O câncer nunca espera

21 de setembro de 2020 às 11:28

Jaqueline Chagas
A pandemia de Covid-19 mostrou de maneira clara e sem filtro as in&uacute;meras mazelas da sociedade. No Brasil, muitos morreram, milhares ficaram doentes e tantos outros perderam seus empregos. Al&eacute;m disso, aqueles que j&aacute; estavam doentes, ficaram sem poder se tratar adequadamente ou n&atilde;o puderam fazer exames de rotina.<br /> <br /> Por exemplo, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Patologia e de Cirurgia Oncol&oacute;gica, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com c&acirc;ncer. Outros tantos pacientes, ja&#769; com o tumor detectado, precisaram ter seus tratamentos suspensos. Cerca de 70% das cirurgias desse tipo de paciente, tiveram de ser adiadas.<br /> <br /> Esses dados s&atilde;o resultantes dos cancelamentos ou remarca&ccedil;&otilde;es de procedimentos considerados n&atilde;o urgentes, como, por exemplo, consultas e exames. Al&eacute;m disso, muitas pessoas ficaram com medo de consultar um m&eacute;dio ou buscar um hospital pelo receio da contamina&ccedil;&atilde;o. Institui&ccedil;&otilde;es importantes viram a queda de atendimentos durante o per&iacute;odo, como o Instituto do C&acirc;ncer do Estado de Sa&#771;o Paulo (Icesp).<br /> <br /> Mas ser&aacute; que haver&aacute; outras remarca&ccedil;&otilde;es? Dar&aacute; tempo de resistir at&eacute; l&aacute;? S&atilde;o quest&otilde;es que quem est&aacute; com c&acirc;ncer se pergunta o tempo todo. Por exemplo, tive uma consulta que seria em dezembro, mas que foi remarcada. Ela seria importante, pois determinaria a mudan&ccedil;a da hormoterapia, que funciona como uma quimioterapia oral que realizo todo dia, mas que tem tido baixa efic&aacute;cia. At&eacute; quando vou precisar esperar? E outros pacientes na mesma situa&ccedil;&atilde;o, como ficam?<br /> Para piorar a situa&ccedil;&atilde;o de in&uacute;meros pacientes, devido ao medo do cont&aacute;gio do novo coronav&iacute;rus, h&aacute; m&eacute;dicos que preferem n&atilde;o tocar em pacientes quando fazem exames nesse per&iacute;odo. Por&eacute;m, isso &eacute; fundamental, j&aacute; que precisam tocar na mama, na axila e outros pontos para identificar poss&iacute;veis linfonodos (s&atilde;o g&acirc;nglios linf&aacute;ticos, que permitem a poss&iacute;vel identifica&ccedil;&atilde;o ou piora da doen&ccedil;a).<br /> <br /> &Eacute; preciso ressaltar a s&eacute;ria preocupa&ccedil;&atilde;o com o Covid-19, no entanto, o c&acirc;ncer nunca estar&aacute; em quarentena. Pelo contr&aacute;rio, a doen&ccedil;a nunca espera. Quem est&aacute; em acompanhamento, necessitando de exames de rotina para o rastreamento do c&acirc;ncer, que precisa fazer consulta de seis em seis meses, acaba entrando nessa estat&iacute;stica, ora pelas consultas remarcadas ora pelo pr&oacute;prio medo do coronav&iacute;rus.<br /> <br /> N&atilde;o podemos reclamar o tempo todo da pandemia. Vale ressaltar que muitos problemas do sistema de sa&uacute;de n&atilde;o s&atilde;o de agora. O que era deficiente s&oacute; ficou pior com o aumento do cont&aacute;gio do novo coronav&iacute;rus. Os pacientes n&atilde;o podem ficar de lado. Como j&aacute; disse e refor&ccedil;o, o c&acirc;ncer n&atilde;o espera.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_jaqueline-chagas_contabilista-fundadora-grupo-unidas-para-sempre.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <i><b>Jaqueline Chagas</b></i>, contabilista, paciente que luta contra o c&acirc;ncer e fundadora do Grupo Unidas para Sempre, que tem como objetivo dar suporte e apoio ao paciente com c&acirc;ncer e outras patologias.