O Brasil não quebrou, mas está a caminho e Bolsonaro precisa ser contido

06 de janeiro de 2021 às 17:22

Leonardo Attuch
A express&atilde;o &quot;<i><b>Brasil quebrado</b></i>&quot; n&atilde;o &eacute; algo que surpreenda. O Brasil quebrou nos anos 80, com o colapso da d&iacute;vida externa, quebrou no in&iacute;cio do governo Collor, com o calote na poupan&ccedil;a, e quebrou tr&ecirc;s vezes no governo Fernando Henrique Cardoso, com sucessivas idas ao Fundo Monet&aacute;rio Internacional.<br /> <br /> Quebrado estava, portanto, em janeiro de 2003, quando o ex-presidente Luiz In&aacute;cio Lula da Silva assumiu o cargo com muitas apostas, no mercado financeiro, de que seria &quot;Lula, o breve&quot;. Apostava-se que ele levaria o Pa&iacute;s a um novo calote internacional &ndash; o que jamais aconteceu. Ao contr&aacute;rio, Lula e sua equipe econ&ocirc;mica acabaram com a d&iacute;vida p&uacute;blica dolarizada, organizaram as contas externas, acumularam reservas e o Brasil viveu seu maior ciclo de prosperidade econ&ocirc;mica com democracia. O resultado foi a conquista do &quot;grau de investimento&quot;, selo de bom pagador, em consequ&ecirc;ncia da solidez tanto nas contas internacionais, como nas contas internas.<br /> <br /> Ap&oacute;s seu governo, a sucessora Dilma Rousseff enfrentou um quadro internacional mais desafiador, mas, ao contr&aacute;rio da farsa propalada pela imprensa corporativa, que foi parte decisiva no golpe de 2016, esteve longe de &quot;quebrar o Brasil&quot;. No per&iacute;odo em que efetivamente conseguiu governar, entre 2011 e dezembro de 2014, Dilma manteve produziu super&aacute;vits prim&aacute;rios, manteve a d&iacute;vida interna estabilizada e refor&ccedil;ou a pol&iacute;tica de acumula&ccedil;&atilde;o de reservas internacionais. Seus &quot;pecados&quot; foram entregar a menor taxa de desemprego da hist&oacute;ria e vencer uma reelei&ccedil;&atilde;o presidencial contrariando as expectativas do empresariado nacional e de grandes interesses internacionais &ndash; notadamente no setor do petr&oacute;leo. A recess&atilde;o a ela atribu&iacute;da nos anos seguintes deve-se a dois fatores: Lava Jato e sabotagem no Congresso.<br /> <br /> O Brasil come&ccedil;ou a quebrar, efetivamente, a partir do governo Temer/FHC, instalado em maio de 2016, e este processo se aprofundou a partir do governo Bolsonaro/Maia, que tomou posse em janeiro de 2019. Governo &quot;Temer/FHC&quot; porque Michel Temer foi, na verdade, fantoche do PSDB, num golpe orquestrado por Fernando Henrique Cardoso. Foi FHC quem indicou Pedro Parente para o comando da Petrobr&aacute;s, de onde resultou a maior crise do per&iacute;odo: a greve dos caminhoneiros, que foi consequ&ecirc;ncia da mudan&ccedil;a de pre&ccedil;os de combust&iacute;veis &ndash; uma exig&ecirc;ncia das petroleiras internacionais que foram aquinhoadas com a entrega do pr&eacute;-sal e dos campos nacionais de petr&oacute;leo. Al&eacute;m disso, com o &quot;teto de gastos&quot;, o Brasil praticamente zerou o investimento p&uacute;blico, ampliando ainda mais o desequil&iacute;brio fiscal por ter se tornado incapaz de crescer e, portanto, de aumentar a arrecada&ccedil;&atilde;o fiscal. A m&aacute;gica ret&oacute;rica de Temer para se proclamar &quot;respons&aacute;vel fiscal&quot; foi ampliar sua margem de manobra. Se a meta do Pa&iacute;s era pesar 100 quilos, com Temer passou a ser 200 quilos e bastava chegar a 199 para estar &quot;dentro da meta&quot; aprovada pelo Congresso.<br /> <br /> O resultado da desastrosa gest&atilde;o Temer/FHC foi o aumento significativo da d&iacute;vida interna e a continuidade da estagna&ccedil;&atilde;o econ&ocirc;mica. A prometida &quot;volta da confian&ccedil;a&quot; continuou a ser uma promessa. No entanto, alguns ca&iacute;ram no conto do vig&aacute;rio de que a confian&ccedil;a voltaria ent&atilde;o no governo do cons&oacute;rcio Bolsonaro/Maia. Sim, um cons&oacute;rcio, porque Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia s&atilde;o c&uacute;mplices no projeto de destrui&ccedil;&atilde;o do estado brasileiro. Bolsonaro por interesse, Maia por convic&ccedil;&atilde;o ideol&oacute;gica. Ambos d&atilde;o sustenta&ccedil;&atilde;o a Paulo Guedes, que defende a tese de que o avi&atilde;o Brasil deve voar com apenas uma turbina: a do setor privado, desligando-se completamente a do setor p&uacute;blico. O resultado est&aacute; a&iacute;: desemprego recorde, estagna&ccedil;&atilde;o econ&ocirc;mica e a infla&ccedil;&atilde;o rondando perigosamente.<br /> <br /> Ah, mas houve uma pandemia no meio do caminho. &Eacute; fato, mas foi ela que salvou o governo de seu pr&oacute;prio fracasso. Sem a covid-19, Bolsonaro n&atilde;o teria um &aacute;libi para atribuir sua pr&oacute;pria incompet&ecirc;ncia. E mesmo assim ele ainda n&atilde;o conseguiu quebrar completamente o Brasil. Recebeu mais de US$ 380 bilh&otilde;es em reservas e ainda tem cerca de US$ 350 bilh&otilde;es. O Brasil, mesmo mal administrado, &eacute; uma economia extremamente din&acirc;mica e resiliente. Mas se Bolsonaro e Maia n&atilde;o forem contidos, o projeto de destrui&ccedil;&atilde;o nacional iniciado por Temer e FHC ser&aacute; consumado, com o Brasil voltando aos bra&ccedil;os do Fundo Monet&aacute;rio Internacional ou aos calotes de d&iacute;vida do passado.<br /> <br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_leonardo-attuch_jornalista-e-editor-respons&aacute;vel-247.jpeg" alt="" width="60" hspace="3" height="80" align="left" />Por Leonardo Attuch &eacute; jornalista e editor-respons&aacute;vel pelo 247.<br /> <br /> Fonte:<br /> https://www.brasil247.com/blog/o-brasil-nao-quebrou-mas-esta-a-caminho-e-bolsonaro-precisa-ser-contido