As apostas da CBF para o futebol feminino no Brasil

29 de setembro de 2020 às 17:32

Marina Aggio
Diante das mudan&ccedil;as ocorridas na gest&atilde;o do futebol feminino, faremos uma linha do tempo para an&aacute;lise das apostas que a CBF (Confedera&ccedil;&atilde;o Brasileira de Futebol) assumiu nos &uacute;ltimos dez anos, que abriram as portas da institui&ccedil;&atilde;o para as mulheres atuarem em diferentes fun&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Em 2013, a CBF abriu as portas para Emily Lima, que foi a primeira mulher a assumir a Sele&ccedil;&atilde;o de base Sub &ndash; 17.&nbsp; Em 2016, a treinadora assumiu a Sele&ccedil;&atilde;o principal de futebol feminino, na &eacute;poca, com 36 anos de idade e uma carreira consolidada dentro e fora das quatro linhas, trazendo uma vasta experi&ecirc;ncia conduzindo diversos clubes brasileiros como Juventus, portuguesa e o campeon&iacute;ssimo, S&atilde;o Jos&eacute;.<br /> <br /> Em setembro de 2017, Emily foi demitida pelo pelo presidente da CBF, Marco Polo del Nero, ap&oacute;s algumas derrotas no Torneio das Na&ccedil;&otilde;es, em julho, nos Estados Unidos. Com sua sa&iacute;da o t&eacute;cnico Vad&atilde;o conduziu a sele&ccedil;&atilde;o feminina por dois anos, sendo demitido ap&oacute;s a Copa do Mundo de 2019, na Fran&ccedil;a.<br /> <br /> Ainda em 2019 a CBF apostou em mais uma mulher no comando da Sele&ccedil;&atilde;o Principal de futebol feminino e dessa vez o investimento &eacute; estrangeiro: Pia Sundhage. A treinadora de 59 anos traz no curr&iacute;culo cinco anos de experi&ecirc;ncia no fort&iacute;ssimo futebol norte-americano e mais cinco anos no organizado futebol sueco e, durante esse per&iacute;odo, a treinadora possui um Bicampeonato Ol&iacute;mpico com a Sele&ccedil;&atilde;o Americana (2008 e 2012), uma medalha de Prata com a Sele&ccedil;&atilde;o Su&eacute;ca em 2016 e ainda, foi vice-campe&atilde; do Mundial em 2011. A CBF tamb&eacute;m apostou em Beatriz Vaz como assistente t&eacute;cnica. Bia, como &eacute; conhecida no meio futebolistico, era a &uacute;nica mulher a fazer parte da comiss&atilde;o t&eacute;cnica do Vad&atilde;o e tem grande experi&ecirc;ncia como jogadora no futebol internacional e nacional.<br /> <br /> Falando em contrata&ccedil;&atilde;o de mulheres nas comiss&otilde;es, a CBF aposta mais uma vez em 2019, em uma comiss&atilde;o formada apenas por figuras femininas. Simone Jatob&aacute; &eacute; a comandante, Lindsay Camila &eacute; a assistente t&eacute;cnica e a veterana de sele&ccedil;&atilde;o brasileira Marisa Wahlbrink, popularmente conhecida como Maravilha, &eacute; a treinadora de goleiras. Os curr&iacute;culos somados seriam muitas p&aacute;ginas de experi&ecirc;ncia internacional e nacional e para resumir, s&atilde;o mais de 60 anos de experi&ecirc;ncia na modalidade.<br /> <br /> As contrata&ccedil;&otilde;es para as sele&ccedil;&otilde;es femininas continuaram em 2019. Ousando, a CBF contrata para a Sele&ccedil;&atilde;o de base Sub-20, o treinador Jonas Urias, um profissional com grande experi&ecirc;ncia nas equipes do futebol feminino brasileiro e a auxiliar t&eacute;cnica, J&eacute;ssica Lima que foi uma jogadora com enorme experi&ecirc;ncia no futebol feminino brasileiro, ao mesmo tempo em que atuava como treinadora de categorias de base nos clubes onde atuava.<br /> <br /> As novidades n&atilde;o param por a&iacute;, no dia 02/09/2020, a CBF realizou duas surpreendentes contra&ccedil;&otilde;es para a modalidade: Aline Pelegrine para treinadora e <a href="https://www.cbf.com.br/selecao-brasileira/noticias/index/duda-luizelli-e-a-nova-coordenadora-das-selecoes-brasileiras-femininas" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>Duda Luizelle, a nova coordenadora de Sele&ccedil;&otilde;es Femininas</i></u></span></a>. Duas veteranas da modalidade que j&aacute; atuavam com gestoras nas Federa&ccedil;&otilde;es Ga&uacute;cha e Paulista. Aline Pelegrine &eacute; ex-jogadora e capit&atilde; da Sele&ccedil;&atilde;o Brasileira e Duda, ex jogadora e gestora, tem o compromisso de comandar os bastidores das Sele&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Junto a essa importante not&iacute;cia, o ent&atilde;o presidente da entidade Rog&eacute;rio Cabloco anunciou que as sele&ccedil;&otilde;es masculinas e femininas ter&atilde;o a partir de 2020, a mesma &ldquo;di&aacute;ria&rdquo; (quantia paga em dinheiro a cada atleta pelos dias em que passam representando o pa&iacute;s) para os homens e mulheres, al&eacute;m da igualdade de premia&ccedil;&otilde;es nos Jogos Olimp&iacute;cos para os (as) atletas e comiss&atilde;o t&eacute;cnica. J&aacute; na Copa do Mundo, a sele&ccedil;&atilde;o masculina continuar&aacute; recebendo valores superiores, devido a proporcionalidade que a FIFA designa na competi&ccedil;&atilde;o para cada g&ecirc;nero. Segundo Caboclo, &ldquo;jogadoras recebem di&aacute;ria igual aos homens. Aquilo que elas ganharem por premia&ccedil;&atilde;o em Olimp&iacute;adas ser&aacute; o mesmo que homens. Copa do Mundo ser&aacute; igual proporcionalmente ao que a Fifa oferece. N&atilde;o h&aacute; mais diferen&ccedil;a de g&ecirc;nero. CBF est&aacute; tratando de forma equ&acirc;nime homens e mulheres&rdquo;. Essas not&iacute;cias pegaram a todos os &ldquo;amantes&rdquo; do futebol feminino de supresa, pois &eacute; a primeira vez na hist&oacute;ria que a entidade iguala a premia&ccedil;&atilde;o para as Sele&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Falando em figuras femininas no comando das equipes no campeonato brasileiro da S&eacute;rie A1 e A2, o site de not&iacute;cias GloboEsporte.com de 2019, realizou um levantamento de mulheres atuantes nas comiss&otilde;es t&eacute;cnicas e foi poss&iacute;vel encontrar nove treinadoras e mais 104 mulheres que atuaram e atuam nas mais diversas fun&ccedil;&otilde;es, um percentual de 30% dos integrantes que atuam direta e indiretamente nas equipes.<br /> <br /> Como ex-atleta da Sele&ccedil;&atilde;o Brasileira, pesquisadora e professora, tenho acompanhado nos &uacute;ltimos 20 anos uma grande evolu&ccedil;&atilde;o nesta modalidade no Brasil. Posso destacar os seguintes pontos positivos:<br /> <br /> <div style="margin-left: 40px;">&bull; Melhoras significativas na organiza&ccedil;&atilde;o dos calend&aacute;rios dos campeonatos nas equipes que atuam nas series A1 e A2;<br /> &bull; Organiza&ccedil;&atilde;o das equipes que est&atilde;o caminhando para uma poss&iacute;vel profissionaliza&ccedil;&atilde;o;<br /> &bull; Iniciativa da CBF em inovar trazendo mulheres para dentro das comiss&otilde;es t&eacute;cnicas (situa&ccedil;&atilde;o comum em pa&iacute;ses da Europa);<br /> &bull; Cria&ccedil;&atilde;o de campeonato para categoria de base a n&iacute;vel nacional.<br /> &bull; Equaliza&ccedil;&atilde;o de renumera&ccedil;&atilde;o de &ldquo;di&aacute;rias e premia&ccedil;&otilde;es&rdquo; &agrave;s Sele&ccedil;&otilde;es masculinas e femininas;</div> <br /> No entanto alguns pontos necessitam melhorar na modalidade:<br /> <br /> <div style="margin-left: 40px;">&bull; A grande maioria dos clubes n&atilde;o assinam carteira de trabalho das jogadoras, o que leva a continuidade do amadorismo, sem direitos trabalhistas;<br /> &bull; A cria&ccedil;&atilde;o de novas equipes sem planejamento o que impacta em instabilidade para as jogadoras;<br /> &bull; Falta de forma&ccedil;&atilde;o espec&iacute;fica para os membros das comiss&otilde;es t&eacute;cnicas, impactando em problemas organizacionais e t&eacute;cnico;<br /> &bull; Escassez de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas de incentivo &agrave; inicia&ccedil;&atilde;o esportiva da modalidade e falta de planejamento a longo prazo.<br /> &nbsp;</div> Mesmo com tantos pontos de evolu&ccedil;&atilde;o citados nessa linha do tempo, podemos concluir que no Brasil o futebol feminino ainda n&atilde;o &eacute; considerado um esporte promissor e que os gestores e investidores, ainda em muitos casos, consideram a categoria feminina apenas como &ldquo;produto pouco rent&aacute;vel&rdquo;. Ao contr&aacute;rio do que acontece em pa&iacute;ses mais desenvolvidos como Estados Unidos e alguns pa&iacute;ses da Europa, onde a modalidade &eacute; vista com um produto que &ldquo;vende&rdquo;.<br /> <br /> A esperan&ccedil;a dos f&atilde;s e torcedores do futebol feminino, &eacute; que nos pr&oacute;ximos artigos sobre a evolu&ccedil;&atilde;o na modalidade, sejam ainda mais gloriosos, extensos e significativos para meninas e mulheres que desejam praticar futebol no Brasil.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_marina-aggio_ex-atleta-selecao-brasileira-de-futebol.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="80" align="left" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Marina Toscano Aggio de Pontes</b></i> &eacute; ex-atleta da Sele&ccedil;&atilde;o Brasileira de Futebol e professora do curso de Educa&ccedil;&atilde;o F&iacute;sica do Centro Universit&aacute;rio Internacional Uninter.