A crise na Suprema Corte

14 de outubro de 2020 às 10:51

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
A soltura de Andr&eacute; do Rap, l&iacute;der do PCC (Primeiro Comando da Capital), determinada pelo ministro Marco Aur&eacute;lio e revogada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, abre mais uma crise dentro da suprema corte. Existem entre os ministros opini&otilde;es divergentes que poder&atilde;o ter repercuss&atilde;o. A prop&oacute;sito, aquela Casa vive, h&aacute; tempos, em inc&ocirc;moda notoriedade. Em vez da desej&aacute;vel discri&ccedil;&atilde;o, seus membros t&ecirc;m se envolvido em pol&ecirc;micas que abalam a imagem da institui&ccedil;&atilde;o. Tornou-se habitual a queixa de que ministros agem politicamente, imiscuem-se nos outros poderes e tomam decis&otilde;es discut&iacute;veis como, por exemplo, a revoga&ccedil;&atilde;o do pr&oacute;prio entendimento sobre pris&atilde;o em segunda inst&acirc;ncia, que possibilitou a soltura do ex-presidente Lula. O que mais tem causado ru&iacute;do &eacute; a decis&atilde;o monocr&aacute;tica. Um ministro, solitariamente, decide sobre atribui&ccedil;&otilde;es do Executivo e do Legislativo ou &ndash; o mais crucial &ndash; manda soltar presos tidos como perigosos, como o ocorrido agora.<br /> <br /> A decis&atilde;o de Fux e a cria&ccedil;&atilde;o pelo governador Jo&atilde;o D&oacute;ria da for&ccedil;a-tarefa de&nbsp; recaptura, n&atilde;o chegaram a tempo de garantir a devolu&ccedil;&atilde;o da Andr&eacute; &agrave; pris&atilde;o. O epis&oacute;dio tende a&nbsp; sangrar no STF pelo menos durante mais alguns dias. Da mesma forma que interferiu nessa quest&atilde;o, o presidente &ndash; que &eacute; o &uacute;nico ex-juiz de Direito entre os 11 ministros &ndash; deveria buscar mecanismos para evitar as espetaculosas decis&otilde;es monocr&aacute;ticas que colocam a corte na berlinda e levam questionamento ao comportamento dos seus membros. Para o bem geral, todas as decis&otilde;es deveriam ser tomadas em colegiado ou por c&acirc;maras compostas por um m&iacute;nimo de tr&ecirc;s ministros, com a data de julgamento pautada e de conhecimento p&uacute;blico.<br /> <br /> Diante do grande n&uacute;mero de feitos que abarrotam as prateleiras e arquivos, muitos deles aguardando por anos ou at&eacute; d&eacute;cadas, seria de grande valia ampliar para 33 o n&uacute;mero de ministros e dividi-los em 11 c&acirc;maras. E isso n&atilde;o seria nada fora de prop&oacute;sito, se considerarmos&nbsp; que o STJ (Superior Tribunal de Justi&ccedil;a), corte imediatamente abaixo do STF, possui 33 ministros, os Tribunais Regionais Federais tem 27 desembargadores (exceto o TFR-5- Recife, com 15. e o TRF-3 &ndash; S&atilde;o Paulo, com 43). Entre os Tribunais de Justi&ccedil;a dos Estados, encontramos S&atilde;o Paulo com 360 desembargadores, Rio de Janeiro 180, Minas Gerais 140, Paran&aacute; 145 e Bahia 60. O pr&oacute;prio STF j&aacute; teve forma&ccedil;&otilde;es diferentes da atual. Foi composto por 15 ministros na sua cria&ccedil;&atilde;o nos atuais moldes, pelo Decreto 510, de 22-06-1890. Em 1931, houve redu&ccedil;&atilde;o para 11, mas, com o Ato Institucional n&ordm; 2 de 1965, o n&uacute;mero de vagas foi alterado para 16. O Ato Institucional n&ordm; 6 de 1969 reduziu outra vez para 11, composi&ccedil;&atilde;o que se mant&eacute;m at&eacute; hoje.<br /> <br /> Evidente que, para isso ocorrer, ser&aacute; necess&aacute;ria uma reforma no Judici&aacute;rio. Nela tamb&eacute;m poder-se-ia alterar a forma de nomea&ccedil;&atilde;o dos ministros. Em vez da escolha pura e simples do presidente da Rep&uacute;blica mediante anu&ecirc;ncia do Senado, instituir o sistema de listas tr&iacute;plices onde a Magistratura, o Minist&eacute;rio P&uacute;blico e a Ordem dos Advogados do Brasil indiquem seus representantes para o presidente escolher, como j&aacute; ocorre na forma&ccedil;&atilde;o do STJ. Esse formato afastaria o car&aacute;ter pol&iacute;tico que hoje provoca turbul&ecirc;ncias e desconfian&ccedil;as, que s&atilde;o perniciosas quando atingem o STF, &uacute;nico poder institucional que n&atilde;o pode ter crise, pois dele&nbsp; depende toda a sociedade para modular suas quest&otilde;es e desfazer d&uacute;vidas. Tudo &eacute; poss&iacute;vel num pa&iacute;s em reformas...<br /> &nbsp;<br /> Por <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - <span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>aspomilpm@terra.com.br</u></i></span>