A Igreja e seus desafios

23 de março de 2021 às 10:45

Flávio Crepaldi
Como organismo vivo, divino e humano, o Corpo M&iacute;stico de Cristo chamado Igreja &eacute; uma ponte entre a eternidade e a atualidade. Deve ser fiel &agrave; sua origem sem se desconectar com o tempo presente e preservar o que &eacute; enquanto est&aacute; na hist&oacute;ria. Deste &ldquo;ser&rdquo; e &ldquo;estar&rdquo; emergem dois desafios intimamente conectados: da identidade e do di&aacute;logo. Ela tem uma identidade clara: &eacute; a Arca da Alian&ccedil;a ou Dep&oacute;sito da F&eacute;. Entende-se que seus preceitos b&aacute;sicos n&atilde;o foram constru&iacute;dos por homens, mas concedidos por Deus. Embora sob constante press&atilde;o, &agrave; Igreja compete entender o que &eacute; essa verdade revelada e zelar por sua integridade.<br /> <br /> Na pr&aacute;tica, nem os Bispos ou o Papa possuem autonomia para certas mudan&ccedil;as. Na encantadora linguagem b&iacute;blica, eles n&atilde;o passam do &ldquo;amigo do noivo&rdquo;, respons&aacute;veis por levar a Igreja-noiva inc&oacute;lume at&eacute; seu verdadeiro esposo, o Cristo. Pode o amigo do noivo usufruir, manchar, adulterar ou submeter a si mesmo a noiva? N&atilde;o pode! &Eacute; seu dever preserv&aacute;-la e adorn&aacute;-la com os ornamentos preparados pelo seu esposo.<br /> <br /> No entanto, faz parte desta nossa &ldquo;atualidade&rdquo; um questionar-se sobre a pr&oacute;pria identidade como se fosse mais relacionada ao &ldquo;estar&rdquo; do que ao &ldquo;ser&rdquo;. Esse ambiente vol&aacute;til gera o grande desafio do di&aacute;logo interno e externo.<br /> <br /> Rumo ao di&aacute;logo externo atrav&eacute;s do Ecumenismo e do Di&aacute;logo Inter-Religioso, passos importantes foram dados no s&eacute;culo XX: entendeu-se que dialogar n&atilde;o &eacute; perder sua pr&oacute;pria identidade, n&atilde;o significa abrir concess&otilde;es e alterar sua pr&oacute;pria f&eacute;, deformando-se ou sendo deformado. Nem excluir o diferente. S&atilde;o Paulo lembra que devemos suportar-nos uns aos outros (Ef 4,2 - Cl 3,13), mesmo que pensemos ou vivamos sob outros princ&iacute;pios.<br /> <br /> Como membros de uma &uacute;nica fam&iacute;lia humana, nem sempre nos ser&aacute; agrad&aacute;vel o pr&oacute;prio irm&atilde;o, o cunhado ou a sogra&hellip; Entretanto, respeito &eacute; fundamental, inegoci&aacute;vel e precisa ser rec&iacute;proco. N&atilde;o se trata de promover guerras &ldquo;santas&rdquo; para obrigar a ades&atilde;o &agrave; uma f&eacute; que n&atilde;o pertence ao outro, mas, sim, de procurar fraternidade e coopera&ccedil;&atilde;o para se construir uma sociedade mais igualit&aacute;ria e mais humana.<br /> <br /> Entende-se que, do ponto de vista cat&oacute;lico, a busca por uma sociedade ideal n&atilde;o &eacute; sua principal meta. A Igreja existe para al&eacute;m disso. Mas, n&atilde;o se adorna como esposa se n&atilde;o imitar a Cristo tamb&eacute;m no seu cuidado e aten&ccedil;&atilde;o para com todos, humildes ou privilegiados.<br /> <br /> O di&aacute;logo interno, por outro lado, sofre duros golpes. Crescem os grupos que procuram ser os verdadeiros deposit&aacute;rios da f&eacute;, aut&ecirc;nticos int&eacute;rpretes de Deus e ju&iacute;zes dos acontecimentos. Questionam a hierarquia, sugerindo que em alguns momentos pode estar de acordo com a revela&ccedil;&atilde;o e em outros, n&atilde;o. Contrap&otilde;em documentos atuais a outros documentos de outras &eacute;pocas e circunst&acirc;ncias.<br /> <br /> Nessa press&atilde;o de fragmenta&ccedil;&atilde;o, cumpre aos leigos e religiosos refazerem humildemente o caminho do di&aacute;logo. Poder&iacute;amos come&ccedil;ar com algumas perguntas bem pessoais: Tenho autoridade real para direcionar, questionar e propor mudan&ccedil;as? Quais frutos meu &ldquo;apostolado&rdquo; tem gerado? Santidade e convers&atilde;o ou &oacute;dio e provoca&ccedil;&otilde;es? Uso a autoridade que me foi concedida para levar as pessoas a Deus ou para promover somente ideias sociais, pol&iacute;ticas e econ&ocirc;micas? Tenho sido um &ldquo;outro Cristo&rdquo;?<br /> <br /> Se lembrarmos que n&atilde;o seremos &ldquo;julgados pela hist&oacute;ria&rdquo;, mas por Aquele mesmo do qual nos arrogamos ser fidel&iacute;ssimos mensageiros, talvez isso seja motivo suficiente para que tenhamos um pouco mais de cuidado com as palavras que usamos e que deveriam n&atilde;o nos pertencer.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_flavio-crepaldi_colaborador-fundacao-joao-paulo-II.JPG" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por<b> <i>Fl&aacute;vio Crepaldi</i> </b>&eacute; colaborador da Funda&ccedil;&atilde;o Jo&atilde;o Paulo II e colunista do Canal Forma&ccedil;&atilde;o, no Portal: <a href="http://cancaonova.com" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>cancaonova.com</i></u></span></a><br />