Armar a população não é a melhor solução!

24 de fevereiro de 2021 às 11:41

Renata Abreu
Quem adquire arma de fogo diz que &eacute; para defesa pessoal, sob alega&ccedil;&atilde;o que essa necessidade &eacute; fruto do meio social em que vivemos. Respeito, mas n&atilde;o concordo. Para mim, armar a popula&ccedil;&atilde;o passa longe de ser a melhor solu&ccedil;&atilde;o. E admito: tenho pavor de armas! <br /> <br /> N&atilde;o fa&ccedil;o parte apenas do coro dos descontentes com as recentes medidas do governo federal que facilitam ainda mais o acesso a armas e muni&ccedil;&otilde;es. Eu tamb&eacute;m engrosso o coro dos preocupad&iacute;ssimos com as altera&ccedil;&otilde;es anunciadas, aumentando de quatro para seis a quantidade de armas que uma pessoa pode comprar. E quem tem porte, sair de casa com duas armas. Se j&aacute; me assusta uma arma na m&atilde;o, imagine duas m&atilde;os armadas na rua e seis dentro de casa! Pr&aacute; qu&ecirc; tantas armas? <br /> <br /> Segundo a PF, no ano passado foram registradas 179.771 novas armas na categoria cidad&atilde;o, aumento de 91% ante o registrado em 2019 (80.613). Qualquer pessoa que tenha dinheiro para pagar um registro e comprar arma pode ter uma arma. Ou seis, conforme o decreto governamental recentemente divulgado. <br /> <br /> Ah, mas para adquirir uma arma de fogo, a pessoa ter&aacute; de passar por um processo rigoroso, com v&aacute;rias aulas, provas, exames psicol&oacute;gicos, vida pregressa e por a&iacute; vai. Depois disso, ela estar&aacute; preparada emocionalmente para apertar o gatilho em defesa pessoal. S&eacute;rio isso? Sinceramente, desconfio que mais armas ir&atilde;o parar na criminalidade. At&eacute; Jair Bolsonaro, com todo o seu treinamento militar, durante um assalto preferiu, acertadamente, n&atilde;o partir para o confronto e entregou sua pistola Glock 380 para o bandido. <br /> <br /> Tem muita gente por a&iacute; que &eacute; pavio curto, que age impulsivamente e tem dificuldades de controlar a agressividade, pois sua a&ccedil;&atilde;o &eacute; mais r&aacute;pida do que seu pensamento. Com uma arma na m&atilde;o, a pessoa se sente corajosa e poderosa, e vai acabar provocando mais trag&eacute;dias. <br /> <br /> Lembro-me de um epis&oacute;dio ocorrido com um conhecido. Ele aguardava vaga para estacionar numa rua, de olho pelo retrovisor num carro em manobra. Quando esse ve&iacute;culo saiu, ele mal teve tempo de engatar a r&eacute; e o espa&ccedil;o foi ocupado por outro autom&oacute;vel. Pegou uma arma no porta-luvas e com ela em punho foi na dire&ccedil;&atilde;o do &lsquo;espertinho&rsquo;. Chegou a apontar o rev&oacute;lver para o motorista, mas, ao olhar para o banco traseiro, viu uma crian&ccedil;a na cadeirinha. Foi um choque. P&ocirc;s as m&atilde;os na cabe&ccedil;a e come&ccedil;ou a chorar. Faltou pouco para que mais uma briga de tr&acirc;nsito terminasse em trag&eacute;dia por quem tinha uma arma ao alcance. <br /> <br /> Assim que os decretos do presidente da Rep&uacute;blica para facilitar o acesso a armas foram anunciados, pensei na viol&ecirc;ncia dom&eacute;stica. Temos lutado tanto para diminuir os &iacute;ndices de feminic&iacute;dio, com projetos de lei e novas leis que protejam mais as mulheres e que levem &agrave; erradica&ccedil;&atilde;o do machismo estrutural no pa&iacute;s. Muitas mulheres morrem por for&ccedil;a de conflitos dom&eacute;sticos. A flexibiliza&ccedil;&atilde;o da posse de arma de fogo ir&aacute; potencializar o risco de mortes se o agressor tiver f&aacute;cil acesso a um rev&oacute;lver ou pistola. <br /> <br /> Pensei tamb&eacute;m nos suic&iacute;dios num pa&iacute;s que convive com &iacute;ndices crescentes de depress&atilde;o. Como o suic&iacute;dio costuma ser um ato impulsivo, o meio estando &agrave; m&atilde;o contribui. <br /> <br /> Armar a popula&ccedil;&atilde;o para que ela se defenda da viol&ecirc;ncia s&oacute; demonstra que estamos falhando como Na&ccedil;&atilde;o, jogando no colo do cidad&atilde;o uma responsabilidade que &eacute; dos governantes. N&atilde;o precisamos de mais armas, mas de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas eficientes que reduzam os elevados &iacute;ndices de criminalidade registrados pelos quatro cantos do pa&iacute;s. <br /> <br /> <img src="/uploads/image/img_renata-abreu_deputada-federal-sp_podemos.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Renata Abreu</b></i> &eacute; presidente nacional do Podemos e deputada federal por S&atilde;o Paulo <br />