A diplomacia do ataque e seus efeitos colaterais

22 de janeiro de 2021 às 10:34

Fernando Rizzolo
Certa vez, li um prov&eacute;rbio que dizia: &ldquo;O general que usa a diplomacia em vez da espada poupa mil vidas no campo de batalha&rdquo;, e de pronto me lembrei do que estamos passando no Brasil atualmente diante dessa pandemia provocada pelo v&iacute;rus chamado SARS-CoV-2, ou coronav&iacute;rus, que causa a doen&ccedil;a Covid-19. J&aacute; perdemos mais de 200.000 pessoas, que foram mortas pela inefic&aacute;cia do Poder P&uacute;blico, mas o que eu gostaria de refletir neste texto &eacute; a potencialidade de uma ideologia e a sua influ&ecirc;ncia na &aacute;rea diplom&aacute;tica num contexto de sa&uacute;de p&uacute;blica.<br /> <br /> O Brasil talvez seja o &uacute;nico pa&iacute;s de dimens&atilde;o continental a ser v&iacute;tima duplamente, quer dos efeitos da doen&ccedil;a, quer dos efeitos da irresponsabilidade ideol&oacute;gica recheada de preconceitos, animosidades, arrog&acirc;ncia e paranoia por parte do governo Bolsonaro. Sen&atilde;o vejamos. Em novembro de 2020, um dos filhos do presidente Bolsonaro criou um forte atrito com o governo chin&ecirc;s numa narrativa em que acusava o perigo de se fazer neg&oacute;cios com a China na &aacute;rea tecnol&oacute;gica, alegando que o pa&iacute;s asi&aacute;tico poderia nos &ldquo;espionar&rdquo; caso opt&aacute;ssemos pela tecnologia 5G. Na verdade, os atritos come&ccedil;aram na pr&oacute;pria campanha &agrave; presid&ecirc;ncia em 2018, do ent&atilde;o deputado Jair Bolsonaro, inspirado e completamente alinhado &agrave;s ideias rid&iacute;culas no tocante &agrave;s pol&iacute;ticas defendidas pelo presidente Donald Trump, que hoje, enfim, sabemos que nunca passou de um extremista perigoso. &nbsp;<br /> <br /> Outro protagonista de ataques &agrave; China foi o ex-ministro da Educa&ccedil;&atilde;o Abraham Weintraub, que afirmava na &eacute;poca que o pa&iacute;s asi&aacute;tico se beneficiaria com a crise da Covid-19. Al&eacute;m disso, debochou do sotaque chin&ecirc;s, comportamento que a embaixada chinesa recha&ccedil;ou e classificou como &ldquo;fortemente racista&rdquo;. Portanto, poderia aqui me ater a in&uacute;meros ataques do governo Bolsonaro n&atilde;o s&oacute; &agrave; China como a outros pa&iacute;ses e &oacute;rg&atilde;os internacionais, sempre achando que o presidente Donald Trump o apoiaria e socorreria em momentos de dificuldade, o que denota forte ingenuidade e falta de vis&atilde;o pol&iacute;tica, pois seria poss&iacute;vel prever sem muito esfor&ccedil;o que Trump poderia n&atilde;o ser eleito, o que fatalmente ocorreu.<br /> <br /> Internamente houve uma disputa pol&iacute;tica com rela&ccedil;&atilde;o &agrave; iniciativa do governador D&oacute;ria de negociar com a China para receber a vacina, o que na verdade ocorreu, e com &ecirc;xito. Contudo, sem insumos, sem n&uacute;meros de vacinas dispon&iacute;veis, sem um m&eacute;dico sequer &agrave; frente do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de, e com milhares de pessoas morrendo at&eacute; por falta de oxig&ecirc;nio, temos a dimens&atilde;o do problema que uma diplomacia &ldquo;capenga&rdquo; promovida pelo governo federal em todo seu mandato foi capaz de fazer. Isso evidentemente nos coloca numa situa&ccedil;&atilde;o de vulnerabilidade sanit&aacute;ria, em que a popula&ccedil;&atilde;o mais pobre, hipossuficiente, sofre com a falta de leitos, al&eacute;m do desemprego, que j&aacute; existia bem antes da pandemia.<br /> <br /> Talvez, como diz o ditado acima mencionado, a espada vinda de palavras cortantes est&aacute; cortando e ceifando vidas inocentes de pobres, negros, idosos, profissionais de sa&uacute;de que inadvertidamente votaram num grupo ideol&oacute;gico para evitar a volta do PT, como eu mesmo fiz, mas jamais poder&iacute;amos imaginar que a inabilidade diplom&aacute;tica poderia matar muito mais do que a fome, num pobre Brasil abandonado, afinal, &ldquo;o general que usa a diplomacia em vez da espada poupa mil vidas no campo de batalha&rdquo;. Precisamos encontrar esse tipo de general que n&atilde;o traz, enfim, &ldquo;efeito colateral&rdquo;...<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_fernando-rizzolo_advogado-jornalista-mestre-direitos-fundamentais.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Fernando Rizzolo</b></i> &eacute; advogado, jornalista, mestre em Direitos Fundamentais