A derrota de Trump e o bolsonarismo

10 de novembro de 2020 às 19:39

Rodrigo Augusto Prando
Ao fim e ao cabo das elei&ccedil;&otilde;es americanas, com a vit&oacute;ria de Joe Biden, um sentimento tomou conta do Presidente Bolsonaro e dos bolsonaristas: medo. Apostaram, indevidamente, todas suas fichas em Trump. Deveriam - o presidente, seus filhos e ministros - manter a salutar dist&acirc;ncia diplom&aacute;tica e protocolar em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s elei&ccedil;&otilde;es de outra na&ccedil;&atilde;o. <br /> <br /> Trump foi, para a democracia norte-americana, um elemento nocivo. Assentou sua conduta, como candidato e como presidente, numa santa trindade das redes sociais: fake news - teorias da conspira&ccedil;&atilde;o - p&oacute;s-verdades. Pesquisadores apontaram que a comunica&ccedil;&atilde;o de Trump, pelas redes sociais, era, preponderantemente, de mentiras e distor&ccedil;&otilde;es. Soma-se a isso posturas anticient&iacute;ficas e negacionistas. Democratas - os que valorizam e defendem a democracia como valor inegoci&aacute;vel - do mundo todo, comemoraram a vit&oacute;ria de Biden e, agora, fazem chiste com a postura de Trump em n&atilde;o reconhecer a derrota e, ainda, de continuar com fake news, colocando em d&uacute;vida a legitimidade eleitoral e da pr&oacute;pria democracia estadunidense. Ademais, sua postura de tratar a pandemia com menoscabo tamb&eacute;m pesou na avalia&ccedil;&atilde;o dos americanos em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; Gest&atilde;o Trump, dado o enorme n&uacute;mero de contaminados e mortos.<br /> &nbsp;<br /> Bolsonaro e os bolsonaristas tornaram Trump seu totem, objeto sagrado, de culto e adora&ccedil;&atilde;o. Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, usou bon&eacute; da campanha de Trump. Ernesto Ara&uacute;jo, Chanceler, publicou artigo - antes de se tornar ministro - afirmando que Trump seria capaz de salvar a civiliza&ccedil;&atilde;o ocidental. Bolsonaristas, famosos e an&ocirc;nimos, fazem ecoar nas redes a teoria da conspira&ccedil;&atilde;o de que Trump foi vitorioso e as elei&ccedil;&otilde;es fraudadas. Ali&aacute;s, Bolsonaro afirmou ter provas de que a elei&ccedil;&atilde;o de 2018 foi fraudada, mas nunca as apresentou. <br /> <br /> A situa&ccedil;&atilde;o das rela&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas e diplom&aacute;ticas, com Biden na Casa Branca, devem, ao menos na quest&atilde;o ambiental, mudar de dire&ccedil;&atilde;o. Diferente de Trump, negacionista clim&aacute;tico, Biden trar&aacute; &agrave; tona uma agenda ambiental e j&aacute; deixou claro, em pronunciamento, estar atento &agrave; situa&ccedil;&atilde;o da Amaz&ocirc;nia. Certamente, estar&atilde;o na berlinda Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente, e Ernesto Ara&uacute;jo, ambos fortes membros da ala ideol&oacute;gica do governo. Haver&aacute;, por parte do governo brasileiro, uma a&ccedil;&atilde;o mais proativa e pragm&aacute;tica na diplomacia e rela&ccedil;&otilde;es comerciais ou a cartilha do olavismo continuar&aacute; na cabeceira dos ministros? At&eacute; o final de domingo, n&atilde;o haviam cumprimentado Biden pela vit&oacute;ria Kim Jong-Um (Coreia do Norte), Mohammad bin Salman (Ar&aacute;bia Saudita) e Bolsonaro - n&atilde;o parece ser boa companhia para a diplomacia nacional. <br /> <br /> Pairou no ar, aqui, no Brasil, a pergunta: teremos um Biden para disputar com Bolsonaro em 2022? N&atilde;o &eacute; t&atilde;o simples, pois n&atilde;o temos, apenas, Democratas e Republicanos como l&aacute;. Os partidos pol&iacute;ticos, seus l&iacute;deres e atores at&eacute; o momento n&atilde;o encontraram em nosso pa&iacute;s um denominador comum capaz de superar as diverg&ecirc;ncias que os separam em prol de uma vis&atilde;o conjunta que os una. O bolsonarismo sentiu o golpe. Est&aacute; com medo. Bolsonaro medrou. Come&ccedil;ou a ponderar que, em 2022, o desfecho n&atilde;o seja a reelei&ccedil;&atilde;o e sim uma derrota. A pol&iacute;tica est&aacute; aberta. Candidatos &agrave; reelei&ccedil;&atilde;o s&atilde;o, sempre, favoritos, no Brasil e nos EUA. Se o poderoso Trump, com seus milh&otilde;es de seguidores nas redes sociais e seus milhares de d&oacute;lares na conta banc&aacute;ria perdeu a elei&ccedil;&atilde;o, no voto popular e no col&eacute;gio eleitoral, tudo &eacute; poss&iacute;vel. <br /> <br /> Por <i><b>Rodrigo Augusto</b></i> <i><b>Prando</b></i> &eacute; professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ci&ecirc;ncias Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.<br />