CENTRÃO, CENTRO E CENTRINHOS

05 de agosto de 2020 às 16:49

Gaudêncio Torquato
Com a sa&iacute;da do MDB e do DEM do Centr&atilde;o, bloco at&eacute; ent&atilde;o com 221 deputados, eles se tornam os pesos da balan&ccedil;a que vai pender para a situa&ccedil;&atilde;o ou para a oposi&ccedil;&atilde;o. Permanecer no meio, brandindo o discurso de independ&ecirc;ncia, &eacute; conversa fiada. Uma eventual base governista continuar&aacute; sendo uma incerteza, eis que os partidos agir&atilde;o doravante sob a chancela do pragmatismo. Conseguir&aacute; o governo construir s&oacute;lida e duradoura articula&ccedil;&atilde;o com o Congresso?<br /> <br /> O MDB e o DEM tender&atilde;o a avaliar o governo pelo crivo da sociedade, coisa mapeada periodicamente e cujos resultados, por sua vez, dependem da economia. Recupera&ccedil;&atilde;o restrita e lenta bafejar&atilde;o a base oposicionista; a rec&iacute;proca &eacute; verdadeira. Se o Brasil voltar a impulsionar a confian&ccedil;a de investidores, os investimentos, a taxa do PIB, enfim, o produto nacional da felicidade bruta, ter&aacute; condi&ccedil;&otilde;es de voltar a enxergar Bolsonaro como principal protagonista em 2022.<br /> <br /> Mas o caminho at&eacute; l&aacute; &eacute; longo. E s&oacute; permite avan&ccedil;armos com proje&ccedil;&otilde;es mais gerais, uma vez que ainda nem sabemos quais figurantes entrar&atilde;o no jogo. Comecemos com o assunto do momento e que paira como foice da morte sobre a cabe&ccedil;a de milh&otilde;es de brasileiros: o Covid-19. &Eacute; prov&aacute;vel que os efeitos catastr&oacute;ficos da pandemia sejam sentidos at&eacute; o final deste ano, mas &eacute; igualmente razo&aacute;vel se pensar em pequenas ondas de v&iacute;rus aparecendo aqui e ali, continuando a gerar medo e ang&uacute;stia.<br /> <br /> Sob essa teia de possibilidades, a pol&iacute;tica tende a receber um voto mais cr&iacute;tico. Tanto nas elei&ccedil;&otilde;es de novembro pr&oacute;ximo quanto em outubro de 2022. Por conseguinte, os partidos procuram olhar com lupa o estado d&rsquo;alma da sociedade, examinando rumos, avaliando probabilidades. Abramos mais pistas no tabuleiro. O governo deve ampliar o cobertor social, refor&ccedil;ando-o com o programa Renda Brasil a imagem positiva nas margens, a partir do Nordeste, onde n&atilde;o foi bem votado em 2018 e que agrega cerca de 28% dos votos do pa&iacute;s.<br /> <br /> Digamos que esse voto das margens seja repartido no seio das classes sociais. Como agir&atilde;o os contingentes aboletados nas periferias das grandes cidades do Sudeste, a partir de S&atilde;o Paulo, Estado que, sozinho, tem 46 milh&otilde;es de eleitores? Como ser&atilde;o os programas sociais para essas massas? H&aacute; outro elemento decisivo a entrar no rol de componentes: o voto das classes m&eacute;dias (m&eacute;dia/alta, m&eacute;dia/m&eacute;dia/e m&eacute;dia/baixa). N&atilde;o devemos esquecer a famosa imagem da pedra jogada no meio do lago: as marolas formadas correm at&eacute; &agrave; beira da lagoa. As classes C, D e E poder&atilde;o ser influenciadas.<br /> <br /> Nesse contingente que habita o meio da pir&acirc;mide, toma vulto a express&atilde;o dos profissionais liberais, a maior tuba de resson&acirc;ncia do Brasil, cujo discurso flui para baixo e para cima, atingindo eleitores de todos os cantos da sociedade. Nesse meio est&atilde;o fontes qualificadas, porta-vozes, difusores de m&iacute;dias sociais, enfim, o n&uacute;cleo que vocaliza com mais for&ccedil;a o pensamento social. Pois bem, as classes m&eacute;dias, por volta de 50% da popula&ccedil;&atilde;o (somava at&eacute; mais antes da pandemia), tendem a ser mais cr&iacute;ticas em suas avalia&ccedil;&otilde;es, portando posicionamento de oposi&ccedil;&atilde;o ao status quo.<br /> <br /> Em suma, os centristas ter&atilde;o import&acirc;ncia fundamental no processo pol&iacute;tico em transi&ccedil;&atilde;o. Refor&ccedil;o esse termo - transi&ccedil;&atilde;o - sob a cren&ccedil;a de que n&atilde;o h&aacute; condi&ccedil;&otilde;es sociais e pol&iacute;ticas de duas alas segurarem o cabo de guerra - esquerda e direita -, ou seja, a polariza&ccedil;&atilde;o caminha para o arrefecimento. O eleitorado est&aacute; saturado de abordagens mal educadas, palavras de baixo cal&atilde;o, querelas tomadas pelo &oacute;dio. Espraia-se um sentimento de que o Brasil carece de esfor&ccedil;o suprapartid&aacute;rio para vencer as batalhas: a sanit&aacute;ria, a econ&ocirc;mica e a pol&iacute;tica.<br /> <br /> Observa-se, ainda, que intensa organicidade se desenvolve em todas as regi&otilde;es. Por descr&eacute;dito na pol&iacute;tica, as pessoas procuram seus centros de refer&ecirc;ncia - associa&ccedil;&otilde;es, sindicatos, movimentos, grupos de a&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica. Significa dizer, em outras palavras, que milhares de centrinhos sociais se formam, gerando novos polos de poder.<br /> <br /> Dito isto, infere-se que o Centr&atilde;o, o bloco parlamentar com 160 deputados, conhecido por ser muito fisiol&oacute;gico, sob o aspecto do voto, n&atilde;o ter&aacute; tanta for&ccedil;a ante os habitantes do centro da pir&acirc;mide e os centrinhos que se organizam no pa&iacute;s. O desenho dessa nova ordem tira a for&ccedil;a de negociatas que tratam de quarentenas para ju&iacute;zes, no caso, uma quarentena de 8 anos para uma eventual candidatura do juiz S&eacute;rgio Moro &agrave; Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica. Ora, deixem que o eleitor decida sobre isso, sem travas burocr&aacute;ticas e impeditivas de candidaturas.<br /> <br /> Se o Centr&atilde;o firmar-se ao lado do presidente, levando os votos do PL, PP, PSD, Solidariedade, PTB, PROS e Avante, o governo conseguir&aacute; al&iacute;vio para caminhar com desenvoltura nos corredores congressuais, evitando fantasmas que o assombram? Uma certeza: ter&aacute; de redobrar esfor&ccedil;os para afastar horizontes sombrios que amea&ccedil;am a eleva&ccedil;&atilde;o do Brasil no concerto das Na&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="80" align="left" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Gaud&ecirc;ncio Torquato</b></i>, jornalista, &eacute; professor titular da USP, consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o Twitter@gaudtorquato - Acesse o blog <a href="https://www.observatoriopolitico.org/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>www.observatoriopolitico.org</i></u></span></a><br />