria caracter&iacute;sticas &uacute;nicas. Por se tratar da primeira elei&ccedil;&atilde;o sem a possibilidade de coliga&ccedil;&atilde;o entre partidos para a disputa de cargos proporcionais, como vereadores e deputados, o pleito contaria com estrat&eacute;gias diferenciadas dos partidos pol&iacute;ticos. Essa &eacute; uma mudan&ccedil;a que veio com a Reforma Pol&iacute;tica de 2017 (EC 97/17) e &eacute; positiva. O fim deste tipo de coliga&ccedil;&atilde;o incentiva, mesmo os pequenos partidos, a lan&ccedil;arem candidatos para a disputa majorit&aacute;ria, como os prefeitos, o que teria efeito positivo sobre o voto de legenda na elei&ccedil;&atilde;o para vereador. <br /> <br /> Atingir uma boa vota&ccedil;&atilde;o nos munic&iacute;pios n&atilde;o &eacute; somente importante para os partidos no n&iacute;vel local. As elei&ccedil;&otilde;es municipais, ainda que n&atilde;o tenham rela&ccedil;&atilde;o direta com a disputa para cargos Estaduais e Federais, influenciam na escolha desses representantes. Eleger um prefeito, mesmo que com uma margem de apenas 1%, aumenta os votos nas elei&ccedil;&otilde;es proporcionais subsequentes para deputado federal ou estadual. Dessa forma, os prefeitos seriam cabos eleitorais naturais para candidatos a deputado. <br /> <br /> A Reforma Pol&iacute;tica de 2017 lan&ccedil;ou tamb&eacute;m a cl&aacute;usula de desempenho. Criada como forma de reduzir a hiperfragmenta&ccedil;&atilde;o do sistema partid&aacute;rio brasileiro, a cl&aacute;usula restringe o acesso aos partidos pol&iacute;ticos de recursos do fundo partid&aacute;rio e tempo gratuito para propaganda no r&aacute;dio e TV. Em vigor desde 2019, a cl&aacute;usula &eacute; progressiva. Na primeira rodada s&oacute; teriam acesso aos benef&iacute;cios os partidos que tivessem pelo menos 1,5% dos votos para a C&acirc;mara dos Deputados, distribu&iacute;dos em 9 estados. Esses percentuais sobem gradativamente at&eacute; 2031, quando ser&atilde;o exigidos 3% dos votos v&aacute;lidos para a C&acirc;mara, distribu&iacute;dos em 9 estados com 2% dos votos v&aacute;lidos em cada um deles. Essa exig&ecirc;ncia somada ao fim das coliga&ccedil;&otilde;es proporcionais p&otilde;e press&atilde;o sob muitos partidos, em especial os nanicos. Ter uma boa vota&ccedil;&atilde;o na elei&ccedil;&atilde;o de 2020 pode significar vida ou morte para eles em 2022. <br /> <br /> Al&eacute;m das quest&otilde;es sobre regras e estrat&eacute;gias, a elei&ccedil;&atilde;o deste ano ser&aacute; a primeira disputa tendo o Bolsonarismo como uma das principais for&ccedil;as pol&iacute;ticas do pa&iacute;s. Ser&aacute; o primeiro teste para saber se o movimento que ap&oacute;ia o presidente Bolsonaro &eacute; algo eleitoralmente mais concreto e duradouro, ou se &eacute; reflexo do cen&aacute;rio de 2018. Ser&aacute; uma prova de fogo para o presidente mostrar sua for&ccedil;a pol&iacute;tica, apesar de todo o desgaste causado pela m&aacute; condu&ccedil;&atilde;o das pol&iacute;ticas de combate &agrave; pandemia do coronav&iacute;rus e os esc&acirc;ndalos envolvendo sua fam&iacute;lia. <br /> <br /> Outro ponto &eacute; que, por conta da Covid-19, o Congresso Nacional decidiu adiar a elei&ccedil;&atilde;o de outubro para novembro. A &uacute;ltima vez que isso aconteceu no Brasil foi em 1980, durante a Ditadura Militar, quando os parlamentares decidiram prorrogar mandatos de prefeitos e vereadores de cerca de 4.000 cidades semanas antes da data oficial. A pandemia certamente afetar&aacute; o modo como ser&atilde;o feitas as campanhas. Com as recomenda&ccedil;&otilde;es para evitar aglomera&ccedil;&otilde;es, n&atilde;o devemos ter muitos com&iacute;cios. O isolamento social deve afetar a campanha porta-a-porta. Tamb&eacute;m &eacute; poss&iacute;vel especular que as campanhas ser&atilde;o cada vez mais digitais. <br /> <br /> Elei&ccedil;&otilde;es s&atilde;o por sua natureza sempre muito importantes. O pleito de 2020 n&atilde;o seria diferente, mas todo contexto atual o torna ainda mais relevante. &Eacute; atrav&eacute;s da urna que uma popula&ccedil;&atilde;o pode mudar os rumos de seu destino ou referendar o caminho j&aacute; escolhido. As elei&ccedil;&otilde;es municipais n&atilde;o s&atilde;o descasadas de um cen&aacute;rio pol&iacute;tico mais amplo e o que for decidido em novembro ter&aacute; grande impacto para o futuro pr&oacute;ximo. <br /> <br /> Por <i><b>Arthur Fisch</b></i> &eacute; consultor de intelig&ecirc;ncia eleitoral da Confirma, plataforma de gest&atilde;o estrat&eacute;gica de campanhas eleitorais, Economista (USP) e doutor em Administra&ccedil;&atilde;o P&uacute;blica e Governo (FGV). &Eacute; assistente de pesquisa do Centro de Pol&iacute;tica e Economia do Setor P&uacute;blico da Funda&ccedil;&atilde;o Getulio Vargas (FGV).<br />