Eleições municipais, pandemia e criatividade nas campanhas

21 de setembro de 2020 às 11:20

Rodrigo Augusto Prando
Teremos, neste pleito que se avizinha, uma elei&ccedil;&atilde;o at&iacute;pica, ocasionada, obviamente, pela presen&ccedil;a de uma pandemia que, desde mar&ccedil;o, nos obrigou a graus distintos de distanciamento social. Elegeremos cerca de 5.570 prefeitos e 57.930 vereadores. Elei&ccedil;&otilde;es s&atilde;o festas c&iacute;vicas da democracia, a escolha dos pol&iacute;ticos por meio do voto, mas, jamais, pode-se reduzir a vida democr&aacute;tica apenas &agrave;s elei&ccedil;&otilde;es. <br /> <br /> Ser&aacute; um per&iacute;odo desafiador para os candidatos - a prefeitos e vereadores - que ter&atilde;o 45 dias para realizar suas campanhas. At&eacute; 2016, eram 90 dias, portanto, a covid-19 n&atilde;o suprimiu os dias de campanha, mas alterou as datas da vota&ccedil;&atilde;o, pois o primeiro turno ser&aacute; em 15 de novembro e, para os munic&iacute;pios que tiverem segundo turno, a ida &agrave; urna ser&aacute; em 29 de novembro. <br /> <br /> A pandemia e a consequente necessidade de evitar aglomera&ccedil;&otilde;es e manter o devido distanciamento social, impor&aacute; desafios extras aos candidatos. Especialmente nas elei&ccedil;&otilde;es municipais, o contato do candidato com o eleitor &eacute; bem pr&oacute;ximo, cujos apertos de m&atilde;os, abra&ccedil;os, tapinhas nas costas, fotos com correligion&aacute;rios e eleitores, crian&ccedil;as nos colo, enfim, uma intensa agenda de eventos e reuni&otilde;es p&uacute;blicas s&atilde;o parte de nossa cultura pol&iacute;tica. A emo&ccedil;&atilde;o e a raz&atilde;o comp&otilde;em o roteiro das intera&ccedil;&otilde;es f&iacute;sicas e simb&oacute;licas no universo eleitoral. <br /> <br /> Neste ano, candidatos e suas equipes de marketing pol&iacute;tico e eleitoral dever&atilde;o se desdobrar para chegar com suas mensagens at&eacute; o eleitorado. Claro que aqueles que buscam a reelei&ccedil;&atilde;o partem de um patamar superior, tendo uma vantagem competitiva em rela&ccedil;&atilde;o aos advers&aacute;rios, pois j&aacute; s&atilde;o conhecidos e costumam ter a m&aacute;quina p&uacute;blica a seu favor. <br /> <br /> Da mesma forma, os candidatos &quot;celebridades&quot; (atores, apresentadores de televis&atilde;o, esportistas, youtubers, etc.) n&atilde;o necessitam de grandes esfor&ccedil;os para se tornarem conhecidos em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; grande massa dos demais advers&aacute;rios. Mesmo os que n&atilde;o est&atilde;o disputando a reelei&ccedil;&atilde;o ou que sejam celebridades, mas que h&aacute; tempos est&atilde;o presentes nas redes sociais e interagem constantemente com seus seguidores apresentam diferenciais que lhes d&atilde;o vantagens. Candidatos que se posicionam e interagem bem e nas mais variadas plataformas s&atilde;o capazes de apresentar uma comunica&ccedil;&atilde;o mais assertiva, direta e clara com o p&uacute;blico. Escrever e falar bem s&atilde;o ferramentas fundamentais para um pol&iacute;tico, bem como ser capaz de dialogar, respeitar profundamente a democracia e os princ&iacute;pios republicanos. <br /> <br /> Mais do que pedir voto, o candidato dever&aacute; ter sua narrativa, contar sua hist&oacute;ria, indicar o porqu&ecirc; de ser merecedor do voto e da confian&ccedil;a do cidad&atilde;o. Esses candidatos a prefeitos e vereadores t&ecirc;m uma trajet&oacute;ria e esta n&atilde;o pode ser desconsiderada. Quem &eacute; o candidato? Quais suas realiza&ccedil;&otilde;es na vida privada ou p&uacute;blica? Faz parte ativa da comunidade? Quais s&atilde;o os temas ou bandeiras que defendem? &Eacute; ne&oacute;fito na pol&iacute;tica ou j&aacute; est&aacute; nela h&aacute; d&eacute;cadas? E fundamental: &eacute; ficha limpa? Tem conduta ilibada? Outro aspecto que merece aten&ccedil;&atilde;o nas elei&ccedil;&otilde;es &eacute; a equipe do candidato, j&aacute; que uma campanha pol&iacute;tica vitoriosa depende, geralmente, de um bom time. H&aacute; que se considerar, na formula&ccedil;&atilde;o da equipe, o especialista em marketing pol&iacute;tico e marketing digital (este, em tempos de pandemia, &eacute; indispens&aacute;vel para produ&ccedil;&atilde;o de conte&uacute;do e gest&atilde;o das redes sociais), o jornalista e assessor de imprensa, advogado especialista em Direito Eleitoral, os pesquisadores que gerar&atilde;o e interpretar&atilde;o dados quantitativos e qualitativos e, mais importante, os militantes que se engajar&atilde;o na campanha, por acreditarem no candidato e em sua mensagem. Um pol&iacute;tico incapaz de gerenciar uma boa equipe n&atilde;o ser&aacute; capaz de, no exerc&iacute;cio do mandato, apresentar a lideran&ccedil;a necess&aacute;ria e uma boa performance. As equipes de campanha - enxutas ou amplas - devem ser alicer&ccedil;adas sobre conhecimento profissional e, especialmente num cen&aacute;rio de crise de sa&uacute;de e de crise econ&ocirc;mica, apresentar criatividade para firmar a imagem e a narrativa do candidato. <br /> <br /> Voc&ecirc;, leitor e leitora, ser&aacute; candidato? Pensou nisso tudo? E voc&ecirc;, eleitor e eleitora, est&aacute; preparado para avaliar criticamente aqueles que lhe pedir&atilde;o o voto? Votar &eacute; fundamental, mas a cidadania n&atilde;o se limita e nem se encerra nas elei&ccedil;&otilde;es; a cidadania ativa implica em acompanhar e cobrar o pol&iacute;tico eleito, participar da vida c&iacute;vica e, principalmente, entender que vereadores e prefeitos devem servir ao p&uacute;blico e, jamais, se servir daquilo que &eacute; p&uacute;blico. <br /> <br /> Por <i><b>Rodrigo Augusto Prando</b></i> &eacute; professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do Centro de Ci&ecirc;ncias Sociais e Aplicadas. Graduado em Ci&ecirc;ncias Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp de Araraquara.