As redes sociais e a falsa liberdade

24 de fevereiro de 2021 às 11:40

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
Surgidas com a imagem de territ&oacute;rio livre &ndash; aquele onde tudo pode &ndash; as redes sociais impuseram sua presen&ccedil;a no espectro antes ocupado com exclusividade pelos jornais, revistas, r&aacute;dio e televis&atilde;o, tornando-se gigantes. A inova&ccedil;&atilde;o foi t&atilde;o expressiva que hoje, a m&iacute;dia tradicional tamb&eacute;m &eacute; cliente da rede, que distribui eletronicamente suas publica&ccedil;&otilde;es (antes feitas no papel) e os sinais de r&aacute;dio e TV. Diz-se que somente o maior dos s&iacute;tios de procura fatura no Brasil mais do que o conjunto midi&aacute;tico. Desde o come&ccedil;o, governos e segmentos pol&iacute;ticos tentaram criar formas de controle da rede, mas isso foi classificado como censura (que no nosso pa&iacute;s e inconstitucional). Aos poucos, os segmentos pol&iacute;ticos foram aprendendo a fazer campanha pela rede. Muitos atribuem &agrave; rede so cial a vitoria do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, quando estava internado em decorr&ecirc;ncia d facada. N&atilde;o ignoremos, no entanto, que pelo menos parte da vit&oacute;ria pode ter vindo da natural solidariedade popular ao agredido.<br /> <br /> O certo &eacute; que, num fen&ocirc;meno mundial, as redes sociais tornaram-se ambiente de extremada milit&acirc;ncia pol&iacute;tica, social e de costumes. Encontra-se de tudo nas redes. E, de tempos para c&aacute;, o que era o suposto territ&oacute;rio livre, passou a sofrer restri&ccedil;&otilde;es dos operadores. Aquilo que postamos na rede passa pelo crivo tecnol&oacute;gico de algoritmos e, em vez de ir para toda a comunidade, &eacute; entregue apenas a segmentos. Isso &eacute; uma forma de censura que, repetimos, no Brasil &eacute; inconstitucional. A Primavera &Aacute;rabe, que trouxe instabilidade pol&iacute;tica e social e at&eacute; revolu&ccedil;&otilde;es em pa&iacute;ses do Oriente M&eacute;dio e do norte da &Aacute;frica, teve a mobiliza&ccedil;&atilde;o popular atrav&eacute;s das redes sociais e o mesmo ocorre na Europa e Estados Unidos. A campanha presidencial americana do ano passado teve excessos na rede e terminou com o banimento do ex-presidente Donald Trump das diferentes aplica&ccedil;&otilde;es. No Brasil temos at&eacute; um discut&iacute;vel inqu&eacute;rito de &ldquo;atos antidemocr&aacute;ticos&rdquo; em curso no Supremo Tribunal Federal. O presidente da Rep&uacute;blica reclama de censura de suas publica&ccedil;&otilde;es, pelas operadoras.<br /> <br /> Precisamos compreender que territ&oacute;rio livre &eacute; uma das mais patentes utopias. As redes sociais, que durante muito tempo posaram como isentas, hoje se portam como editoras de m&iacute;dia tradicional, definindo o que pode e o que n&atilde;o pode ser publicado. Nada contra, se essa for a op&ccedil;&atilde;o dos seus controladores. Mas eles n&atilde;o podem continuar posando de isentos. T&ecirc;m de ser submetidos ao mesmo regime que pesa sobre os detentores de jornais, revistas, r&aacute;dios e TVs,&nbsp; assumindo as responsabilidades pelo material que veiculam, al&eacute;m de se sujeitar &agrave;s normas e legisla&ccedil;&otilde;es locais pois, com a nova postura, tornam-se ve&iacute;culos de comunica&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> As facilidades criadas pela tecnologia da internet e dos seus aplicativos nos conduzem a um mundo novo e de fronteiras cada dia mais pr&oacute;ximas. Mas as na&ccedil;&otilde;es e, especialmente, suas sociedades t&ecirc;m de criar mecanismos para evitar que o uso predat&oacute;rio das novas ferramentas promova o desequil&iacute;brio e ensejem a pr&aacute;tica de atrocidades e crimes que deslustram a sociedade e desestruturam a ordem social, pol&iacute;tica, econ&ocirc;mica e institucional. Em vez de criticar governos que controlam a rede, n&oacute;s, brasileiros, dever&iacute;amos nos ocupar da cria&ccedil;&atilde;o de normas para seus operadores seguirem sem predar a legisla&ccedil;&atilde;o, os costumes e, principalmente, os interesses maiores da comunidade. N&atilde;o queremos a censura pr&eacute;via, mas tamb&eacute;m n&atilde;o podemos continuar assistindo ao debate bestial e destrutivo que hoje se verifica no &acirc;mbito das redes sociais. Ningu&eacute;m pode ter liberdade para desmerecer, agredir, menosprezar e prejudicar seus opositores ou desafetos sem que isso lhes renda as devidas reprimendas. &Eacute; por isso que, at&eacute; por uma quest&atilde;o de seguran&ccedil;a, quando temos de tomar nossas decis&otilde;es pessoais ou empresariais, o aconselh&aacute;vel &eacute; nos valer das informa&ccedil;&otilde;es da m&iacute;dia tradicional, que tem sua hist&oacute;ria, respeitabilidade e, principalmente, profissionais e dirigentes que se responsabilizam pelo material publicado. &nbsp;<br /> <br /> Precisamos de uma legisla&ccedil;&atilde;o justa e consistente para as redes sociais. Elas n&atilde;o podem continuar como panac&eacute;ia nem utopia de uma falsa liberade.<br /> <br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <b><i>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</i></b> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br <br />